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‘O kit gay responde a uma sociedade conservadora’, diz pesquisador

Allan Santos conversou com a coluna GENTE sobre processos de desinformação, tema de sua tese na UFRJ e exposto agora em livro

Por Mafê Firpo Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 12 abr 2025, 17h00

Quando estava prestes a defender a dissertação de mestrado na UFRJ em 2018, Allan Santos se viu em meio a uma guerra política num país polarizado: de um lado, Jair Bolsonaro defendendo a “pátria e a moralidade” e do outro Fernando Haddad, que buscava trazer o PT de volta ao poder. Dentre as milhares de discussões eleitorais, surgiu um movimento latente de fake news – de um dia para o outro o Brasil esbravejava sobre educação sexual nas escolas. Foi nesse contexto que Allan decidiu investigar o processo de desinformação que marcou aquele ano de eleições. Precisou avançar as pesquisas rumo a uma tese de doutorado. Autor do livro A fabricação do pânico sexual bolsonarista: do ‘kit gay’ à ‘mamadeira de piroca (ed. Insular), Allan analisa como o discurso apropriado pela extrema-direita impacta a sociedade conservadora. Em entrevista à coluna GENTE, ele explica como políticos usaram isso de estratégia para seduzir um grupo de privilegiados, que se veem ameaçados pelo progressismo.

O que o inspirou a escrever sobre o pânico sexual bolsonarista? Originalmente, a questão que me interessava era entender como as pessoas estavam falando de censura à arte no Brasil. A gente estava na pré-eleição, o Bolsonaro já estava se candidatando, quando comecei a perceber que precisava dar um passo atrás e entender o que estava acontecendo, que era muito dentro desse enredo do kit gay.

Bolsonaro se apropriou de um discurso já existente na sociedade? Não sei se ele se apropriou, mas faz parte. O kit gay não é dele, não é exclusivo dele, tem o Silas Malafaia, o Eduardo Bolsonaro, toda a família… Ele não criou, mas é um dos autores principais. Tanto que em 2022, volta a questão da “mamadeira de piroca”, volta a questão do kit gay, como pedofilia, ideologia de gênero, mudança de sexo de crianças sem consentimento dos pais… Vai jogando essas coisas nas redes sociais, as pessoas vão acreditando e vão tomando decisões após processos de desinformação.

Para que serve o alarmismo do ‘kit gay’? O kit gay responde a uma sociedade conservadora que não quer abrir mão dos seus privilégios de gênero e de classe. Uma das coisas que me motivou é o meu incomodo com esse discurso de que a extrema-direita não tem uma estratégia política. Mas para mim, quanto mais eu mapeava, quanto mais eu lia o discurso do Bolsonaro, mais ficava claro que havia estratégia. Principalmente quando a gente está em eleições, quando se leva toda uma disputa política de um país para questão de gênero, isso é potencializado.

Como o moralismo coube tão bem a Bolsonaro? São disputas de projetos de poder. Falando a partir de um mundo polarizado de extrema-direita e de esquerda, a gente tem dois projetos de poder que estão evidentes. O bolsonarismo não necessariamente é Jair Bolsonaro; o bolsonarismo é um projeto político que é muito maior que ele. Se ele não vier em 2026, terá outro candidato de extrema-direita. São projetos de poder que se dão a partir da moralidade. Disputas de significados do que é direitos humanos, do que é democracia, do que é liberdade de expressão… Eles buscam não perder privilégio, não perder o espaço; e uma dessas grandes ferramentas para isso são as redes sociais.

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É possível mensurar como as fake news da “mamadeira de piroca” e “kit gay” impactaram as eleições? Pensando nas redes sociais, o algoritmo se alimenta de polêmicas. Quando a gente chega em 2018, surge um vídeo no Facebook falando sobre fake news, de que mamadeira de piroca era distribuída em todas as creches do Brasil. Na época, Fernando Haddad já era candidato. Mesmo depois que o TSE ordenou que tirassem o vídeo do ar, ele já tinha circulado. A mamadeira é mais do que uma mamadeira, é a materialidade do que se absorve em oito anos de discurso inaugural do Bolsonaro. 

Essas notícias falsas eram compartilhadas propositalmente? Na verdade essas pessoas acreditam veemente que é verdade. Não acredito que elas pensam que é falso. Muitas das notícias são compartilhadas em grupos de família, em grupos de igreja, em grupos de comunidade… As pessoas primeiro respondem uma necessidade de acreditarem em um sistema de crenças e ideologias. A maioria  acredita que existiu a mamadeira de piroca, não acho que elas estão fingindo.

O discurso da moralidade segue firme para a disputa de 2026? Claramente. A gente pode ver pela Kamala Harris, ela sofreu coisas mais loucas. São contextos diferentes, lá tem a questão da imigração, que não é pauta aqui. Mas tiveram fake news acusando imigrantes de estarem comendo cachorro. Não gosto de comparar o Brasil com os Estados Unidos, mas a gente sabe que a extrema-direita brasileira tem inspiração no Donald Trump. A moralidade, as questões de ideologia de gênero, marxismo, cultura gay são ferramentas potentes que vieram em 2018 e 2022. Uma coisa interessante é que, atualmente, só falar de homossexualidade não cria tanto espanto, então eles precisam falar de trasnsexualização, cirurgia de redesignação sexual de menores sem consentimento dos pais…

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Essa desinformação faz parte de um processo de desqualificação da mídia tradicional? É mais que isso. O problema não está só no jornalismo, mas no que a pessoa está disposta a acreditar. Se a partir de amanhã ela começasse a ler o jornal tradicional, feito com verificação, não acredito que isso seria a solução do problema. É um processo pedagógico de educação, é um processo que a solução vai vir em gerações, para a gente ter consciência.

Há uma classe social mais afetada? A classe social baixa é sempre mais afetada. São pessoas de classe mais baixa que acreditam que o projeto da extrema-direita vai lhes fornecer segurança, vai lhes fornecer paz, escolas com qualidade, sistemas de saúde com qualidade. São pessoas que, por religião, moralidade, identificação com o militarismo, seja o que for, acreditam nesses projetos e encontram informações que reforçam suas crenças.

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