Cinnara Leal, de Fuzuê: ‘Todo brasileiro é sofredor em potencial’
Atriz interpreta Cecília na novela das 7 da TV Globo

Esqueça toda a musicalidade e romance de Fuzuê, sempre que vir Cinnara Leal, 45 anos, em cena. A atriz interpreta a angustiada Cecília, que busca por justiça e reconstrução da sua vida, após uma tragédia familiar, na qual perdeu os pais. Em conversa com a coluna, Cinnara fala da sua nova fase profissional e como isso também é parte do reflexo da realidade brasileira.
Sua personagem guarda vários segredos e angústias. É um contraponto ao clima festivo da novela? Cecília é um mistério, ela é um segredo, vem de uma tragédia atrás de vingança. Então é um drama, um contraponto de todo o entretenimento e alegria de Fuzuê, ela vem vingar a morte dos pais. Ela perde a casa, perde o laço familiar.
Fazer uma sofredora é mais fácil sendo brasileira? Ela é uma sofredora em potencial, como todo brasileiro é, me inspiro muito na nossa realidade, no dia a dia. Ela faz dessa dor um movimento para se resgatar. Está todo mundo em busca de alguma coisa. Cecília, por exemplo, está em busca dela mesmo, de reconstruir a própria história.
Você teve que estudar lutas marciais para o papel? Estou fazendo kung fu e boxe. Ela é uma boxeadora e a analogia que faço é com a guarda alta, ela sempre precisa manter, porque senão um golpe pode ser fatal ao infiltrar entre os inimigos. Ela descobre quem botou fogo na casa, vem fazer com que essa pessoa seja presa e pague pelo que fez.
Parte da trama se passa no subúrbio carioca. Fale um pouco desse universo, que você conhece bem? É uma novela alegre e verdadeira. Falar do subúrbio do Rio é muito importante, eu como suburbana, nasci em um conjunto habitacional da Penha. São vivências que precisam de visibilidade, pessoas que se ressignificam todos os dias, que acordam às quatro horas da manhã, pegam ônibus, estão ali para acolher o vizinho. Tenho vizinhos que chamo de tios até hoje. Essa vivência como história central é importantíssima para essas pessoas se identificarem.
O público também tem cobrado mais essa representatividade. É reflexo do momento atual do país? Acho que a cultura reflete uma realidade mundial, o mundo está querendo se ver, se enxergar. A rede social proporciona isso. É uma evolução que a gente está vivenciando. A gente não está deixando de herança, está podendo viver. Nenhum preconceito nos limita, nenhuma dor nos define.
A novela trata, de algum modo, desse tema? Acredito que sim. A partir do momento que ela coloca atores de tamanha diversidade, já está falando disso. É bom também naturalizar esses corpos, essas pessoas falando de outras coisas, é a chave. Você não precisa ter uma pessoa falando só de racismo, preconceito, homofobia, assédio. A gente precisa sentir, não só ver, mas sentir isso para que essa mudança efetivamente aconteça. A novela escalou bastante atores negros em todos os núcleos, estão totalmente diversificados e vivos. E isso é muito rico para a novela, a emissora e a cultura desse país.
Qual foi grande ‘fuzuê’ que você teve na vida? Tantos! Deixa eu ver se posso contar… Já entrei pela porta dos fundos de uma boate (risos), pela cozinha, para poder curtir uma noitada no Leblon. Era maior de idade, mas não tinha dinheiro. E aí a gente ficava amiga dos seguranças. Era muito divertido.