O mal da TV Globo que impossibilita novelas no streaming
Mauro Alencar, especialista em televisão, analisa de forma criteriosa as transformações no entretenimento
Há algum tempo empresas de streaming vêm alardeando que vão produzir novelas no país. Até agora, nem um mísero capítulo chegou a ir ao ar. A TV Globo segue líder do segmento, mas vê crescer o interesse do público por séries, estas sim cada vez mais populares na Netflix, Amazon, HBO, entre outras empresas. Afinal, por que as novelas não “pegam” interesse fora das telas da emissora carioca? Desde a extinta TV Manchete não surgem concorrentes à altura que, salvo raras produções pontuais, colocariam em xeque essa supremacia. Com a palavra, Mauro Alencar, doutor e pesquisador em teledramaturgia pela USP.
“O Brasil está com extrema dificuldade para fazer uma linha de produção de dramaturgia no streaming. E uma das principais responsáveis é a TV Globo, gigante que sempre produziu de acordo com o período político, social e econômico. A estrutura da indústria do entretenimento tem que estar alinhada com esses movimentos da quarta revolução industrial. Fico pensando: ‘Meu Deus, a Globo fez um bem ao país, mas trouxe também um lado negativo na macroestrutura geral. Um bem, pela qualidade de suas produções reconhecidas internacionalmente. Um mal no sentido de que as pessoas se acomodaram com essa estrutura, gigantesca e fabulosa, e agora estão com dificuldade para dar um salto e criar outras frentes. A emissora implantou um padrão que o público acostumou a consumir e outros empresas tentam copiar. Mas hoje em dia no metrô, só vejo falarem de séries e pouco de novelas. Hoje não há mais o monopólio da fala, a audiência de massa, a constância do público numa fidelidade absoluta. É um mundo totalmente fragmentado”.