Vale Tudo: a incoerência na presença de Maria de Fátima nas redes sociais
Especialista em mídias sociais analisa estratégia usada pela TV Globo na novela das 9

Embora não seja nova na TV Globo, a estratégia de crossmídia em Vale Tudo, com a criação de um perfil real no Instagram de Maria de Fátima (Bella Campos), gerou repercussão entre os telespectadores. Um deles é Pedro Vernes, que, além de noveleiro, é estrategista digital e, por isso, acompanha a implementação do recurso bem desconfiado. Ele, por exemplo, contou à coluna GENTE que já identificou uma incoerência entre a trama e a presença digital da golpista.
“Maria de Fátima é retratada como uma aspirante a influenciadora, marcada por fracassos e tentativas frustradas na novela. No entanto, o perfil dela nas redes acumula milhares de seguidores (424 mil, até agora) e até protagoniza publis grandiosas, como a participação em um show da Lady Gaga, o que destoa da narrativa e compromete a verossimilhança da história, podendo até confundir a audiência”, analisa Vernes, que trabalha na área do Grupo VOE.
Como comparação, Pedro cita outro perfil de personagem feito em 2019, com Vivi Guedes (Paolla Oliveira), de A Dona do Pedaço, novela de Walcyr Carrasco. “Era uma influenciadora de sucesso dentro e fora da novela. No caso de Maria de Fátima, o perfil parece ter escapado do controle narrativo da autora (Manuela Dias), tornando-se uma vitrine publicitária à parte. Isso pode enfraquecer o arco da personagem se não houver um alinhamento mais estratégico entre enredo e plataforma”, opina.
O especialista, inclusive, chegou a alfinetar a personagem em um comentário no seu perfil que chegou a cinco mil curtidas: “Amo que a diva tem 23 anos, mas usa a rede social igual a uma senhora de 80”. À coluna, ele elenca algumas provas do seu desabafo, como o uso excessivo de hashtags e legendas com frases prontas. “Embora possa haver a intenção de mostrar que Maria de Fátima não tem o ‘dom’ natural para ser influenciadora, a execução passa a sensação de que quem gerencia o perfil desconhece os códigos e padrões de comportamento da geração Z. Como parte desta, ela deveria ser naturalmente fluente em redes sociais. A criação do novo perfil na trama simboliza sua ascensão social, mas isso não exclui ela ser uma pessoa cronicamente online antes”, acrescenta.
Leia também: Como a TV Globo silenciou quem mais poderia detonar Vale Tudo
Apesar das críticas, o estrategista vê pontos positivos na escolha da Globo, como o crescimento da relevância na “cultura pop digital”, e diz o que faria se estivesse à frente do planejamento. “Teria um olhar mais atento à criação de conteúdo para as redes. Quando se aprova um projeto como este, ganha-se uma chance valiosa de expandir a narrativa, uma oportunidade de explorar camadas da personagem que não cabem na TV, criar pautas exclusivas, aprofundar arcos paralelos e até gerar spoilers sutis que engajem o público. Mais do que apenas acompanhar o que vai ao ar, a personagem poderia ter vida própria no digital, com uma linguagem e lógica de conteúdo adaptadas à plataforma. Isso tornaria o perfil mais relevante e orgânico — e ampliaria o engajamento real com o público”, conclui.