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Diretores da Mostra de Cinema de Gostoso: ‘Aqui é para furar a bolha’

Eugênio Puppo e Matheus Sundfeld são curadores do festival que chega a sua décima primeira edição, no Rio Grande do Norte

Por Valmir Moratelli Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 26 nov 2024, 17h07

A 11ª Mostra de Cinema de Gostoso, realizada nas areias da praia do Maceió, no centro de São Miguel do Gostoso, a 100 quilômetros de Natal (RN), termina nesta terça-feira, 26. O evento conta com dois organizadores: Eugênio Puppo e Matheus Sundfeld. Os dois têm uma preocupação evidente com os aspectos técnicos da projeção e com a valorização dos filmes nos dois espaços do evento que, não à toa, estão sempre cheios. Com 700 espreguiçadeiras e uma tela de 12m x 6,5m, a mostra teve entradas gratuitas e uma programação de filmes, como Baby (2024) e Kubrusly: Mistério Sempre Há de Pintar por Aí (2024).  Os dois “cabeças” da Mostra conversam com a coluna Gente sobre os desafios de realizar o projeto cultural.

Esta é a décima primeira edição. Como é passar do número 10? Quais são os novos desafios? EUGÊNIO: A gente demorou 10 anos para entender essa mostra. E a cada ano acontecem coisas absolutamente inusitadas. E o que a gente percebeu? Para continuar tendo sucesso, não pode se tornar obsoleto. Então nos juntamos, por exemplo, a três curadoras, mulheres pretas e ampliamos ainda mais o olhar dos filmes. Outro ponto é que o fato do filme não ser inédito não é problema, ao contrário dos grandes festivais de cinema. Por último, não é um festival de colegas, de amigos, a gente traz o filme. É um festival para furar “bolhas” (de privilégios, de temáticas etc). A gente faz o festival onde o Brasil faz a curva, estamos no lugar do país mais próximo do continente africano, tudo isso nos inspira. MATHEUS: A programação é mais enxuta também. A gente tem duas salas de cinema, que são construídas na areia da praia, tem toda essa complexidade e os filmes não concorrem na grade entre si. A gente gosta que o público tenha a experiência de viver a programação de forma completa. O público da comunidade vai em peso, famílias inteiras na praia, desde a primeira edição.

E como foi estabelecida essa relação com a comunidade? E: Meses antes da primeira Mostra, fizemos uma série de cursos de formação técnica para jovens. Hoje, a vila é o maior polo de produção audiovisual do Rio Grande do Norte. E os filmes ganharam projeção… o prêmio no festival de Los Angeles, foram licenciados pela TV Cultura, pelo Canal Brasil… Esse laço com a comunidade tem muito a ver com os cursos de formação.

Qual é o tamanho da Mostra em números? E: De pessoas diretamente envolvidas na produção do projeto são mais de 120. A maior parte da mão de obra e dos serviços sé daqui de São Miguel. A projeção é de São Paulo, porque não tem aqui, mas o som é de Natal. Sábado, tínhamos mais de 2.500 pessoas. Entre sábado e domingo tranquilamente, ficamos com 5.000 pessoas. A gente não faz show. Show você pode colocar 10.000 pessoas. No cinema, você tem que estar bem acomodado. A mostra é uma sala de cinema popular a céu aberto.

Quanto custa colocar um festival desses de pé? E: Dois milhões de reais, e a gente ainda não ganha dinheiro. É muito caro. Para nós, é motivo de grande orgulho ter essa qualidade, poltrona gostosa, projeção de primeira, o som etc. Com a estrela, com ar condicionado natural, o vento da cidade.

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Qual é o olhar de vocês, enquanto festival, para as políticas do Ministério da Cultura? M: Em alguns momentos tiveram editais a nível federal, mas nunca uma política continuada. Eles surgem, desaparecem. Isso falando de festivais, claro. E: Tem um desequilíbrio ainda grande, não vingou essa ideia democrática de festivais. O grande questionamento é que, além de olhar para as políticas normativas, sim, precisamos contemplar todo mundo. Tem muitos com projetos incríveis que não estão sendo contemplados. M: Até porque o mercado de streaming não foi regulamentado, filmes brasileiros não acessam este meio ainda. TV aberta, basicamente, não existe para o cinema nacional né? É preciso pensar numa faixa brasileira onde os filmes vão passar. E: Não tem um calendário de editais e o festival depende de filmes produzidos, finalizados… Tem que se pensar o cinema como qcadeia produtiva a longo prazo, incluindo os festivais nessa rodada de negociações a cada ano.

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