Bruno Gagliasso lança projeto para remunerar quem deixa floresta de pé
Ator fala a VEJA sobre a Pachamama Trading, empresa criada com o sócio João Marcello Gomes Pinto
Recentemente, Bruno Gagliasso lançou com seu sócio João Marcello Gomes Pinto, em parceria com a BMV Global, a empresa Pachamama Trading, dedicada ao mercado de unidades de crédito de sustentabilidade (UCS). Com um discurso de que “a floresta de pé dá dinheiro e remunera”, Gagliasso defende que quem cuida atualmente da Amazônia são, em sua maioria, pessoas de baixa renda. Por isso, procurou um modelo de remuneração para que a conservação aconteça. O ator participou do Fórum Internacional Amigos da Amazônia 2023 – iniciativa do Instituto Amigos da Amazônia (iAMA), organização sem fins lucrativos sediada em Portugal. Em conversa com a coluna, o ator também falou das expectativas quanto à votação o Marco Temporal no Senado.
Em entrevista recente, você comentou que “a floresta não pode ser vista como filantropia”. Por que é importante que a floresta também seja vista pela ótica comercial? Enquanto as florestas não forem vistas pela ótica comercial, não conseguiremos ter sucesso na preservação ambiental e, consequentemente, na garantia da vida para as futuras gerações. É preciso conscientizar os produtores rurais, empresas e a sociedade civil que a floresta em pé remunera, traz lucro e rentabilidade, além de atingir seu objetivo principal: a preservação da biodiversidade. A preservação do meio ambiente não deve ser encarada mais como um passivo e, sim, como um ativo.
A iniciativa da Pachamama Trading é uma forma de comercializar as denominadas UCS. Como isso afeta o dia a dia das comunidades que vivem em florestas? A Pachamama Trading é uma joint venture, resultado da união entre Pachamama Investimentos e a greentech BMV Global. Isso é possível porque há ativos originados em cinco núcleos florestais, que promovem a preservação de cerca de um milhão de hectares de florestas, que formam um cinturão verde de conservação. Cada UCS equivale a um pacote de 27 serviços ambientais, hoje cotada em R$ 160. As UCS são lastreadas em CPR Verde registrada na bolsa de valores B3 e tokenizadas em blockchain. A CPR Verde é um título de crédito destinado aos produtores rurais para que comercializem serviços ecossistêmicos, como as atividades de conservação ou recuperação de florestas. O grande diferencial é que as UCS podem ser adquiridas por todo tipo de público.
Você comenta que as questões ambientais te chamam atenção por representarem um legado para seus filhos. Você já explicou essas questões para eles? Sim, falamos sempre da importância da preservação do meio ambiente e arrastamos pelo exemplo. No rancho que temos no interior do Rio de Janeiro, estamos empenhados na plantação de 50 mil árvores, processo do qual as crianças também participam e se empolgam, porque sabem de seus papéis como cidadãos na preservação do meio ambiente.
O que falta para mais pessoas serem engajadas na área? Meu maior objetivo nas causas e projetos que têm foco na preservação do meio ambiente é a conscientização da população. Na minha visão, existe uma falta de informação da população como um todo.
Por quê? Pelo fato de a Amazônia estar distante dos grandes centros, como São Paulo e Rio de Janeiro, as pessoas desconhecem o que ocorre na região. Vi com os meus próprios olhos a floresta pegar fogo e, por isso, me tornei uma pessoa engajada. O que muitos não sabem é que, quem realmente preserva a floresta, são pessoas que muitas vezes não têm o que comer. É preciso remunerá-las pela preservação ambiental e fazer a economia verde girar.
Nesses primeiros meses de governo Lula, para você, as expectativas estão sendo atingidas na questão ambiental? O atual governo, definitivamente, está mais alinhado com projetos relacionados à preservação da biodiversidade, apesar de ainda serem necessárias muitas melhorias na área e mais fiscalização para conter o desmatamento.
A pressão da base ruralista do Congresso te preocupa, por exemplo, quanto ao Marco Temporal? Confio que os parlamentares avaliarão com cuidado os impactos dessas decisões para as comunidades que ocupam esses locais. O foco da Pachamama sempre vai ser a conscientização de empresas e da sociedade como um todo sobre a importância da preservação dos biomas nativos. Para que elas entendam que, apesar de não poderem produzir em toda a região, irão receber também pela preservação.