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Por que o especial de Natal de Roberto Carlos foi tão melancólico

Cantor estava visivelmente abatido no programa - e ele tem motivos para isso

Por Cleo Guimarães 23 dez 2021, 16h53

Não teve como não notar. Roberto Carlos estava arrasado no especial de Natal que a Globo exibiu na noite desta quarta (22) – e isso, claro, influenciou totalmente no resultado final. O programa teve a segunda pior audiência da história desde 1974, quando passou a ser exibido, e foi também o mais melancólico dos últimos tempos. E olha que Zeca Pagodinho e Ivete Sangalo se esforçaram à beça para deixar o Rei mais alegrinho. Em vão.

“Roberto não aparecia deprimido assim desde que a Maria Rita morreu”, observa o biógrafo Paulo Cesar de Araújo, numa referência à morte da mulher do cantor, em 1999. “A tristeza dele ontem estava nítida de novo”, acrescenta o autor do recém-lançado “Roberto Carlos Outra Vez”. Dadas as circunstâncias, não é difícil compreender o que o levou a ficar neste estado. Roberto ainda vive o luto pelo filho Dudu Braga, de 52 anos. Assim como Maria Rita, ele foi vítima de câncer, em setembro passado. Ou seja, há menos de quatro meses, muito pouco tempo para curar uma ferida emocional de proporções tão gigantescas. À época, chegou a se especular que RC não teria condições de gravar o especial. Talvez fosse o caso.

A este cenário de absoluta tristeza na vida pessoal soma-se o impacto que a pandemia do coronavírus teve no germofóbico mais famoso do Brasil. Avant-garde nos protocolos de higiene por conta do diagnóstico de transtorno obsessivo compulsivo (TOC), Roberto nunca escondeu de ninguém que fica apavorado fora dos limites de sua casa, na Urca.

Voltar a gravar com outras pessoas (mesmo sem interagir diretamente) era um baita desafio, e os protocolos a serem seguidos acabaram por prejudicar enormemente a parte técnica. Além da frieza natural que só uma plateia inexistente e o distanciamento no palco podem propiciar, houve também uma questão nos bastidores.

Para que não houvesse contato algum com outros músicos, deu-se o que até então parecia impensável para um profissional meticuloso e perfeccionista como Roberto: não houve ensaio antes da gravação. Nada. “Isso o deixou ainda mais tenso”, garante Paulo Cesar.

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A pá de cal foi a edição picotada e sem unidade entre os blocos e atrações. Cantores surgiam e sumiam abruptamente da tela – Ivete Sangalo brotou do nada, assim como Sandy, que, como num passe de mágica, desapareceu do alcance de nossas retinas. Não deu nem tchau. Foi complicado: Roberto aparecia sozinho, depois acompanhado, mas invariavelmente sorumbático.

Ninguém espera grandes surpresas nos especiais de Roberto Carlos, pelo contrário. É divertido, por exemplo, saber – ou melhor, ter a certeza – que ele mais uma vez vai começar a noite com a frase “Que prazer rever vocês!” (E não deu outra). Tirando essa e outras obviedades bem-vindas, nada parecia obedecer a um script este ano, a começar pelos trajes escuros de Erasmo Carlos e Wanderléa. Os maiores parças de Roberto foram de preto e de marrom, destoando dos outros convidados que, em reverência e respeito à estrela da noite, usaram tons de azul. Estranhíssimo.

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