O que há por trás de eventos ‘estranhos’ surgidos nos Jogos de Paris
Especialistas em marketing discutem a política denominada ‘clean venue’ das Olimpíadas
Ao menos dois momentos inusitados chamaram a atenção nesta primeira semana de Jogos de Paris. O primeiro foi durante uma das entregas de medalhas no tênis de mesa nesta quarta-feira, 31. Em meio a tensão política vivida por Coréia do Sul e Coreia do Norte, os atletas se uniram para fazer uma foto juntos. O segundo momento foi durante a competição de skate entre homens na segunda-feira, 29. Dois competidores deixaram cair seus celulares na pista em meio a suas apresentações.
Os eventos “estranhos” chamaram a atenção dos especialistas em marketing, que logo apontaram que os Jogos estão sendo alvo de ações de marketing muito bem orquestradas, para driblar as ferrenhas limitações impostas pelo COI.
“Em pelo menos duas ocasiões nesses Jogos Olímpicos, o celular de skatistas já caíram na quadra. Obviamente não é possível afirmar que se trata de ação de marketing intencional – como já vimos no futebol, por exemplo, com exemplo de cuecas patrocinadas que ficam aparentes em comemoração. Mas de qualquer forma se cria um marketing de oportunidade incrível, com comentários exaltando a durabilidade do aparelho. São oportunidades de exposição perfeitas para marca, porque mostram situações do dia a dia: selfie, queda… Criando muito mais apelo visual do que um vídeo altamente produzido, por exemplo”, diz Wagner Leitzke, líder do marketing digital da End to End, produtora de conteúdo oficial das redes sociais do Time Brasil durante os Jogos Olímpicos de Paris 2024.
Ivan Martinho, professor de marketing esportivo pela ESPM, lembra que os jogos olímpicos são conhecidos por sua política denominada clean venue, que determina a ausência de marcas em suas arenas de competição. “Buscando se adaptar aos novos tempos e demandas comerciais de seus parceiros, a edição de Paris implementou a possibilidade de product placement com alguns de seus maiores parceiros viabilizando assim bandejas Louis Vuitton para carregar medalhas, garrafas douradas de água do grupo Coca-Cola na cerimônia de abertura e a selfie dos medalhistas com celular Samsung. Como parceira do Comitê Olímpico Internacional desde os jogos de Seul em 1988, a gigante coreana que nos jogos de Londres 2012 inseriu pela primeira vez seu celular na cerimônia de abertura para atletas, de forma contextualizada com um hábito dos atletas de skate que são autorizados a competir com seus fones de ouvido, acaba chamando atenção por uma situação inusitada da queda do celular durante uma apresentação”, diz o professor.