Conheça Gabrielle Gambine, a modelo trans que segue passos da tia famosa
Ela é sobrinha de Roberta Close, uma das pioneiras a desmistificar o corpo trans na mídia

Com olhar apurado para as artes e design, Gabrielle Gambine, 24 anos, lança sua primeira coleção de moda, intitulada “not for casual babes”, onde desenvolveu peças de moda-praia em parceria com a grife Makai Bikini. Sobrinha de Roberta Close, também é modelo trans. Além da carreira nas passarelas, Gabrielle trabalha com direção criativa em um coletivo de serigrafia, formado por pessoas trans e travestis. Cursou a faculdade de Belas Artes, na UFRJ, e fez sua estreia como atriz em “Verdades Secretas 2″, disponível no Globoplay. É carioca, nascida e criada na Zona Central da cidade. A seguir o papo com VEJA.
Roberta Close foi pioneira a desmistificar o corpo trans na mídia. Ela ainda é referência?
Para mim, é e sempre será um privilégio imenso ser sobrinha dessa rainha e lenda que é a Roberta. A palavra trans é um termo guarda-chuva para falarmos de pessoas que não se identificam em diferentes graus com o gênero e performance de gênero designados no nascimento. Muitas de nós não tivemos referências próximas ou amigos como nós na família e no dia-a-dia durante o crescimento e a formação. Ter minha tia por perto foi importante para ter contato com pessoas LGBTQIA+ desde cedo.
Como é a relação de vocês?
A Roberta mora na Suíça e visita o Brasil pontualmente, geralmente duas vezes ao ano. Nossa relação é boa e ela já me deu dicas, mas atualmente falo com minha tia mais a respeito de assuntos familiares – não misturamos vida profissional com pessoal, mas a mídia inevitavelmente nos associa.
Isso te incomoda?
Só me incomoda que, mesmo depois de anos de luta da minha tia, ainda nos reduzam às mesmas questões que vêm sendo tratadas há anos. Quero ver a questão da transexualidade e de nosso parentesco sendo abordadas de forma natural, resgatando nossa humanidade. A maternidade, paternidade e família também são trans e travesti.
Como vê as discussões sobre os direitos de pessoas trans hoje no Brasil?
Vejo muita urgência no debate. Hoje ainda há ausência de políticas públicas que pensem em nossos corpos. Isso gera necessidade de brigar pelos direitos humanos e civis da nossa população. Nosso propósito é ver a sociedade compreender nossa existência e naturalização da nossa identidade. A mulher vereadora mais bem votada do Brasil, Erika Hilton, é uma travesti, preta e periférica.
O mercado da moda também tem preconceito?
A transfobia é estrutural, existe e afeta diversos âmbitos da sociedade, nos mais diversos mercados. Eu acredito que, por ser uma mulher, sempre terei que lidar com o preconceito, o estigma, o machismo, a discriminação.
Já passou por transfobia na moda?
Já sim, assim como qualquer outra pessoa trans que esteja se desafiando a adentrar no mercado de trabalho, nos mais diversos âmbitos. Mas através do meu trabalho consigo construir outra imagem acerca dos corpos trans e travestis, quero buscar usar a representatividade como trampolim para todes.
