Último mês: Veja por apenas 4,00/mês
Imagem Blog

VEJA Música

Por Sérgio Martins Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Música sem preconceito: de Beethoven a Pablo do arrocha, de Elis Regina a Slayer
Continua após publicidade

Da loucura e da genialidade de Brian Wilson

Beach Boys - Uma História de Sucesso fala dos traumas do cantor e compositor americano disfarçados de história de amor

Por Sérgio Martins Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 30 jul 2020, 22h54 - Publicado em 26 abr 2016, 12h43

 

 

850xNUm velho clichê no jornalismo cultural professa que “existe uma linha tênue que separa a genialidade da insanidade”. Brian Wilson, de 73 anos, nunca soube a diferença entre uma coisa e outra. O cantor e principal compositor dos Beach Boys, um dos grupos que definiram a música pop dos anos 1960, ele sempre viveu essas duas situações ao mesmo tempo. Wilson é um prato cheio para psicanalistas (tanto que foi explorado por um, como veremos mais tarde). Quando criança, levou tanto catiripapo do pai nas orelhas que perdeu a audição do ouvido direito – nos últimos tempos, no entanto, negou que o problema tenha sido causado por violência doméstica. No auge da carreira, teve um colapso nervoso durante um vôo, o que mais tarde seria diagnosticado como esquizofrenia. Usuário de drogas de diferentes tamanhos, tipos e efeitos, o líder dos Beach Boys foi passado por trás por familiares, amigo e associados. Hoje em dia, embora tenha se livrado do vício (pelo menos dos aditivos não liberados pelo conselho de medicina americano), Wilson se tornou um zumbi: é atormentado por vozes na sua cabeça que sugerem que ele se mate e anda acompanhado por um aparelho, no qual uma gravação ordena qual a hora certa de caminhar, chamar o elevador, apertar o botão no andar certo etc. Nos shows, um teleprompter lhe mostra as letras dos seus maiores sucessos e existe até uma marcação que lhe ensina onde se posicionar para receber o abraço de seus amigos de grupo. Musicalmente, Brian Wilson ajudou a desenhar a música pop dos anos 60. “Eles eram a América quando todos queriam ser a América”, definiu muitíssimo bem o ator e músico John Stamos, quando anunciou o show da formação original dos Beach Boys no festival de jazz de Nova Orleans, em 2012. O quinteto formado por Brian, seus irmãos Carl e Dennis (guitarra, bateria e vocais), o primo Mike Love (vocais) e o amigo Al Jardine (guitarra e vocais) foi uma boa combinação de grupos vocais da década de 40 com o rock de Chuck Berry. A surf music, gênero musical no qual os Beach Boys foram incluídos, era a trilha escapista ideal para um Estados Unidos com a economia em crescimento, porém sob a ameaça da Guerra Fria e do Vietnam. Wilson deixou os protestos para Bob Dylan e Joan Baez (ainda que a morte de John Kennedy tenha gerado a linda balada The Warmth of the Sun) e cantou sobre carrões e as meninas que tostavam sob o sol da Califórnia. A maturidade chegou, mas Wilson preferiu se interiorizar a tratar dos problemas políticos da América e do mundo. Pet Sounds (1966), principal disco do quinteto (ou sexteto, visto que o tecladista e vocalista Bruce Johnston substituiu Wilson nas turnês) é um trabalho belo e dilacerante sobre as responsabilidades da idade adulta, brigas familiares e demonstra uma certa inadequação com o mundo em que ele vivia. Embora tenha sido criticado pelos outros integrantes dos Beach Boys, acabou influenciando os Beatles na feitura de Revolver (1966) e Sgt. Pepper’s (1967), além de gerar outro clichê. Toda banda que supostamente muda sua sonoridade – especialmente as brasileiras – cita a revolução que os Beach Boys promoveram em Pet Sounds como fonte de referência, embora nunca cheguem perto da genialidade expressa naquele disco. Para Smile, o álbum posterior, Brian Wilson pensou em criar uma nova sinfonia americana, inspirado nos modernistas Aaron Copland (1900-1990) e George Gershwin (1898-1937). Consumido pela loucura, no entanto, ele abandonou a obra e só a completou 37 anos depois. Smile soa vanguardista até nos dias de hoje, com melodias que passam ao largo do pop acessível dos Beach Boys e intrincadas partes orquestrais.

love-mercy

No jornalismo, essa longa introdução é normalmente chamada de nariz de cera. Mas era necessário contar um pouco sobre o personagem dessa coluna antes de passarmos para o assunto principal. Eis o lead: está à venda, nas melhores lojas do ramo, o DVD Beach Boys – Uma História de Sucesso (Love & Mercy; Estados Unidos, 2014), que conta uma parte importante da trajetória pessoal e profissional de Brian Wilson. O título é enganoso, visto que não se trata da biografia dos Beach Boys, muito menos no período de maior êxito comercial de banda. Na verdade, a produção dirigida por Bill Pohlad mostra o embate do cantor e compositor com os integrantes da banda para dar vida a Pet Sounds e do esforço de Melinda, hoje mulher de Wilson, em tirá-lo das garras do psiquiatra Eugene Landy (Paul Giamatti, com toda a sabujice a qual tinha direito), que embora tenha livrado o beach boy das drogas o transformou numa criatura dependente e autômata. Landy chegou até a se proclamar parceiro de Wilson num disco chamado Sweet Insanity (que nunca foi lançado) e ter direito a 25% de suas canções. O imbróglio resultou num processo no qual o médico perdeu o direito de clinicar.

Beach Boys – Uma História de Sucesso é um grande tratado musical disfarçado de história de amor. Vamos ao romance: Melinda, uma vendedora de carros, conhece Brian Wilson. Os dois se apaixonam. Ela se incomoda com a ingerência do doutor Landy sobre seu amado e luta para livrá-lo das garras do mau profissional. Consegue, não sem antes ser ameaçada pelo psiquiatra malvado e apelar para a família de Wilson. Os dois terminam juntos e os letreiros dos créditos finais avisa que eles estão casados até hoje. Não há muito aprofundamento na relação de Brian e Melinda com a família do beach boy (que chegou a interceder a favor dela contra Landy). Muito menos mostra que o médico, antes de se deslumbrar com o dinheiro que poderia tirar de seu cliente famoso, o tratou de maneira séria. Mas publique-se a lenda, não? O que importa, no entanto, é o que é mostrado entre um beijo e outro. Há cenas de Brian Wilson criando Pet Sounds ao lado da Wrecking Crew, grupo de músicos dos estúdios de Los Angeles que tocaram praticamente com tudo mundo que importa no universo pop (aliás, o documentário sobre essa equipe sensacional está disponível na Netflix e é altamente recomendável). Numa das cenas mais memoráveis de Uma História de Sucesso, o baterista Hal Blaine diz a Brian que ele é o melhor músico com quem trabalhou – e Hal Blaine tocou com, entre outros, Elvis Presley e com o produtor Phil Spector. São brilhantes e historicamente perfeitos os momentos em que Brian cria os efeitos sonoros do álbum, seja colocando grampos nas cordas do piano e fazendo com que a orquestra toque os arranjos que pensou para cada canção. E, sim, tem o momento em que eles vocalizam God Only Knows, balada que Paul McCartney considera a melhor canção romântica já escrita.

Continua após a publicidade

ac855698-2641-4c5e-9eef-b5da461026a2-2060x1293

Brian Wilson é interpretado por Paul Dano e John Cusack. O primeiro se encarrega da fase Pet Sounds e dos sinais iniciais de esquizofrenia. Cusack interpreta Brian Wilson na idade adulta. Não é um personagem fácil, visto que Wilson é cheio de tiques e esquisitices. Mas ambos estão ótimos, em particular Dano porque sua fase exige mais tensão dramática. O Brian Wilson daquele período entra em embates com o pai, que nunca reconheceu o real talento do filho; briga com os outros integrantes dos Beach Boys, que consideravam Pet Sounds um suicídio artístico e comercial e começa a escutar as vozes que o atormentam até hoje. Cusack, por seu turno, evita de cair em caracterizações. Faz um Brian Wilson à sua maneira, uma combinação de excêntrico e descolado. Porém, mostra o grande ator que é nas cenas em que o cantor é ameaçado por Eugene Landy. Não importa qual seja o Brian Wilson de sua preferência, mas Beach Boys – Uma História de Sucesso é um filme para ser apreciado por todos os amantes da música pop. Abaixo, um pequeno guia para os Beach Boys, seus discos e os trabalhos que Pet Sounds influenciou.

[youtube https://www.youtube.com/watch?v=lioWzrpCtGQ?feature=oembed&w=500&h=281%5D

[spotify id=”spotify:album:6GphKx2QAPRoVGWE9D7ou8″ width=”300″ height=”380″ /]

[spotify id=”spotify:album:4Uc6YCjpfyjj02rZfg2EUv” width=”300″ height=”380″ /]

Continua após a publicidade

 

[spotify id=”spotify:album:0PYyrqs9NXtxPhf0CZkq2L” width=”300″ height=”380″ /]

[spotify id=”spotify:album:1PULmKbHeOqlkIwcDMNwD4″ width=”300″ height=”380″ /]

[spotify id=”spotify:album:1tZ3jMmJHmNQp7tJEVszLw” width=”300″ height=”380″ /]

[spotify id=”spotify:album:2xELVSKhDHrh32KsyWq69o” width=”300″ height=”380″ /]

Continua após a publicidade

 

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Veja e Vote.

A síntese sempre atualizada de tudo que acontece nas Eleições 2024.

OFERTA
VEJA E VOTE

Digital Veja e Vote
Digital Veja e Vote

Acesso ilimitado aos sites, apps, edições digitais e acervos de todas as marcas Abril

1 Mês por 4,00

Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (equivalente a 12,50 por revista)

a partir de 49,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$118,80, equivalente a 9,90/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.