Paris 2024: Por que vela brasileira passa por ‘entressafra’ de medalhas
‘Não tenho expectativa, só agradecimento’, diz Marco Aurélio de Sá Ribeiro, presidente da CBVela, à coluna GENTE
Com 24 medalhas, o judô e o voleibol (11 na quadra e 13 na praia) são os esportes que mais medalhas deram ao Brasil, seguido pela vela e pelo atletismo, com 19 medalhas cada. Se contar apenas as medalhas de ouro, a vela e o vôlei (quadra e praia) são os esportes com mais medalhas, num total de oito cada um. Uma das modalidades mais tradicionais e vencedoras do esporte brasileiro, a vela levou oito barcos e 12 atletas para os Jogos Olímpicos de Paris. A disputa segue na baía de Marselha, no Sul da França. Marco Aurélio de Sá Ribeiro, presidente da Confederação Brasileira de Vela, conversou com a coluna GENTE sobre as mulheres no esporte e a fase atual – que, ao contrário de anos anteriores, não está entre as melhores. Martine Grael e Kahena Kunze, bicampeãs olímpicas da modalidade 49erFX, não subiram ao pódio em nenhum dos últimos três Campeonatos Mundiais.
Como foi o pré-Olímpico brasileiro? A vela é um esporte extremamente competitivo, mas é também um esporte onde a própria organização do evento limita muito o acesso de pessoas credenciadas. De uns anos para cá, a gente racionalizou e determinou que só atletas com alguma chance de medalha deveriam ir aos Jogos. A gente estabeleceu índice técnico, porque realmente é caro. Mover um barco para dar suporte, um técnico, por um atleta que não tem chance, é complicado. Ou seja, se o atleta está em Paris, pode acompanhar, significa que ele tem chance de medalha.
Qual é a real chance do Brasil com a vela nas Olimpíadas? Em primeiro lugar, estamos no meio de uma renovação da vela. Ganhamos dois títulos mundiais juvenis só esse ano. Isso implica que, para Los Angeles (em 2028), a gente vai ter equipe jovem e competitiva. Estamos nessa entressafra. Mas a vela vai com chances reais de obtenção de medalha. Temos um atleta em franca ascensão, bem cotado no ranking mundial, o Bruno Lobo, do Maranhão. Seria a primeira medalha olímpica da vela do Maranhão. E o Matheus Isaac de Ilhabela, também bem jovem. Além da dupla feminina, que não há mais o que cobrar, porque já entregaram duas medalhas de ouro consecutivas para o Brasil. Com elas, não tenho expectativa, só agradecimento.
Hoje a CBVela é reconhecida pela inclusão de mais mulheres. O que isso representa para o esporte? É um orgulho para a gente. A CBVela é preponderantemente feminina. A maior parte do nosso conselho de administração e da diretoria é de mulheres. Quem ganha medalha são as mulheres. A CBVela já foi tomada pelas mulheres há muito tempo. Nossa meta é o mesmo número de mulheres e homens até na comissão técnica. Essa é a primeira vez que vamos levar uma técnica mulher.
Há machismo na vela? O machismo é presente em todas as modalidades, a vela não é diferente, mas temos combatido. As pessoas criticam o negócio de cota, limite… Mas essa é a única maneira que a gente tem de quebrar a barreira, de não ser condescendente, de não ser a favor de colocar ninguém lá.
A vela também é conhecida por ser um esporte caro. Os investimentos são suficientes para a inclusão? O que existe é a falta de democratização da informação, não precisa ter dinheiro para velejar, existem numerosos projetos sociais. São mais de 100 projetos sociais ligados à vela no Brasil. O alto rendimento é caro, mas o acesso é possível. E os índices são importantes por isso. A pessoa precisa mostrar resultado. Antes, quem tinha maior poder aquisitivo conseguia ir às Olimpíadas, mesmo sem ter condição real de ganhar medalha. Com isso, você está impedindo o acesso de alguém mais humilde. Quando se põe índice, está democratizando. Mas claro, só a nossa base em Marselha são 150 mil euros. Com mais recurso, se dá mais oportunidade, principalmente para o atleta que não tem dinheiro. O Brasil é o melhor país do mundo para velejar, porém as competições de alto nível estão fora daqui. E não dá para ir velejando. É muito caro, cada campeonato nos custa 200, 300 mil reais.