Do que se trata o novo streaming de Trump para público conservador
Canal promete programação ‘familiar, patriótica e não‑woke’

Em meio ao tarifaço americano anunciado contra o Brasil, foi anunciado nesta semana um novo canal de streaming lançado pelo presidente Donald Trump, o ‘Truth+’, que chega prometendo uma programação “familiar, patriótica e não‑woke” para o público conservador. Ele será produzido pela Trump Media & Technology Group, e apresentado pelo canal a cabo Newsmax, que também visa ampliar sua presença fora do mercado norte-americano. O serviço estará disponível em diversos aplicativos, incluindo Apple TV, Android TV, Amazon Fire TV e Roku.
Para especialistas do mercado, o lançamento do Truth+ é uma jogada clara de consolidação de narrativa e construção direta de influência. “Trump sabe que, para manter sua relevância política e cultural, precisa ser dono não apenas do discurso, mas também das plataformas que o distribuem”, afirma Edmar Bulla, estrategista de inovação e fundador da Croma Consultoria. “Ao construir um ecossistema próprio de mídia, ele elimina intermediários, controla a curadoria e fala diretamente com sua base de seguidores. É uma estratégia de marca pessoal e domínio simbólico, fato que poucos líderes globais ousaram fazer com tanta clareza e sofisticação”, complementa o especialista à coluna GENTE.
De acordo com executivos da Trump Media & Technology Group, o objetivo é criar um espaço para narrativas fortes, autênticas e livres de progressismo forçado, com um discurso que vai na linha retórica, populista e ultraconservadora. A expectativa é que Trump apareça com frequência na programação, inclusive como apresentador.
Nos Estados Unidos, o nome do canal chamou a atenção e foi bastante comentado nas redes sociais, já que ‘Truth+’ leva verdade no nome, enquanto Trump, em sua vida política, ficou conhecido por espalhar fake news ao longo de suas campanhas. Pelo sim, pelo não, a realidade é que desde o anúncio, no começo da semana, as ações da Trump Media & Technology Group subiram de 0,6% para US$ 19,06 (cerca de R$ 104,21), enquanto as ações da Newsmax caíram de 2,6% para US$ 14,65 (R$ 80,10).
“De todo modo, essa ousadia vem acompanhada de riscos importantes. O maior desafio do Truth+ não é financeiro, mas estratégico. Dinheiro compra tecnologia, infraestrutura e produção, mas não compra relevância nem adesão fora da bolha. Plataformas construídas com forte alinhamento ideológico tendem a se retroalimentar de seus convertidos, o que limita o alcance e dificulta a expansão da audiência. Além disso, o negócio de streaming exige mais do que posicionamento. Requer curadoria de conteúdo, diversidade de temas e um equilíbrio delicado entre entretenimento e informação. Sem isso, o canal corre o risco de ser percebido como apenas uma ferramenta de propaganda, o que reduz seu valor como mídia”, explica Edmar Bulla, estrategista de inovação e fundador da Croma Consultoria, que acrescenta: “Penso que o Truth+ pode sim ter valor como instrumento de manutenção de narrativa. E acredito que esse seja o verdadeiro objetivo. Portanto, não se trata de concorrer com grandes plataformas como Netflix, mas de manter sua base mobilizada, engajada e isolada de ruídos externos. É uma extensão da lógica da polarização, que cria ambientes fechados onde ele controla tanto a pauta quanto a percepção”.