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Exclusivo: Os bastidores da tensa reunião entre os herdeiros de Gugu

Mensagens expõem o motivo para que filhas queiram união estável da mãe

Por Valmir Moratelli Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 22 jun 2023, 09h41 - Publicado em 31 Maio 2023, 07h01

O imbróglio em torno da herança de Gugu Liberato, morto em 2019, ganhou mais um capítulo. Na semana passada, aconteceu a primeira audiência para determinar se Rose Miriam di Matteo tem direito a parte da herança do patrimônio avaliado em 1 bilhão de reais. Rose é mãe de João Augusto, de 21 anos, e das gêmeas Marina e Sofia, de 19 anos, e tenta na Justiça o reconhecimento de união estável com Gugu – algo defendido pelas filhas e negado pelo filho. Em paralelo, o chef Thiago Salvático também luta para que a Justiça reconheça sua relação estável com Gugu. Em dezembro, o Tribunal de Justiça de São Paulo julgou a relação dos dois como “clandestina” e apenas “amizade”. Salvático recorre da decisão.

A coluna teve acesso com exclusividade a trechos sem segredo de Justiça do processo em tramitação, que evidenciam por que as meninas apoiam a mãe: Marina diz que teria vergonha de ser reconhecida como filha de uma “barriga de aluguel” e teme dilapidação do patrimônio. Também fica claro que as filhas temem reconhecimento de Thiago em relação estável com seu pai.

Em ata do dia 20 de setembro de 2021, a transcrição de uma videoconferência entre os advogados e os filhos de Gugu expõe as calorosas divergências dos envolvidos no espólio bilionário a ser repartido entre eles. É um vídeo de 26 minutos e 50 segundos. A seguir, reproduzimos parte do diálogo descrito na ata. Marina e João, filhos de Gugu, divergem entremeados por “Dra. Angela” e “solicitante”, que vem a ser o advogado Carlos Eduardo Farnesi Regina, ambos da equipe jurídica da família Liberato.

Marina: Cuidar da gente em Orlando não é um projeto de vida?

Dra. Angela: Não. É um projeto de cuidadora. A sua mãe era uma cuidadora, a sua mãe pode ter sido contratada uma governanta alemã.

Marina: Ela não foi uma barriga de aluguel.

Dra. Angela: Igual…

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Marina: É João, cê acha que a nossa mãe foi uma barriga de aluguel?

João: O quê?

Marina: Você acha que a nossa mãe foi uma barriga de aluguel?

João: Mas ela concordou em fazer isso, essa foi a vida que ela quis.

Marina: Tá bom, mas a minha mãe… O meu pai escolheu ela por alguma razão. Não escolheu qualquer pessoa.

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Dra. Angela: A sua mãe foi a única que aceitou. Essa é a diferença.

Marina: Ah tá bom. Fala mais, fala mais. Cê acha que nenhuma outra pessoa ia aceitar?

(…)

Marina: Se ela for reconhecida como união estável… Também nenhuma outra pessoa pode entrar no processo pra tentar também tirar o nosso dinheiro. Não tá certo isso?

Solicitante: Mas quem é essa outra pessoa?

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Marina: O gay lá (risos)… tentou entrar no processo, cê acha que outra pessoa também não ia tentar?

Solicitante: A gente já cuidou dele.

Dra. Angela: É.

Marina: Tá bom. Eu tô falando de outra pessoa que pode tentar entrar, de outra pessoa que pode tentar entrar… Se ela for reconhecida… Qualquer outra pessoa pode entrar… Se ela for reconhecida…

Solicitante: …E ninguém ficou sabendo. Se para sua mãe que teve 3 filhos tá super difícil, você acha que pra alguém que…

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Dra. Angela: Que foi namorado…

João: Exato.

Trecho do processo -
Trecho do processo – (./Reprodução)

Quando o advogado Carlos Regina diz “A gente já cuidou dele”, em referência a Thiago, seria no contexto de que tentaram fazê-lo desistir do processo. Em outro momento tenso da reunião na presença dos advogados, Marina diz que João nem olha para a cara da mãe, Rose. João diz que não odeia a mãe, mas que está sendo atacado por ela. “Eu não consigo falar com ela, porque não me sinto confortável”, diz o rapaz.

Trecho do processo -
Trecho do processo – (./Reprodução)
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João ainda propõe que se faça um acordo para que a mãe se sinta bem, mas nada de considerar sua união estável com o pai. Marina insiste nesta hipótese.

Trecho do processo -
Trecho do processo – (./Reprodução)

Rosa já tem, por direito, uma casa em Aldeia da Serra avaliada em torno de 7 milhões de reais e uma reserva financeira de 500 mil dólares. Os filhos ofereceram no acordo o pagamento mensal de 100 mil reais, tal como é repassado para a avó. Mas Marina quer também que se reconheça, a pedido da mãe, a união que teria tido com Gugu.

Em mensagem enviada para João, Marina expõe o motivo de estar ao lado da mãe: não quer ser reconhecida como a “menina que nasceu de uma barriga de aluguel”. Diz que essa seria uma “imagem ridícula”.

Trecho do processo -
Trecho do processo – (./Reprodução)

Na sequência, João tenta se solidarizar com a irmã, mas reafirma que foi a “vida que a gente teve”. E prossegue: “O papai nunca quis ter um casamento, nunca quis morar junto com ninguém, mas ele queria filhos e ele teve a gente”.

Trecho do processo -
Trecho do processo – (./Reprodução)

Em outro momento, Marina expõe que, além de não querer ser reconhecida como filha de barriga de aluguel, não quer perder dinheiro para outra pessoa que não seja a própria mãe, numa tentativa de manter o patrimônio. “Se ela não for reconhecida como união estável, outra pessoa como o Thiago Salvático pode entrar em um processo contra a gente, e quem não iria querer tentar ganhar dinheiro, né?”, afirma.

Trecho do processo -
Trecho do processo – (./Reprodução)

Em outro documento anexado ao processo, um áudio que seria de Marina e outro de Sofia exemplificaria situações que Rose ficou ausente.

Trecho do processo -
Trecho do processo – (./Reprodução)

Após publicação da matéria, o advogado Nelson Wilians, que atualmente representa as gêmeas Marina e Sofia, entrou em contato com a coluna: “É lamentável que uma conversa parcial entre um advogado e seus clientes, mesmo que sejam ex-clientes, venha a público”. Para ele, “isso demonstra desespero de quem sabe que a Justiça está chegando e não será favorável a eles. E mais: demonstra ainda o acerto das gêmeas em trocar esses advogados, que em nada representavam os interesses delas”. Wilians diz que vai tratar no momento oportuno desse caso na esfera penal. “Além da quebra de confidencialidade da conversa parcialmente divulgada com fins espúrios, foi frontalmente violado o direito à privacidade e intimidade das herdeiras, conforme prevê a Constituição”, diz Nelson Wilians. Reforça-se, entretanto, que o conteúdo da ata divulgado por VEJA é público.

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