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‘Sofro racismo desde o momento que acordo’, diz David Junior

Em cartaz ‘12 Anos ou a Memória da Queda’, ator de 36 anos fala do significado do Dia da Consciência Negra

Por Giovanna Fraguito Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO , Valmir Moratelli Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 20 nov 2022, 09h00

No mês da Consciência Negra, David Junior estreou o espetáculo 12 Anos ou a Memória da Queda, no CCBB-RJ. A produção é inspirada no livro 12 anos de escravidão, de Solomon Northup – conta a história real de um homem negro que, após aceitar um trabalho que o leva a outra cidade, é sequestrado e escravizado por doze anos. A peça aborda liberdade, direitos humanos, protagonismo negro e racismo. Campeão da segunda temporada do The Masked Singer e tendo atuado, entre outros trabalhos, em Sob Pressão, David conversa com a coluna sobre as temáticas do espetáculo.

Estamos no dia da Consciência Negra, como as pessoas devem entender esse dia? Como todos os outros dias, a gente tem a consciência de que saibam que a gente existe, que a gente é ser humano, como todos os demais. E que não esperem esse dia para lembrar que a gente coabita no mesmo espaço, no mesmo país, no mesmo mundo.

Estrear uma peça com essa temática no Brasil atual tem um significado diferente para você? Essa questão racial e a opressão que vivemos no Brasil parecem ser atemporais. Tem 130 anos, que, em tese, foi abolida a escravatura no papel, e a gente vive isso ainda nos dias de hoje. É mais do que necessário falar sobre normatização de corpos negros. Tenho uma resistência de interpretar, como artista, esse lugar de subserviência. Mas por mais que a gente esteja falando de situação de opressão, não nos colocamos no lugar que a narrativa branca nos vê.

Como homem negro, o que você conseguiu trazer de pessoal para o palco? Tudo isso a gente vive diariamente, a vida toda. A forma como sempre fui visto no mercado de trabalho de uma maneira geral… Hoje, olhando para trás, vejo que cresci tendo medo de cair nessas caixinhas que nos colocam. Aos 19 anos, primeira vez procurando emprego, não queria colocar a minha foto no currículo, porque achava que não me contratariam. Um jovem, já tendo essa perspectiva da maldade do mundo, mostra o quanto tem que ficar sempre ligado.

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O tema da peça é o racismo, mas outros trabalhos seus abordam a representatividade. Qual a diferença entre obras que buscam estabelecer memórias e outras que resgatam autoestima? No fundo, é tudo busca por identidades? Atualmente, temos buscado criar não só protagonismo negro, mas equipes negras. Porque tudo difere, se o figurinista for negro, ele vai influenciar no meu trabalho, assim como a roteirista. A narrativa que a gente apresenta precisa ser nossa e, durante muito tempo, não foi. O que aprendi na escola é que preto era escravo, e não, eles foram escravizados, tinham uma história que antecede essa questão. Eles tinham vida, tinham reinos, sociedades estabelecidas

Você já sofreu racismo no meio artístico? Eu sofro desde o momento que acordo e tenho que escolher a roupa que vou sair de casa, para saber se vão me respeitar. Sofro racismo desde que saio de casa e vejo na banca de jornal que corpos negros estão em lugares diferentes. O racismo coabita comigo e eu tento transcender esse lugar que me colocam.

Você acha que esse cenário tem melhorado? A vitória do Lula foi um marco na história, até mesmo pelo país que a gente vive, totalmente dividido, entre oprimidos e opressores. Ainda falta muito, a bancada do Lula é toda branca, mas vejo de forma positiva… Ele tem contratado pessoas para agregar no projeto dele, como o Silvio de Almeida. Isso já é um olhar para o outro, coisa que o Bolsonaro não fez.

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