A voz que encantou Paul McCartney
A cantora Annie Haslan traz o Renaissance, um dos pioneiros do rock progressivo inglês (ela prefere o termo "rock sinfônico") para uma turnê brasileira


Em janeiro de 1976, Paul McCartney, sua mulher, Linda, e o guitarrista Denny Laine adentraram nos estúdios Abbey Road para iniciar as gravações do álbum Wings at the Speed of Sound. De repente, ele se apaixonou por uma intérprete que estava no estúdio ao lado. “De quem é essa voz maravilhosa?”, perguntou a um dos técnicos. A voz, nesse caso, era de Annie Haslan, cantora do grupo Renaissance, que no mesmo período estava dando início a Annie in Wonderland, seu primeiro disco solo, lançado em 1977. “Fiquei emocionada porque a música dos Beatles sempre me influenciou”, confessa Annie, em entrevista à VEJA. Quatro décadas depois do ocorrido, é de se admirar que ela mantenha intactas as mesmas qualidades vocais – cinco oitavas, o mesmo que muitas cantores de ópera – que tanto encantaram o ex-Beatle. Annie Haslam e o Renaissance estão em turnê por algumas capitais brasileiras (dia 25/05, no Espaço das Américas, em São Paulo; dia 26/05 no Vivo Rio, no Rio de Janeiro; dia 27/05 no Auditório Araújo Viana, em Porto Alegre, e dia 28/05 no Palácio das Artes, em Belo Horizonte) com um repertório que abrange as principais fases de sua carreira – entre elas Carpet of the Sun e Ashes are Burning, faixas do LP de 1973.
O substantivo “renascimento” é um dos prováveis significados do nome Renaissance. Não poderia ter sido mais adequado. Criado em 1969 por Keith Relf e Jim McCarthy, respectivamente vocalista e baterista do grupo de blues rock The Yardbirds, o grupo começou como um híbrido de folk e rock progressivo. O Renaissance dos Relf (Jane, a irmã de Keith era responsável pelos vocais) e McCarthy lançou dois bons discos, mas que passaram despercebidos. O renascer do grupo se deu em 1971, com a entrada de Annie Haslan. É certo que houve motivos extra musicais para sua fixação nos vocais do Renaissance. “Miles Copeland, empresário da banda na época, era também meu namorado”, confidencia. Sim, Miles Copeland é irmão de Stewart Copeland, baterista do Police. “Quando eu o conheci, Stewart queria tocar baixo”, entrega. Miles, que também foi empresário de Sting, é famoso por ser uma das pessoas menos afáveis do showbiz – aliás, vale muito a pena ler Minha Vida Dentro e Fora do Rock, autobiografia do promotor de shows Bill Graham sobre uma discussão que ele teve com Miles. “Ele adora trabalhar e nunca para de ter ideias. Mas empresários, em geral, são tipos difíceis de lidar”, desconversa Annie.

Com Annie à frente da banda, o Renaissance explorou um subgênero chamado “rock sinfônico”. O termo foi criado pela própria vocalista. “Nunca gostei do termo rock progressivo porque achava muito pesado e essencialmente masculino”, explica. Há lógica na explicação de Annie. Seus vocais, de um agudo cristalino, são a força motora das composições do Renaissance, que resvalam na música erudita – principalmente por conta do piano de Jon Tout e a guitarra de Michael Dunford. O Renaissance, inclusive, acentuou esse flerte com o mundo erudito ao lançar um disco gravado no Carnegie Hall, em Nova York, com participação de músicos da Filarmônica, sob a regência do maestro Tony Cox. A partir desse álbum, o Renaissance flertou com a música pop e apresentou resultados um tanto desiguais – essa fase, felizmente, ficou de lado nas apresentações.
O Renaissance encerrou suas atividades em 1987 e Annie Haslan saiu solo e entabulou uma carreira como pintora. Em 2009, no entanto, ela sucumbiu aos inúmeros telefonemas dos ex-integrantes da banda e iniciou uma nova fase do Renaissance. A formação atual traz apenas Annie (as perdas mais consideráveis foram as mortes de Dunford, em 2012, e Tout, em 2015) e músicos que foram agregados ao Renaissance com o passar do tempo. A mística, no entanto, permanece a mesma como se pode notar nessa versão de Carpet of the Sun. Não se tem o nome de “renascimento” por acaso. Abaixo, uma lista com as canções que serão executadas no show.