
Romaria tocou. E tocou. E tocou. E tocou. E tocou. Primeiro, na voz de Elis Regina, que a gravou em seu disco de 1977, que tinha canções igualmente fortes como Caxangá (Milton Nascimento e Fernando Brandt), Transversal do Tempo (João Bosco e Aldir Blanc) e Cartomante (Ivan Lins e Vitor Martins). Depois na voz de seu autor, o cantor e compositor Renato Teixeira. Ele tinha sido gravado anteriormente por Roberto Carlos e Gal Costa, mas nada se compara ao sucesso de Romaria. Mesmo porque poucas interpretações de suas composições são tão impactantes quanto à leitura de Elis para a canção: um hino de fé, que se assemelha a uma oração apaixonada, dessas que a gente vê nos documentários sobre Aparecida do Norte (e curiosamente, a versão de Teixeira é totalmente diferente, lembra mais a de um romeiro cansado que chega à cidade para dar seu testemunho). O sucesso do caipira pira pora impulsionou a carreira de Renato Teixeira, santista criado em Taubaté – cidade que lhe deu uma sólida formação musical no canto sertanejo. Vieram canções como Cavalo Bravo, Frete (tema do seriado Carga Pesada), Tocando em Frente (parceria com Almir Sater, gravada por Maria Bethânia). E vieram muitas críticas. Quando apresentou Ilumina, no MPB Shell, foi criticado por Carlos Imperial que escreveu que aquele cara “deveria estar num festival de música caipira, não num festival de MPB.” “E a canção nem era caipira, era uma valsa”, defende-se o autor. Teixeira nunca se incomodou com o rótulo caipira, mas encontrou uma solução para evitar esse tipo de queixume. Ele define sua música como folk. E a exemplo de bandas americanas como Crosby Stills & Nash, que casaram a música rural de seu país com o rock, Teixeira fez um cruzamento das sonoridades do interior de São Paulo com a música contemporânea brasileira.
O meu primeiro encontro com Renato Teixeira se deu no restaurante de seu empresário, Airton Valadão Jr. Foi aquele almoço que duraria uma hora, uma hora e meia. Mas durou três tantos foram os causos que Teixeira contou, tantas foram as informações musicais que ele compartilhou naquela mesa. E quando iniciamos a nova fase do VEJA Música, eu sabia desde já que era impossível resumir a carreira e as histórias desse compositor num bloco de apenas meia hora. Fizemos um programa de dois blocos, nos quais ele falou da carreira, da parceria artística com Sérgio Reis e nos brindou com duas releituras especiais: Marina, de Dorival Caymmi, e Quando Eu Me Chamar Saudade, de Nelson Cavaquinho. Com vocês, Renato Teixeira.
https://veja.abril.com.br/multimidia/video/renato-teixeira-de-roberto-carlos-ao-caipira-pira-pora