O Elton John brasileiro
Foi assim que Guilherme Arantes foi saudado em seu primeiro disco. Ele irá tocar o álbum na íntegra em show no Sesc Belezinho (São Paulo) nos dias 18, 19 e 20 de dezembro

Em 1976, Guilherme Arantes era um jovem – e as palavras são dele – “à beira do suicídio”. Massacrado pelo pai, que queria que o filho terminasse a faculdade de arquitetura, ele sofreu um baque com o término do Moto Perpétuo, banda na qual tocava piano e cantava, e que era influenciada pelo rock progressivo. O cenário musical daquele período era pouco alentador: caso não quisesse fazer MPB de protesto ou samba, teria de adentrar no universo dos popstar brasileiros que adotavam pseudônimo em inglês e interpretavam canções na língua de Shakespeare – entre os casos mais famosos estão Marc Davis, codinome de Fábio Júnior, e Don Elliot, nome de guerra do sertanejo Ralf. Foi um desses gringos de laboratório, no entanto, o responsável pelo início da carreira de Guilherme Arantes. Certo dia ele adentrou no escritório de Otávio Augusto Cardoso, então diretor artístico da Som Livre, e que nos programas de auditório e trilhas sonoras de novela era conhecido como Pete Dunaway. Arantes contou a história do Moto Perpétuo, pediu uma chance para o executivo escutar seu trabalho e mostrou Meu Mundo e Nada Mais, composição que tinha escrito em 1968. “Eu tinha a certeza de ter encontrado o Elton John brasileiro”, diz Cardoso. No mesmo dia, ele viajou para o Rio de Janeiro e mostrou a música para o diretor de novelas Daniel Filho. Este, por sua vez, escalou Meu Mundo e Nada Mais na trilha da novela Anjo Mau. O passo seguinte foi a gravação do álbum solo de Arantes. Trabalho que será recriado entre os dias 18 e 20 de dezembro no Sesc Belezinho, em São Paulo, e cuja venda de ingressos se inicia na noite do dia 8 (maiores informações sobre preço e disponibilidade aqui https://www.sescsp.org.br/programacao/78344_GUILHERME+ARANTES#/content=saiba-mais)
Guilherme Arantes, o disco, foi gravado com a intenção de transformar o cantor paulistano numa versão brasileira e menos bufante de Elton John. “Todo momento pediam para eu ‘fazer Elton’. Era a senha para dedilhar mais o piano, a exemplo do que o cantor e instrumentista inglês fazia em Your Song”, diz Arantes. Essa influência que fica marcante não apenas em Meu Mundo…, como também nas canções Águas Passadas ou o tamborilar de piano de Lamento lhe Encontrar tão Triste. Mas através do disco tem-se um retrato mais pop do rock paulistano dos anos 1970, tão enamorado dos grupos progressivos e do hard rock reinante daquele período – e que sempre são esquecidos nas matérias revisionistas que se fazem desse período. Canções como Pégaso Azul, Nave Errante. O que o tornou diferente de qualquer outro álbum lançado naquele período era seu lado pop, que o fazia ser compreendido tanto pelo roqueiro paulistano quanto pelo público de rádio AM. E nesse categoria, o álbum reúne algumas das melhores composições do pianista: Cuide-se Bem (que foi regravada exemplarmente pelo grupo paulistano Pedra), que segundo Cardoso foi uma “montagem” de diferentes composições de Arantes, A Cidade e a Neblina, que o cantor e pianista fez inspirado em suas andanças pela cidade de São Paulo e Descer a Serra (Sorocabana). E, claro, Meu Mundo e Nada Mais, que recebeu uma versão linda de Adriana Calcanhotto.
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Guilherme Arantes foi o passo inicial de uma carreira que completa 40 anos em 2016. E que terá direito a uma caixa de CDs, documentário e tudo o que um hitmaker dessa expressão tem direito. Depois, Arantes diz que vai virar “progressivão total. Vou gravar meu Dark Side of the Moon!”
Aqui, o Pedra em Cuide-se Bem
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E o disco de estreia de Guilherme Arantes
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