Os destaques de luxo do Carnaval que pagam fortunas por uma fantasia
As indumentárias de plumas e paetês podem ultrapassar 100 mil reais

Membros das escolas de samba que desfilam no mais alto lugar dos carros alegóricos, os destaques de luxo têm fantasias grandes, compostas muitas vezes por pedras e cristais importados, plumas e penas caríssimas, e que podem pesar até 60 quilos. Todas são pensadas pelo carnavalesco e diretores de destaque e a confecção fica inteiramente por conta de quem vestirá a indumentária. E nesse ponto o céu é o limite para os gastos. O estilista Nelcimar Pires, 57 anos, desfila pelo Salgueiro em 2023. Com a crise financeira e a disparada do dólar, lamenta que “está tudo muito caro e com dificuldade de encontrar”. “Uma fantasia de luxo varia de 40 a 150 mil, em média, por conta de plumagens. A minha roupa deste ano terá seis metros de largura por cinco metros de altura. São cinco mil penas de pavão, 7 reais cada uma”. Ou seja, Nelcimar vai gastar 35 mil reais só com as penas. No total, calcula que chegue a 80 mil.
Mas como aponta o destaque Carlos Reis, 69, nome conhecido na Portela, “sonho não tem preço”. Em 2023, quando sua tradicional escola de Madureira faz cem anos, ele será o principal destaque do abre-alas. “Saio no primeiro carro há 20 anos, então agora terei uma das fantasias mais caras que já usei. É o valor de um carro zero. Inicialmente se paga 20 mil para o ateliê, até agora já foram 1500 penas, sendo que cada uma custa 50 reais, totalizando 75 mil. Fora as plumas e pedrarias, o que vai passar de 100 mil”, contabiliza. “O material aumentou muito e é difícil de conseguir”, continua o estilista.
Os gastos são para alguns minutos atravessando a Avenida – o tempo médio é de 25 minutos de uma ponta a outra do sambódromo. Nelcimar, assim como outros colegas destaques, tem apreço pela fantasia. “Guardo em um galpão, armazenado em baús, caixas. E faço muitas exposições também. Já fui para Tóquio, Cingapura e Macau. Sou contratado como um artista”, diz, empolgado. Mas nem tudo é glamour. Antes do desfile, há uma rígida preparação. “Eu não bebo uma gota de álcool, chega uma certa hora e não bebo mais água, para não dar vontade de ir ao banheiro. Porque se leva muito tempo pronto, não tem como tirar a roupa. A gente entra na maquiagem, aí a coordenação pede para vestir a roupa e começam a nos subir no carro, de guindaste. Terminamos de ajeitar a roupa em cima da alegoria. Ficamos lá parados por horas até a escola entrar na avenida”, diz Nelcimar.
Os destaquem pontuam para a escola – são julgados dentro do quesito Alegorias e Adereços. A empresária Simara Sukarno, 62, desfila no Salgueiro no Rio de Janeiro e na Rosas de Ouro em São Paulo. Ela explica a motivação para tanto empenho e gasto – chega a desembolsar 70 mil reais. “Eu acho que é um problema cerebral. É inexplicável. São pessoas completamente diferentes com esse amor pelo carnaval. Grande parte da alegria é ver a sua roupa pronta na avenida”, diz.


