O Som da Cor
Mu, tecladista da Cor do Som, um dos principais grupos do pop/rock nacional, mostra sua faceta como pintor. Já sua banda toca no Sesc Belenzinho

A pintura foi a primeira paixão do carioca Maurício Magalhães de Carvalho. Até os quinze, ele alternava sua função de mestre das tintas diletante com o tamborilar no piano da mãe. A música, no entanto, falou mais alto. Maurício virou Mu e passou a integrar A Cor do Som, quinteto que combinou, de modo exemplar, os ritmos regionais brasileiros com o rock. Porém, sete anos atrás, Mu retomou sua primeira paixão. A mulher do músico o presenteou com uma caixa de tintas e pinceis, compradas em segredo durante uma viagem do casal a Paris. Mu voltou a pintar, com o incentivo de amigos como o artista plástico Gonçalo Ivo. O instrumentista se dedicou tanto à primeira paixão que hoje estreia sua primeira grande mostra de quadros na Galeria Caribé, em São Paulo (Rua João Lourenço, 79, Vila Nova Conceição). Batizada de MÚsica, ela traz 31 telas do instrumentista e pintor carioca.
As obras de Mu são abstratas e com predominância de cores fortes. Entre elas, há fortes referências ao universo musical: é o caso de Rhapsody in Blue, que faz menção à criação de George Gershwin, e que tem uma linda tonalidade azul; Retrato em Branco e Preto, pintura a óleo cujo título nasceu da composição de Tom Jobim e Chico Buarque, ou While My Guitar Gently Weeps, logicamente inspirada na música de George Harrison. Outras pinturas têm títulos criados a partir de obras de outros músicos famosos, como o jazzista Miles Davis e o Beatle Paul McCartney. Muitas vezes, a música serve de inspiração para os quadros, mas acima de tudo para as suas composições. “Kind of Blue, de Davis, me inspira a compor.”
A passagem do tecladista, compositor e agora pintor pela cidade coincide com duas apresentações da Cor do Som na capital. O grupo toca sexta, dia 25, e sábado, dia 26, no Sesc Belezinho (Rua Padre Adelino, 1000, Belenzinho, telefone 2076 9700). O mote dos shows são os 40 anos de surgimento d’A Cor do Som. O grupo inicialmente era um projeto paralelo dos Novos Baianos cujo baixista, Dadi, é irmão de Mu. Quando Dadi saiu do conjunto, ele levou consigo o nome A Cor do Som. O baixista então reuniu Mu, o guitarrista Armandinho Macedo (filho de Osmar Macedo, um dos criadores do trio elétrico) e o baterista Gustavo Schroeter, músico de pegada mais roqueira. Pouco depois, o grupo receberia a adição do percussionista Ary Dias. A Cor do Som exibiu uma diversidade musical poucas vistas na cena pop/rock brasileira. Seus discos iam do chorinho ao rock, do blues ao forró, do rock progressivo ao afoxé, do samba ao clássico. Inicialmente instrumental, A Cor do Som passou a incluir vocais a partir do seu terceiro disco, Frutificar, cuja faixa-título é um lindo tema que evoca desde Rick Wakeman (do Yes, que flertava com a música erudita) à força da percussão baiana. Frutificar foi também o disco que levou o quinteto para o topo das paradas – graças a composições como Beleza Pura, de Caetano Veloso, e Abri a Porta, forró de Gilberto Gil e Dominguinhos que virou uma balada na voz de Dadi. De 1979 a 1982, eles foram a cara do pop nacional brasileiro nas paradas.

Mu, Armandinho, Dadi, Gustavo e Ary retomaram as atividades de A Cor do Som no início da década passada – embora tenham ensaiado um outro retorno no ano de 1996. O disco em comemoração às suas quatro décadas de existência tem participação de agregados da primeira hora, como Gilberto Gil e o grupo Roupa Nova (cujo hit Sapato Velho é uma parceria de Mu com o compositor Claudio Nucci), artistas influenciados pelo grupo (os reggaemen do Natiruts) e Djavan, um antigo sonho de consumo do quinteto. Por ora, esses convidados estarão fora das apresentações em São Paulo. Mas isso não deverá ser problema. Seja tocando, cantando – e no caso de Mu – pintando, a Cor do Som ao vivo é uma experiência inigualável.