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O sucesso da atriz que preza por mulheres mais agressivas e traidoras

Rafaela Azevedo dá vida à personagem Fran, conselheira feminista no Instagram e protagonista da peça ‘King Kong Fran’, sucesso da temporada no Rio

Por Giovanna Fraguito Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO , Valmir Moratelli Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 12 jan 2023, 18h37 - Publicado em 12 jan 2023, 18h33

Rafaela Azevedo, 31 anos, faz sucesso nas redes sociais dando vida à jovem “prafrentex” Fran. Com humor e ironia, a carioca discute machismo e novos rumos do feminismo ao confrontar os lugares sociais de cada gênero na sociedade. Sua sacada está no lugar que coloca a mulher: na posição antes ocupada pelo “macho babaca”. Na visão da personagem, mulher trai sim e pode se orgulhar disso, tal como deve objetificar o homem que deseja levar para a cama. Nesta quinta-feira, 12, Rafaela reestreia sua peça King Kong Fran no Teatro Cesgranrio, no Rio de Janeiro. A julgar pelas filas na calçada e o boca-a-boca do espetáculo, reforçando o sucesso em meio à temporada de estreias teatrais, já é possível dizer que Fran é uma das personagens desse verão carioca. O ponto de partida para a comédia, a figura de “Monga, a mulher gorila”, caiu nas graças do público, ávido pelos questionamentos sobre sexualidade e estereótipos. Em conversa com a coluna, Rafaela se revela, faz rir e pensar. 

A peça fala sobre sexualidade e distinção de gênero. O quão urgente ainda é falar sobre este assunto? Muito! Um dos lugares em que a mulher é  oprimida é na sexualidade. O patriarcado roubou da gente tanto o lugar do prazer, quanto o lugar da dor. Ele pegou o nosso corpo e o colocou como objeto, então o prazer é para o homem. E se uma mulher estiver sentindo prazer, ela está errada, é xingada, não pode, tem que ser uma mulher de “respeito”. É muito importante falar sobre isso abertamente. E também sobre esse lugar do direito à violência. Faço muitas brincadeiras sobre trair, ou da mulher sendo abusiva com os caras, não que isso deva acontecer, mas é preciso desenvolver narrativas em que as mulheres sintam que também podem ser agressivas.   

E de onde surgiu a ideia da “Monga” ou “A Mulher Gorila”?  Fui percebendo que o ambiente circense é muito machista. O primeiro grupo de mulheres palhaças no Brasil surgiu em 1990 e é uma técnica ancestral, mas mulheres não podiam ser palhaças. As mulheres no circo só eram ligadas ou ao terror, como a “A Mulher Gorila”, ou assistentes de palco com roupas sexys. Eu queria muito fazer um espetáculo que pegasse o que vulnerabiliza as mulheres nesse ambiente e transformasse em potência. A Fran vai performar o que o homem comum faz em sociedade, só que contra os homens. 

E você é palhaça também. Como é vivenciar essa profissão? Hoje em dia saí um pouco do ambiente do circo e estou mais no ambiente virtual, também dou aulas de palhaçaria. Ainda há um grande preconceito. As mulheres palhaças passam por um filtro do patriarcado. 

O humor ainda carece de mais mulheres falando para mulheres? Cada vez mais, na minha oficina de palhaçaria, incentivo isso, dou até bolsa para as mulheres. O humor é uma ferramenta de comunicação, a mais potente. Você pode falar com o seu inimigo e ele vai estar rindo… Até ele perceber, já entrou na cabeça deles.  

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A personagem a Fran das redes sociais é uma voz feminista moderna? A Fran veio para se comunicar de uma forma simples e o Instagram trouxe isso, são 15 segundos em que você dá um recado. Ela passa o recado dessa forma moderna, em um vídeo, em uma foto, em uma caixinha de perguntas. 

Qual o tipo de pergunta mais absurda que já recebeu no direct? As que mais me impressionam são de mulheres falando: ‘Fran, eu consegui terminar o meu casamento de 10 anos, depois que conheci você’; ‘Fran, obrigada, eu saí de uma relação abusiva’. Nesse sentido, não imaginava que tinha tal nível de influência, porque existe uma distância, são pessoas que nunca vi, mas ao mesmo tempo a narrativa criada ali tem força.    

Você também tem um público gay grande. Questionamentos de homossexuais homens e mulheres héteros se assemelham? De certa forma, homens gays também sofrem machismo, por mais que performem misoginia com as mulheres. E como eu também brinco com eles, percebem o quão agressivo pode ser uma brincadeira. E eles se sentem também oprimidos pelos homens héteros. Rola uma identificação forte, de poder debochar e bater no maior opressor.  

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Agora, algumas perguntas para a Fran: Que dicas você dá para uma pessoa que está saindo com outra, mas de posicionamento político contrário? Eita (risos)! Eu diria para ela ir bem devagar, sedutora, para tentar mudar a cabeça da outra pessoa mais conservadora. 

Quem beija melhor, o homem que é de esquerda ou de direita? Olha, o de esquerda com certeza. Para mim, o de direita … não vou lá não (risos). 

E, por fim, quem trai mais: homens ou mulheres? Eu dou força para que as mulheres traiam mais. As mulheres têm que aprender a ser mais “indivíduo”, sem essa submissão! Às vezes, o cara está ali fazendo um monte de… né. A gente tem que aprender a ser mais egoísta.  

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