O segredo que há no sucesso da série ‘Encantados’
Thais Pontes e Renata Andrade falam a VEJA sobre produção do Globoplay, sucesso de crítica

Responsáveis pela bem sucedida série de comédia Encantado’s, do Globoplay, Thais Pontes e Renata Andrade conversaram com a coluna sobre as inspirações e representatividade da produção. Amigas há mais de 25 anos, elas revelam, por exemplo, o receio inicial em colocar grande parte do elenco negro e as relações que trazem do passado com o carnaval no subúrbio carioca. O projeto, criado em uma Oficina da Globo, ganhou horário na grade da TV aberta e uma legião de fãs.
Vocês fizeram Publicidade, mas a vontade de fazer televisão era antiga, não? Renata Andrade: Somos da época do telefone com fio. Épocas que adolescentes ficavam horas no telefone conversando até a bateria descarregar. Fui da geração criada pela televisão, era a minha babá. E na infância morava ali em Oswaldo Cruz, perto da Intendente de Magalhães (subúrbio carioca) e eu assistia muito ao carnaval, aos ensaios da Portela, da Tradição. Thais Pontes: A minha história é parecida. Sempre gostei de assistir televisão, de ir ao teatro, minha mãe e minha avó me incentivaram bastante. E era criança tímida, então eu colocava nos diários as coisas que eu gostava de escrever e isso teve continuidade na vida adulta.
Como lidam com o trabalho em dupla? TH: A gente sempre tenta entrar num consenso, mas temos discussões até bobas. Uma que eu lembro, é que no começo de Encantado’s tem um ‘Bom dia do Encantados’, e a gente estava fazendo musiquinha do ‘Bom Dia’. A gente discutiu por causa da entonação da música.
Na série, o mercado vira escola de samba. Qual é a relação de vocês com esses universos? TH: O supermercado é um microcosmo da sociedade. Só que a gente coloca o holofote nos funcionários, a gente vira a câmera. E logo depois entrou o samba. Uma das coisas que a gente priorizou foi esse samba que não é tão conhecido. RE: E esse carnaval, embora passe a primeira ideia de ser uma referência muito carioca, que é de fato um carnaval do Rio de Janeiro, é um modelo de carnaval de várias periferias do Brasil.
Contar histórias de pessoas pretas, que fogem do que já é visto na dramaturgia, foi uma das missões da série? TH: Quando a gente criou a série, teve medo. Porque há cinco anos novelas e séries com maioria negra ainda não era uma realidade. Então a gente colocou metade branco e metade de atores negros. E aí o Henrique (Sauer), diretor artístico, falou: ‘vamos fazer essa série preta’. E era isso que a gente sempre quis. RE: E a gente quis mostrar o quão plurais as pessoas negras podem ser e são. Na série são 17 personagens e 13 deles são atores e atrizes negros. E eles são muito diferentes entre eles.
O caso de racismo do Vini Jr, entre outros episódios tristes da realidade, pode render inspiração para vocês? RE: A gente trouxe essas questões raciais para a série. Elas não pautam nenhuma trama, mas estão lá, são pessoas negras vivendo, existindo, e as questões raciais estão atravessando de alguma maneira. Eu e Thaís, como mulheres negras, passamos por muitas delas e trouxemos nossas experiências. TH: Eu acho que dá para a gente cutucar a ferida pelo humor. Mas, por exemplo, na questão do Vinícius Júnior, a indignação é positiva, é um sentimento que move.
Tony Ramos participou da série, mas agora está na novela das 9. Foi um problema essa mudança? TH: Ele está na segunda temporada, só que a gente não largou o Madurão não! Você imagina o tanto de novela e série que a gente viu com Tony Ramos e de repente ele está na nossa série. Foi muito louco. Além do ator incrível, é super generoso. Quando a gente soube que não ia ter como contar com a presença dele ao longo de toda a temporada, prontamente criou uma antagonista, para que ocupasse esse lugar. RE: E uma alegria saber que a Eliane Giardini entrou. A gente conseguiu fazer um arco desse personagem na segunda temporada. Esperamos que tenha a terceira.

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