‘Cinema é ato político’, diz Raquel Hallak, à frente da Universo Produção
Presidente do Cine OP, festival de cinema de Ouro Preto (MG), falou com a coluna GENTE

Chegando a sua 20ª edição, o Cine OP, festival de cinema de Ouro Preto (MG), que se encerra nesta segunda-feira, 30, tem como base a discussão sobre memória e preservação no audiovisual. Raquel Hallak, à frente da Universo Produção desde 1994, é responsável por levar a mostra às ruas históricas da cidade mineira, que abraça a festividade – entre exibições na praça, shows gratuitos e debates acalorados no centro de convenções. Fundadora e coordenadora do Cinema Sem sem Fronteiras –programa internacional de audiovisual que reúne os projetos da Universo Produção no Brasil, com destaque também para Mostra de Cinema de Tiradentes (realizado em janeiro, com foco no cinema contemporâneo brasileiro) e o CineBH –Festival Internacional de Cinema de Belo Horizonte (marcado para outubro), ela fala à coluna GENTE sobre o bom momento do cinema nacional.
VINTE EDIÇÕES. “É um evento único no Brasil dedicado à preservação, história e educação. Quando ele nasce em 2006, é com o propósito de tratar cinema como patrimônio, na cidade de Patrimônio da Humanidade. O Brasil, naquela época, não tinha um banco de dados para falar sobre os filmes que já tinham sido produzidos, o estado da cópia desses filmes, quem era dono desses filmes… A Mostra de Ouro Preto nasce com essa inquietação de mostrar que não adianta a gente produzir no presente sem pensar o acesso no futuro. E preservar não é só guardar, não é só proteger, é dar acesso. Ninguém pensava assim”.
FORÇA POLÍTICA DO CINEMA. “O cinema é um reflexo de um país. O que a gente está vendo hoje nas telas, na contemporaneidade do cinema, é o reflexo do que está acontecendo no Brasil e no mundo. As influências, o comportamento, as inquietações, os assuntos, as abordagens, a forma de contar a história, tudo isso é um reflexo do momento que a gente vive. O cinema é um ato político, é essencialmente político”.
EFEITO DAS COTAS. “A gente realiza, paralelamente à Mostra, o Brasil CineMundi, encontro internacional de coprodução. E ele tem um foco no desenvolvimento de projetos, trazemos a indústria para conhecer esses projetos. Há muito tempo o Brasil tem ganhado as telas do mundo. É um movimento impressionante, mas muitas vezes invisibilizado. Quando a gente faz esse movimento de trazer a indústria, é para quê? Para achar parceiros, para coproduzir, para o cinema brasileiro circular. Um dos grandes destaques é Marte 1, filme feito com 1 milhão e meio de reais, no único edital da Ancine, de baixo orçamento, também para cota negra; e ele consegue uma vitória. É o contrário do Ainda estou aqui. Eles não tinham dinheiro nenhum. Sai de uma periferia e ganha o mundo”.
MARÉ BOA. “Ainda estou aqui tem tantas sutilezas nessa campanha, nesse envolvimento com o público, na comoção nas redes sociais. Tantos desdobramentos que o Oscar ficou pequeno perto da grandeza que o filme proporcionou. Não acho que é de agora. A gente teve seis anos de desgoverno, seis anos que isso não ficou visível para o Brasil”.
STREAMING COMO ALIADO. “O streaming tem que ser um grande aliado. A gente não está aqui para brigar contra o streaming. O que a gente tira dali? Alcance, resultado em larga escala, que é diferente do presencial. Os dois são complementares. O que precisa é regulamentação do streaming. A gente quer saber como está sendo cotado o cinema brasileiro, conhecer os números, porque esses números são indicadores fundamentais para construção de políticas públicas. E que paguem impostos. Dedicar uma porcentagem para retomar no próprio país”.