O chocolate que quer mudar o paladar do brasileiro
Estevan Sartoreli, da Dengo, explica a briga da empresa contra os açúcares em seus produtos
Fundador da Dengo Chocolates, o engenheiro de produção Estevan Sartoreli não quer apenas firmá-la como uma das principais empresas de chocolates do país. Sua proposta é ousada: alinhar preocupação ambiental com toda a cadeia produtiva, além de entregar ao consumidor um produto mais saudável e com menos açúcares – isso num país que ainda não aprendeu a gostar de “meio amargos”. A seguir, o bate-papo com a coluna.
O que faz o chocolate Dengo hoje um dos melhores do país? Nossos chocolates levam mais cacau e menos açúcar, não possuem gordura hidrogenada, livres de aromatizantes e conservantes. Produzimos chocolates bean-to-bar, isto é, artesanais, que preservam a amêndoa de cacau integralmente durante o processo. Combinamos sabor com saúde, valorizando pequenos e médios produtores de cacau, e conservando a natureza.
Como isso é feito na prática? O produtor recebe mais pelo cacau de qualidade que fornece a Dengo. Em 2022, ao consumir um Dengo, o consumidor contribuiu para que o produtor de cacau recebesse 92% a mais pelo cacau em comparação ao mercado. Disseminamos boas práticas de processamento de cacau de qualidade com produtores de cacau de forma gratuita e contínua; e reduzimos a concentração de açúcar em nossas formulações. Nossos chocolates levam, em média 26% de açúcar adicionado. No Brasil, a adição de açúcar na categoria ultrapassa os 50%.
O brasileiro é conhecido pelo gosto por chocolates com muito leite e adocicado. Isso ainda é uma realidade? Sim, mas felizmente a realidade começa a mudar gradualmente. Apenas 11% do mercado de chocolates no Brasil é chocolates amargos, que levam menos açúcar. Na categoria, temos uma regra de ouro: quanto mais cacau, menos açúcar um chocolate possui. Mais cacau é mais saúde para o consumidor e mais negócio para o produtor de cacau. Todos ganham.
Mas é difícil mudar o paladar do brasileiro de uma hora para outra, não? O paladar do brasileiro tem evoluído gradualmente, mas ainda é muito adocicado. Temos compromisso de mudar isto. O açúcar é e será cada vez mais vilão da alimentação. Açúcar vicia e está associado a sobrepeso, doenças cardiovasculares, entre outros danos. Mas vale uma cautela: é mais saudável consumir menos açúcar do que adoçantes. Estudos científicos demonstram que é melhor consumir açúcar com equilíbrio a fazer uso de adoçantes.
Por que o produto meio amargo ainda tem pouco espaço no mercado nacional? Se comparado a EUA, templo do fast food, a participação do chocolate amargo é três vezes maior por lá do que no Brasil. Na Europa, mais de 60% do mercado é chocolate amargo. Brinco dizendo que aqui a gente não tem docinho, tem dengo. Temos limites de formulações, nenhum Dengo pode ultrapassar 30% de açúcar nos produtos. Os 26% que citei ainda é muito no que queremos construir, mas já é menor em relação ao que é oferecido no mercado.
Por que consumimos tão pouco chocolate com mais concentração de cacau? Desde pequenos somos acostumados a consumir produtos com maior teor de açúcar. Outro motivo é o custo. O açúcar é ingrediente mais barato da receita do chocolate. Muitas marcas preferem competir por preço do que diferenciar-se por marca. Alguém está pagando esta conta. Se não é nossa saúde, é a saúde pública. Se não são os produtores de cacau mal remunerados, é a destruição da natureza. Precisamos mudar isto, urgentemente.
Quais são as novidades da Dengo para esta Páscoa? O Kit Caça aos Ovos (72g), composto por doze ovinhos de chocolate 36% cacau para esconder e procurar com a criançada, acompanha tag com patinhas para fazer caminho da caça aos ovos. As brincadeiras de Páscoa ficarão mais divertidas. O Ovo Quebra-Quebra de Morango (260g) produzido com chocolate 36% cacau, que combina morango desidratado e morango liofilizado. Este ano a linha de recheados conta com a edição limitada do Ovo Tamarindo (340g), feito com chocolate 50% cacau e casca recheada com ganache de tamarindo e baunilha brasileira, assinado pela chocolatièr Luciana Lobo.
Quais são os próximos planos de investimento da marca em termos de expansão? Nos últimos meses inauguramos mais três lojas em Salvador e Fortaleza. Em 2023, pretendemos consolidar a marca nas praças de atuação (São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Brasília, Campinas, Belo Horizonte, Salvador, Fortaleza, Ilhéus e Trancoso). Hoje são 33 lojas.