Por que homens relutam em admitir plásticas: ‘divindade genética’
O antropólogo Bernardo Conde e a especialista em estética avançada Gabriela Dawson falam sobre o tema, à luz da polêmica com Cauã Reymond

Cãua Reymond, nos holofotes desde que se tornou foco nos bastidores de Vale Tudo, já vinha chamando atenção nas redes sociais na estreia da novela. E por outro motivo: o possível resultado de seus procedimentos estéticos. Embora seu rosto esteja mais esticado e a mandíbula bem delineada, ele faz questão de negar qualquer intervenção na face. “Não fiz nada no rosto. Nadinha. É que eu ganhei peso. E estou também usando esse corte de cabelo mais curto, meio militar”, disse em uma entrevista.
Segundo Gabriela Dawson, especialista em estética avançada, a mudança no rosto de Cauã é visível para o público, mas principalmente para os profissionais, que dificilmente são enganados. “Não só a mandíbula está mais marcada, como também o masseter, músculo da mandíbula, e o queixo estão maiores. A resposta para isso seria um contorno na mandíbula, mais um procedimento no masseter acompanhado do ângulo goníaco, que melhora o formato do rosto. Um palpite que eu também daria é que ele fez o zigomático (topo da bochecha). É possível perceber isso, porque os lábios estão subindo mais quando ele sorri, isso é um efeito anatômico do músculo ao realizar o procedimento”, explica Gabriela à coluna GENTE.
Se fez mesmo tais procedimentos, por que então Cauã insiste em negá-los? A resposta não é simples, mas pode se basear no que a sociedade pensa sobre “masculinidade”. O antropólogo Bernardo Conde afirma que o homem é de fato vaidoso, mas rejeita esse lado pelo medo de ser comparado ao que é a ideia do feminino. “Há uma forte conotação do papel masculino como algo menos da sutileza, da delicadeza, do cuidar dos detalhes. O homem é mais conservador. A mulher pode chegar na calça, mas o homem não chega com facilidade no batom e na saia, porque ele é identificado a um papel mais rígido, mais tradicional, menos flexível”, argumenta. As primeiras aparições de homens vaidosos foi nos anos 1990, quando a ideia de metrossexual, homem que cuida da aparência de maneira extensiva, começava a aparecer na sociedade, De lá pra cá tiveram algumas mudanças, mas é impossível negar que os que seguem essa pauta são alvo de preconceito.
Trazer o homem para o lado considerado “feminino” dá a impressão, para os que seguem à risca a antiga ideia de “macho alfa”, de perda de status e de poder. Segundo Bernardo, o homem, para se sentir poderoso, precisa estabelecer a mulher como algo supérfluo, negativo, de quem não leva a vida a sério. “Essa ideia de estabelecer o masculino segue o medo de perder a famosa demarcação, medo de ser emasculado, de perder suas características masculinas e com isso todo o arcabouço de lugares na sociedade que vêm junto. Cauã parece firmado na ideia de uma divindade genética”, completa.