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Luiz Antonio Simas: ‘O Rio não é uma cidade maravilhosa’

Em participação na Flip, historiador fala de suas vivências e referências literárias

Por Giovanna Fraguito, Valmir Moratelli Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 10 out 2024, 16h27

A mesa de abertura da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), que começou nesta quarta-feira, 9, e segue até domingo, 13, ficou a cargo do historiador e autor Luiz Antonio Simas. A 22ª edição da festa tem João do Rio como autor homenageado, um dos escritores mais importantes do início do século 20 no país, e que foi fundamental no relato da história do Rio de Janeiro.

Simas é escritor, professor e historiador, mestre em história social pela UFRJ. Tem mais de 16 livros publicados. Recebeu o Prêmio Jabuti de Livro do Ano de Não Ficção 2016 com Dicionário da história social do samba, que escreveu em parceria com Nei Lopes, publicado pela Civilização Brasileira. Diretamente da cidade no sul-fluminense, a coluna GENTE acompanhou uma palestra de Simas na casa Record, e destaca aqui alguns pontos.

Referência à religião. “A coisa mais natural do mundo para mim é conversar com o caboclo que morreu há 400 anos, Seu Tupinambá, o caboclo da minha tia. As minhas referências são terreiros,  e é a minha referência inclusive para pensar o Brasil, para pensar o mundo, para pensar a rua, para pensar a cidade. Aí entra uma questão até sagrada, eu preciso difundir isso, as referências do terreiro fazem parte da minha elaboração conceitual a respeito do mundo. Conversei muito com seu Zé Pilintra, um filósofo das ruas. O fato de já ter morrido há mais de 100 anos é irrelevante, continua vivo. Fui um garoto fascinado por toda a corte das pomba giras, dos caboclos, dos pretos velhos, das pretas velhas, dos orixás dançando, dos tambores batendo”.

Encantamento das ruas. “Isso alumbrou a minha vida e, de certa maneira, chego perto da rua. E me fez perceber uma dimensão que é fundamental com tudo que eu escrevo. Para as culturas de terreiro, para as culturas encantadas, eu prefiro dizer assim, o contrário da vida não é a morte, o contrário da vida é o desencanto. E o contrário da morte não é a vida, o contrário da morte é o encantamento. Nesse sentido, tem gente andando pelas ruas que morreu e tem gente que viveu aqui há 200 anos e continua viva. Nós temos mortos que continuam dançando e temos vivos que não dançam mais. Quando me perguntam se essa é uma questão de fé, eu respondo sempre de uma maneira muito simples: a fé para mim é um negócio completamente irrelevante, porque lido com isso na dimensão da ritualização da vida. Então é ritual. Nós somos sociedades que ritualizados a maneira de estar no mundo, a maneira como a gente dança, como a gente come, como a gente bebe, como a gente brinca, como a gente faz todo esse tipo de coisa”.

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Referência ao samba. “Conceitualmente, mergulho nas culturas de terreiro, nas culturas do samba, para elaborar conceitos que me permitam pensar esses fenômenos. Dentro da cultura do samba estão inseridas as maneiras como você brinca, dança, come, bebe, ama, celebra o nascimento, lamenta a morte, reza, não reza, briga, se veste é um sistema de organização do mundo. O samba é um sistema que organiza o mundo”.

Conceito de Rio de Janeiro. “Aí vem a questão que me leva à rua, a minha cidade, o Rio de Janeiro é uma cidade diaspólica. Somos uma cidade de diáspora. E o que é uma cidade de diáspora? É uma cidade marcada por tragédias, por translado, por violência. O Rio de Janeiro não é uma cidade maravilhosa. O mito da cidade afável, cordial, é um mito enganador. A própria ideia de cidade maravilhosa. surge no momento de violência simbólica muito grande no Rio de Janeiro. A primeira referência historiográfica à expressão é de 1904. Taí a chave para pensar o Rio de Janeiro, talvez o Brasil, e talvez muitos lugares do mundo, porque toda diáspora conceitualmente é um fenômeno que desagrega. Um fenômeno de violência material, física e simbólica. Por que é uma diáspora? Conceitualmente é um translado forçado de uma determinada comunidade, de um lugar para o outro. E esse translado aniquila a identidade, sequestra a história, aniquila num sentido de pertencimento comunitário. Esse translado é de uma violência terrível, sobretudo no caso do Rio de Janeiro, para as culturas diversas africanas. E tem um detalhe sobre essas culturas que é essencial, fundamental. Dentro da perspectiva das sociedades não brancas, africanos, povos originários, a morte é um fenômeno de aniquilação. Então a tua morte física, não significa que você esteja aniquilado, porque a sua história continuará sendo contada pela comunidade”.

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