Gabriela Duarte: ‘Quero estar em todos os times, falar para todo mundo’
Atriz, que estreia projeto de videocast, fala à coluna GENTE sobre nova fase fora da TV e como foge de comparações com a mãe, Regina Duarte
Amigas há quase 40 anos, as atrizes Gabriela Duarte, 50, e Renata Castro Barbosa, 51, se uniram para lançar o videocast Pod, amiga?, onde conversam sobre temas que variam de sexo a relações com filhos e menopausa. Além do novo programa, Gabriela planeja dois novos projetos para o próximo ano: um livro autobiográfico e um monólogo feminista. Famosa por papéis em tramas de sucesso, como Por Amor (1997) e Chiquinha Gonzaga (1999), a atriz expõe, em conversa com a coluna GENTE, o que a motiva a se manter em outros rumos, longe da TV. Filha de Regina Duarte, 77, que foi secretária de Cultura do governo Bolsonaro (PL) em 2020, Gabriela defende atitude mais acolhedora ao falar de seus projetos. “Quero estar em todos os times, falar para todo mundo. É meu jeito de me movimentar”. A seguir, o bate-papo.
Você começou a carreira na TV e agora migra às redes sociais na tendência dos videocasts. Como surgiu a ideia? Foi despretensiosa. Um dia encontrei a Renata e o Léo, seu marido, e a gente estava falando sobre o livro que vou lançar ano que vem, sobre minha história. A gente começou a relembrar coisas da nossa amizade, da nossa trajetória: a adolescência, os primeiros namorados, a primeira transa. De repente, a gente percebeu que tinha coisas interessantes para falar e de um sentimento de afeto, de amor. Em uma época em que as pessoas não estão vivenciando tanto.
Por que as pessoas têm gostado tanto de discutir tabus? Como é a reação do público? Tenho ouvido coisas ótimas. Foi uma surpresa saber o quanto as pessoas gostam dessas conversas, dessas intimidades, dividir banalidades. Todo mundo acaba sendo parecido em diversos aspectos. E outra coisa que me chamou atenção é poder ter esse espaço com mais autonomia para falar sobre aquilo que se quer falar à vontade. A base do programa é a amizade, tem bastante molho para essa macarronada.
No seu perfil nas redes sociais, volta e meia há comentários de quem tem saudade de te ver em novelas. O que pensa disso? Não fecho nenhuma possibilidade. Tenho hoje mais necessidade do desconhecido, daquilo que não conheço. Tenho a sensação que pensar num produto como novela é quase como se tivesse voltando a fazer o que já fiz bastante, e quero entender caminhos novos. A TV é um lugar onde a autonomia não é sua, não é você que escolhe o personagem. E estou num momento onde quero decidir um pouco mais.
Por isso a ideia de investir em um livro e um monólogo? O livro é um projeto que venho me dedicando já algum tempo, estamos eu e Brunna (Condini) há dois anos e meio nessa abertura de baú, deve ser para o primeiro trimestre do ano que vem. E o monólogo, também é a primeira vez que faço.
E por que um livro autobiográfico? Falo da minha vida, da minha trajetória. Mas gosto de frisar que não é só uma biografia. Quero dividir um pouco da minha trajetória, mas olhando pelo viés da identidade. Quando você tem a sua identidade bem definida, não tem por que pensar nela. No meu caso, tive que pensar bastante a respeito dela ao longo da vida. Ainda mais tendo escolhido a mesma profissão que a minha mãe.
Como lidou com cenário de cancelamento em relação a sua mãe (quando foi secretária de Cultura de Bolsonaro)? Tudo isso está no livro.
Também toca nessa fase política da família? Política está em tudo, está inserida no contexto da vida, é meio clichê, mas tudo é política. O monólogo é feminista, é uma escritora do século passado, uma das pioneiras do feminismo, Charlotte Perkins Gilman. E se hoje a mulher ganhou espaço, olha que ainda falta bastante, é em função dessas mulheres. É dessa forma que contribuo politicamente para a sociedade, através da minha arte.
Você conversou com a sua mãe sobre a ideia desse monólogo feminista? Aí a gente está falando dela. Sou outra pessoa. Sei que isso é óbvio, mas estou me colocando através do livro, através da peça justamente para as pessoas entenderem e conhecerem a Gabriela. Sem ser pela rede social ou pela imprensa. Não estou me expondo a troca de nada, mas em coisas que acredito. Não tenho a necessidade de ir para rede social ou algum veículo dizer: penso isso, sou aquilo e acredito nisso, venha você também’. Tudo que falo tem um motivo. Não sei se ela faria uma personagem como essa, eu faria, me interessa fazer isso. Me interessa como mulher.
Incomoda-se com o fato de que os artistas são cobrados a dar posicionamentos diversos? O artista deveria estar acima disso, a arte deveria estar num outro lugar. Essa questão de se posicionar ‘sou aquilo, então não gosto de você’, a polarização… Se me posicionar, como pessoa pública, vou agradar alguns e desagradar outros. E não quero agradar todo mundo, mas também não acredito na arte como uma coisa que preciso estar em um time. Quero estar em todos os times, falar para todo mundo. Se isso for pretensão, é o meu jeito de me movimentar. Quero poder ter a chance de falar para quem quiser me ouvir. A arte devia estar acima disso.