Os riscos do vício em jogos trazido por famosos como Virgínia Fonseca
O psicólogo Cristiano Costa e pesquisador sobre comportamento Edmar Bulla falam à coluna GENTE

Ainda sobre a CPI das bets, após os depoimentos de Virgínia Fonseca e de Rico Melquiades, há declarações que seguem ecoando em discussões fora da plenária do Senado. Rico, por exemplo, afirmou que os influenciadores não têm culpa no vício em apostas das pessoas, o que abre espaço para se discutir tanto a questão da compulsão quanto a do poder real de influência dessas figuras públicas.
Para o psicólogo Cristiano Costa, com experiência em saúde mental e comportamento, onde atua há mais de 15 anos na prevenção, tratamento e educação sobre transtornos compulsivos, o isolamento social e individualização são os maiores impactos nas pessoas dos transtornos relacionados às apostas online. “De modo um pouco diferente dos demais transtornos de impulso, os apostadores compulsivos se transformam em pessoas desinteressantes ou monótonas, porque não pensam e não falam de outra coisa que não o comportamento de perder ou de ganhar dinheiro com as apostas. Em sua maioria, são incapazes de aproveitar os ganhos obtidos com uma eventual sorte que eles tenham acontecido. Ao invés de destinar aquele dinheiro para outros objetivos e experiências, o vício faz com que tudo seja consumido pelas apostas”.
Já para Edmar Bulla, especialista em estudos sobre comportamento e o papel dos influenciadores na decisão de compra e adesão a comportamentos de risco, analisa o papel dessas pessoas que têm dado depoimentos. “Influenciador, como o próprio nome diz, influência. Quando se tem relevância suficiente para atingir milhões de pessoas, o impacto é proporcional à audiência. Dizer que não há responsabilidade é ignorar o poder real dessas vozes sobre o comportamento coletivo — especialmente de públicos mais jovens ou vulneráveis. Vivemos em uma sociedade hedonista, movida pela ansiedade do curto prazo e pela busca imediata por recompensa, onde as apostas encontram terreno fértil para se tornarem compulsões desastrosas. As redes sociais encurtam nossas éticas e morais, e nesse ambiente, promover jogos de azar é mais do que uma ação comercial: é um risco social”.
Por fim, Cristiano afirma que o caminho para minimizar os gatilhos envolvidos nas apostas é a diversificação dos meios de obtenção de prazer com o risco e, principalmente, a educação financeira. “As figuras públicas e influenciadores podem ajudar a orientar seus seguidores nestes aspectos”.