Mãe de influencers: entre maternidade e gestão de carreira dos filhos
Briga entre adolescentes levantou discussão ao envolver os pais

As mães de influenciadores digitais têm acumulado funções que vão além da maternidade tradicional. Dependendo do alcance da celebridade, elas atuam como empresárias, gerenciam agenda, podem ajudar no figurino e filmagem e até defendem publicamente a linhagem quando necessário, como fez Nathalia Braga, mãe da criadora de conteúdo Antonela Braga, 16 anos. Ela veio a público após uma briga envolvendo a filha e Duda Guerra, 17, nora de Luciano Huck e Angélica. Duda foi tirar satisfação com Antonela após esta pedir para seguir Benício Huck em um perfil privado no Instagram. A repercussão afetou ambos os lados. Nathalia, então, fez um vídeo comentando o impacto da polêmica na filha, que ficou “um dia e meio sem comer”, e criticou o envolvimento dos pais na confusão entre os jovens, uma leve alfinetada em Angélica, que curtiu um comentário sobre o tema. “Assunto de adolescentes têm que se resolver com adolescentes”, pontuou.
Esse longo debate, que dominou as redes sociais, também levantou a questão sobre o limite entre afeto e performance nas redes. Até onde é saudável intervir na vida dos filhos? Para destrinchar esse fenômeno, a coluna GENTE conversou com o psicólogo Alexander Bez, especialista em saúde mental, que analisa os desafios dessa “parceria familiar”.
O que leva as mães a se envolverem na carreira digital dos filhos? Antes de qualquer coisa, observo que esse envolvimento costuma estar ligado a fatores como proteção materna, preocupação com os filhos, envolvimento emocional, psicológico, financeiro e até mesmo uma preocupação com o futuro. Há também o apoio logístico e prático no dia a dia. Todos esses elementos se entrelaçam na construção da carreira do filho ou filha enquanto influencer, especialmente quando há um foco em performance e rendimento.
Como o papel materno é impactado quando a mãe também assume funções de empresária do filho? É um desafio enorme, principalmente na gestão das emoções. A mãe precisa aprender a separar o que é pessoal do que é profissional. Distribuir e controlar as emoções diariamente é fundamental, porque há ali uma relação de sangue e, ao mesmo tempo, uma relação contratual, de trabalho. Se essa separação não for bem feita, pode desorganizar a mente da mãe e prejudicar sua capacidade de tomar decisões racionais.
Quando a imagem pública do filho vira uma marca, o afeto pode se misturar com interesses comerciais? Sim, e é mais comum do que se imagina. Se não houver competência para separar o afeto dos interesses comerciais, as relações – tanto profissionais quanto familiares – ficam comprometidas. Nesse contexto, defendo o que chamo de “processo de individualização familiar”: é possível pais e filhos atuarem juntos, desde que respeitem a individualidade um do outro. Isso exige maturidade emocional e uma boa administração das questões financeiras.
Até que ponto é saudável a mãe administrar a carreira digital do filho? Até o momento em que não há imposição ou direção unilateral. O filho ou filha precisa querer, aceitar e participar ativamente do processo. A carreira digital tem que ser um projeto conjunto, e não uma extensão da vontade dos pais. Também reforço: não se deve misturar questões familiares com problemas pessoais em público.
Que orientações o senhor daria para mães que estão começando a acompanhar a carreira digital dos filhos? Eu destacaria os seguintes pontos: explorem o potencial dos filhos, sem impor expectativas desproporcionais; pratiquem a humildade, há sempre algo novo para aprender nesse universo digital; contenham o egocentrismo, pois o foco deve estar nos filhos, não em projetos pessoais; evitem projetar suas próprias convicções, deixem que os filhos escolham seus caminhos; ofereçam suporte e orientação, mas respeitem os limites; mantenham-se atualizadas sobre novas tendências e plataformas; cuidem do tipo de conteúdo que os filhos estão postando, ele deve ser positivo e saudável; e, sobretudo, busquem equilíbrio.