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Maria Paula: ‘Envelhecer é desafiador’

Atriz protagoniza pela primeira vez um longa, a dramédia 'Doidas e Santas', que estreia agora nos cinemas

Por Mariana Oliveira
Atualizado em 25 ago 2017, 11h00 - Publicado em 25 ago 2017, 10h38

Drama não é a primeira palavra que vem à cabeça quando se lembra de Maria Paula. Afinal, a atriz de 47 anos passou dezessete deles no humorístico Casseta & Planeta, extinto pela Rede Globo em 2010 e retomado dois anos depois para uma “saideira”. Mas, longe do cinema há cinco anos, desde o longa De Pernas Pro Ar 2, uma comédia, a brasiliense volta para as telonas em um filme que mescla humor e episódios dramáticos, Doidas e Santas. O longa, baseado no livro de mesmo nome de Martha Medeiros, entra em cartaz agora no país.

Sob direção de Paulo Thiago, a atriz interpreta pela primeira vez uma protagonista, Beatriz, uma psicanalista e escritora que, em crise, briga com a mãe, Elda (Nicette Bruno), com a filha, Marina (Luana Maia), a irmã, Berenice (Georgiana Góes), e o marido, Orlando (Marcelo Faria). A VEJA, Maria Paula fala sobre os desafios da atuação, carreira, família e futuro.

Como é voltar ao cinema? Muito prazeroso. Cinema é uma coisa boa de fazer não só porque é uma arte bem-acabada, mas também porque é uma obra que fica para sempre. É tão diferente de fazer televisão, que é uma coisa descartável, onde cada semana tem uma coisa diferente. Às vezes, eu vou para o cinema quietinha, sento na primeira fila, viro de costas para a tela e passo o filme inteiro olhando para trás, para os olhos das pessoas, para ver suas reações. Gosto de ver se elas estão rindo das piadas, se emocionando com os personagens….

Doidas e Santas é um livro que foi também adaptado para o teatro. É possível trazer algo novo sobre a obra? Sem dúvida. Cada versão é absolutamente nova. Tivemos esse cuidado de não nos ater ao que já tinha sido produzido. Não só o texto tem diferenças, como também a trajetória da personagem, que no cinema tem momentos que não existiam no teatro, por exemplo. Também tem essa alegria que eu emprestei para a personagem que eu acho que é uma coisa muito minha.

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O que mais você trouxe para a Beatriz? Ela é uma personagem em crise. Briga com o marido, com a mãe, com a filha, com a irmã, quer mudar de trabalho. Quando eu li o roteiro, fiquei pensando, ‘Cara, como eu vou conseguir fazer uma interface entre a minha praia, que é o humor e a alegria, e a praia da personagem?’. Daí eu fui para um lado com uma inspiração bem “almodovariana”, que é quando a pessoa está em crise, mas, ao invés de ficar chata, fica exagerada. Extrapola na emoção, mas de uma forma que não seja contida e dura. As crises são os momentos em que crescemos, entendemos muita coisa, mudamos e ampliamos os horizontes. Ter essa manha de passar pelo problema com esse olhar é uma sorte, mas nem sempre isso acontece. Às vezes, você começa a reclamar de tudo e a ficar autodestrutivo. Começa a fumar, beber e fazer coisas que vão botar você em um lugar ainda pior do que aquele onde poderia estar.

Passei, passo e acho que ainda passarei por algum tempo porque é difícil lidar com as mudanças do corpo, as mudanças da vida, de tudo. É muito desafiador envelhecer

Maria Paula

O filme mostra isso? O filme é muito bacana porque é uma comédia – tem milhões de piadas e é engraçado para caramba –, mas tem essas entrelinhas, essa sofisticação da vida real, das dificuldades que permeiam todas. É muito bacana para mim como atriz, também. É um prato cheio ter tantas nuances de emoções a trabalhar em cada cena.

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O diretor Paulo Thiago falou que pensou em você para fazer Beatriz por causa da idade. Você passou ou está na crise dos 40? Passei, passo e acho que ainda passarei por algum tempo porque é difícil lidar com as mudanças do corpo, as mudanças da vida, de tudo. É muito desafiador envelhecer. Mas, ao mesmo, é muito bom e muito bonito. A gente começa a ver coisas que não via antes. A crise está presente e é um desafio, mas eu sou do tipo que encaro bem os desafios. Eu não sou do tipo que foge, que fica querendo se distrair, fingir que não é comigo. Não sou desse tipo, não.

Você já pensou em mudar tudo ou parar tudo por um tempo? Já pensei e já mudei. É isso que eu estou fazendo agora. Venho passando verdadeiramente por esse processo em vários níveis. Não só nas minhas escolhas profissionais, como também nas minhas decisões pessoais. Eu, o tempo todo, passo por isso. Assim como Beatriz.

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Você está escrevendo um livro novo agora? Estou escrevendo, mas ainda não está pronto, é provavelmente para o ano que vem. Eu tenho essa veia da escrita já presente na minha vida. Eu escrevo crônicas diariamente. Eu escrevo muito. Gosto de fazer comentários e reflexões sobre as coisas que acontecem comigo, ou com as pessoas e com o mundo. E essa forma rápida e fechada da crônica me atrai muito. O que eu tenho escrito é, sim, ainda neste estilo. Mas eu tenho vontade de me aventurar por outras formas de narrativa no futuro. Eu estou me preparando, mas não tenho ainda nada muito avançado na ficção.

E televisão? Tem planos de voltar nos próximos anos? Tenho planos e convites. Estou analisando com calma, mas ainda não é nada certo e não é nada para agora. Mas eu pretendo voltar sim. Eu gosto de TV e tenho vontade de voltar a trabalhar ao vivo. É um frio na barriga bom estar ali na frente da câmera e saber que aquilo ali está valendo.

Por que, na sua opinião, não tem espaço para o Casseta e Planeta na Globo hoje? A gente ficou dezessete anos no ar. Já deu o que tinha que dar, e outras coisas aconteceram. Foram muitos anos de sucesso. Acho que é natural o movimento de transformação da vida, e veio aí uma outra galera, que faz um outro tipo de humor, e que está lá mandando ver. A Georgiana Góes, minha irmã em Doidas e Santas, faz o programa  no Ar, do Adnet. Olha que lindo isso! E eu acho genial, eu adoro o Adnet.

E você tem contato com a turma do CassetaTenho sempre, com certeza. Somos amigos com um laço afetivo profundo. Passamos a ser família. Eu sou madrinha do filho do Hélio, e a gente se encontra com as crianças, e se adora, e torce um pelo outro o tempo todo.

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