O livro mais importante de Pagu, homenageada da Flip
Obras da escritora e ativista política serão lembradas na 21ª Festa Literária Internacional de Paraty
Patrícia Galvão, mais conhecida como Pagu, foi uma escritora, integrante do movimento modernista brasileiro e militante do Partido Comunista Brasileiro (PCB). Por muito tempo, foi renegada à faceta de ter sido companheira do poeta Oswald de Andrade. Porém, com suas obras reeditadas recentemente, enfim recebe o reconhecimento. Pagu foi escolhida homenageada da Flip – Festa Literária Internacional de Paraty de 2023, que acontece entre 22 e 26 de novembro. “Seus modos de dizer e desenhar mundos manifestam uma paisagem em que são retratadas diversas mulheres brasileiras que aspiram à liberdade, sejam elas operárias, mães, boêmias ou artistas. Pagu enfrentou prisões sucessivas, estigmatização e alijamento social, sendo um exemplo inspirador de trabalho pela literatura e a liberdade de expressão no Brasil”, defendem as curadoras Fernanda Bastos e Milena Britto.
Um dos marcos na literatura da primeira mulher presa no Brasil por motivos políticos, em 1931, é o livro Parque industrial, o primeiro romance proletário brasileiro. Nascida em tom de esperança, a obra foi escrita em 1932, quando Pagu tinha 22 anos, e publicada no ano seguinte sob o pseudônimo Mara Lobo, por orientação do partido comunista. “Pensei em escrever um livro revolucionário. […] Ninguém havia ainda feito literatura desse gênero. Faria uma novela de propaganda que publicaria com pseudônimo, esperando que as coisas melhorassem. Não tinha nenhuma confiança nos meus dotes literários, mas como minha intenção não era nenhuma glória nesse sentido, comecei a trabalhar”, descreve Pagu em sua Autobiografia precoce.
No cenário da industrialização brasileira do século XX, mais especificamente a de São Paulo, que passava de uma economia agrária/exportadora para uma urbana/industrial, Parque industrial se consagra como retrato de época, Pagu denuncia as precárias condições enfrentadas pelas trabalhadoras da indústria têxtil paulistana, além dos traumas e vivências pessoais das personagens. “Nós construímos palácios e moramos pior que os cachorros dos burgueses. Quando ficamos desempregados, somos tratados como vagabundos. Se só temos um banco de rua para dormir, a polícia nos prende. E pergunta por que não vamos para o campo. Estão dispostos a nos fornecer um passe para morrer de chicotadas no mate-laranjeira!”, apresenta trecho da obra. Pagu morreu aos 52 anos, em 1962. Deixou dois filhos.