O que dizem os arquitetos sobre críticas ao polêmico prédio anexo do Masp
Martin Corullon e Gustavo Cedroni, à frente do projeto recém-inaugurado em São Paulo, falam à coluna GENTE

Fundado em 1947, o Museu de Arte de São Paulo (Masp) já passou por algumas mudanças no visual. Quando foi transferido para a Avenida Paulista, em 1968, Lina Bo Bardi tomou as rédeas do projeto, construindo clássica estrutura vermelha já tão conhecida. Mais de sessenta anos depois, o museu inaugurou o polêmico prédio anexo, criado pelos arquitetos Martin Corullon e Gustavo Cedroni, sócios da Metro Arquitetura, em coautoria com o arquiteto Julio Neves. Diferentemente da estrutura original, o edifício de doze andares se destaca pelo visual preto e opaco. Em entrevista à coluna GENTE, Martin e Gustavo admitem que a intenção era chocar e causar esse efeito no público, já que queriam passar longe de confundirem sua criação com as tradicionais e pacatas construções comerciais dos arredores.
Como surgiu o convite para criar o prédio anexo do Masp? MARTIN: A gente trabalha junto ao MASP desde 2015, quando mudou a gestão. Começamos a fazer projetos de exposições e a trabalhar no prédio também. A gente já estava lá dentro há um bom tempo fazendo várias intervenções de infraestrutura, quando voltou a ter discussão de ter o prédio, foi uma coisa meio natural. Fizemos um projeto que é nosso, com o arquiteto Júlio Neves, que fez a primeira fase, e a partir desse projeto, se desenvolveu o detalhamento.
Tinham alguma referência em mente? MARTIN: Tinha lá uma questão de que era fazer o edifício dialogar com o edifício da Lina. Pensamos em como fazer isso, que ele tivesse um destaque ali na paisagem, ao mesmo tempo que não brigasse com a arquitetura que já estava lá, que é muito relevante. Esse foi um ponto de atenção, de pensar como é que a fachada ia ser resolvida, como que o aspecto do edifício ia se resolver.
Como foi a criação da Metro? MARTIN: A gente começou em 2000, já vai fazer 25 anos. Eu trabalhei um período antes de fundar o escritório com o Paulo Mendes da Rocha, trabalhei como estagiário ainda na faculdade, depois eu fiz alguns trabalhos com ele. Depois de certa altura resolvi montar o meu próprio escritório para fazer os meus próprios projetos. / GUSTAVO: Eu entrei em 2001, logo no comecinho, quando o escritório estava se estruturando, a princípio era para fazer um projeto e estou aqui há 25 anos.
Que outros projetos vocês destacam dessa fase? GUSTAVO: O escritório é bastante conhecido por atuar em diversas escalas e em programas bem diferentes, não é um escritório que se especializou em uma área. A grande maioria dos projetos ligados às artes e à cultura, como por exemplo galerias, o MASP, os cinemas Itaú… Recentemente a gente tem feito projetos de Retrofit, mercado relativamente novo aqui no Brasil, especificamente em São Paulo, que partem da mesma premissa. São edifícios de escritórios que estão com uma locação muito baixa e abandonados e converte para edifícios presidenciais, a gente faz o projeto de intervenção e transformação desses edifícios.
Vocês estão por trás de grandes projetos, um bem diferente do outro. Como conseguem deixar a marca de vocês? MARTIN: A gente tem tido a oportunidade de inventar coisas. Acho que é uma coisa que a gente tem tentado fazer com algum sucesso, fazer coisas diferentes. A fachada da Tiffany, um dos projetos que estamos à frente, tem um desenho super específico, detalhado. Mas todos têm uma abordagem ter tudo mais desenhado, com detalhes específicos para os projetos que dão uma cara para cada um deles, mesmo que sejam diferentes entre si. / GUSTAVO: A cara do escritório é não ter uma cara. O resultado dos projetos é muito diverso e é o resultado da melhor hipótese para aquele projeto, alguns elementos que você vê em todos os projetos do mesmo arquiteto.
Que referências usaram para construir o prédio anexo ao Masp? MARTIN: A gente tem uma abordagem bastante técnica. A nossa ideia é sempre tentar conciliar o impacto daquela construção na cidade, do ponto de vista da paisagem, do aspecto que aquilo vai ter, com as exigências do que o destino da edificação vai ter. No caso de um museu, a parte técnica é importante, tínhamos sempre que fazer esses dois caminhos: resolver as questões técnicas e dar uma solução de aparência e de organização. Mais do que referência de uma coisa estética, a gente trabalha na fronteira entre a técnica e a expressão. / GUSTAVO: Mas houve também uma referência do próprio Masp, que é um museu muito radical, muito limpo. A gente bebe um pouco dessa escola, é uma ideia para o projeto. O da Lina era suspender galerias na rua, e o nosso era fazer uma torre vertical que fosse de cima a baixo.
O prédio não destoa muito do MASP? MARTIN: Acho que sim, mas a intenção era exatamente essa. Assim como o projeto da Lina, com o qual a gente tinha que dialogar, ele é uma peça que se destaca na paisagem. Esse edifício novo tinha que também ter um aspecto próprio que se destacasse dos demais, que não fosse uma cara de prédio corporativo. A nossa solução foi fazer uma estrutura de uma forma simples, mas que tivesse um impacto visual. / GUSTAVO: O prédio, de qualquer maneira, tem uma outra relação de quem vê ao vivo do que das imagens. Ele é aparentemente opaco, mas quando você chega lá, essa chapa é toda perfurada, ou seja, é translúcida, e você vê que tem uma parede atrás e uma porção de janelas que abrem para o entorno. Quando se olha de longe, parece que é um monolito mesmo, opaco, depois, vendo ao vivo, se vê que não é nem assim.
Como estão lidando com as críticas ao projeto? MARTIN: Eu acho que é interessante e saudável, o edifício que é importante, tem uma relevância e tem uma intenção de se associar a outro edifício, que também foi polêmico na sua época. Isso é prova de que o Edifício tem um efeito, as pessoas geram um olhar diferente. Isso é interessante, acho que é uma coisa natural e saudável.
Foi um dos projetos mais difíceis de se fazer? MARTIN: Foi o mais complexo, com certeza, mais complexo em vários sentidos, principalmente técnico. / GUSTAVO: Não é todo dia que você recebe uma encomenda para fazer um edifício do lado do Masp da Lina Bobardi, isso não vai acontecer de novo. É um desafio grande tecnicamente é uma responsabilidade também do que não fazer. Foi um dos projetos que a gente mais se envolveu e se dedicou.