Como funciona um hotel liberal no Rio: sexo e nudez em áreas comuns
Jane Brito, sócia-fundadora da RioZin, falou com a coluna GENTE: 'Religiosos ou defensores da moral fazem críticas agressivas'

Com o aumento de casais adeptos a práticas de swing no Brasil, algumas hospedagens voltadas para atender aqueles que buscam viver a sexualidade com liberdade, chamadas de “hotéis liberais”, também tem crescido por aqui. Localizada na Praia dos Amores, na Barra da Tijuca, a pousada RioZin foi a primeira da cidade a permitir nudez e sexo em ambientes comuns. Além de promover festas temáticas à noite, piscina aquecida durante o dia, banhos de espuma, DJs e um espaço seguro para os hóspedes, casais e solteiros. Jane Brito, sócia-fundadora da RioZin, conversou com a coluna GENTE sobre as atrações ousadas da pousada e o preconceito enfrentado.
Como funciona um hotel ‘liberal’? O ambiente liberal é um espaço livre de preconceitos, onde as pessoas têm a liberdade de expressar sua sexualidade sem serem julgadas. Num hotel liberal como a RioZin, essa vivência vai além de uma simples festa. A experiência é mais imersiva, porque a pessoa se hospeda em uma suíte e geralmente passa todo o final de semana por aqui. É muito diferente de uma casa de swing, onde a pessoa vai e fica apenas por algumas horas. É um espaço onde a liberdade encontra o conforto. E tudo acontece com respeito e consentimento.
Quantos clientes costuma receber por mês? A gente recebe, em média, 180 hóspedes por mês, mas o maior movimento mesmo vem dos nossos eventos. Mais 2.000 pessoas por mês participam das festas da RioZin, seja no day use (sábado e domingo de dia) ou night use (sexta e sábado à noite).
Qual é a melhor temporada? Temos alta ocupação durante o ano todo, especialmente nos finais de semana, quando mantemos uma taxa de ocupação acima de 80%.
Qual o perfil dos clientes? Há clientes “fiéis” ao hotel? O público é bem diverso, a partir de 18 anos de idade, mas a maioria está entre 30 e 60. Metade já é recorrente, muitos nos visitam mais de 10 vezes. Temos, aliás, clientes que já vieram mais de 80 vezes nesses dois anos de funcionamento.
Além das regras do site (o “não” deve ser sempre respeitado; e é vedado o assédio ou a prática de qualquer ato libidinoso com funcionários), existe seleção dos hóspedes? Não fazemos uma seleção formal, mas controlamos a proporção de perfis para manter o equilíbrio e o conforto de todos. Por isso, os valores para homens solteiros são mais altos do que para casais — o que ajuda a limitar esse público sem precisar restringir. Também temos três manuais com orientações específicas: um para casais, um para solteiros e um para solteiras. Recomendamos a leitura antes da visita, e no caso dos solteiros, fazemos a leitura guiada do manual na primeira visita, para garantir que a proposta da pousada seja bem compreendida.
O mercado carece de mais hotéis ‘liberais’? A ideia da RioZin surgiu da nossa própria vivência. Eu e meu marido começamos a explorar o meio liberal em 2020, viajando por destinos onde esse estilo de vida é tratado com naturalidade, estrutura e acolhimento — como nos resorts Desire e Temptation, no México, e o Hedonism II, na Jamaica. No Brasil, percebemos que faltava justamente isso: um espaço completo, que fosse além de uma balada ou casa de swing. O público liberal brasileiro estava crescendo, principalmente com o aumento do uso de aplicativos voltados a esse universo.
O Rio abriu os braços para o conceito do hotel ou vocês precisam lidar com preconceitos na vizinhança? Sim, enfrentamos bastante preconceito. Infelizmente, isso ainda é comum quando se fala de liberdade sexual… Principalmente quando quem propõe esse diálogo são mulheres. Recebemos denúncias indevidas de vizinhos, perdemos quatro contas no Instagram por excesso de denúncias, e quando uma postagem nossa extrapola a bolha liberal nas redes, os comentários negativos costumam vir em massa.
Quem costuma atacá-los? Muitas vezes são pessoas que se dizem religiosas ou defensoras da moral, mas que fazem críticas agressivas, sem buscar entender. Existe também um grande equívoco: muitas pessoas confundem o que fazemos com prostituição, o que não tem nada a ver com a proposta da RioZin. Inclusive, a prostituição é proibida na pousada, porque o foco é a liberdade consensual, o respeito mútuo e a autenticidade nas relações.

