‘A crença no religioso pode trazer perigos’, diz ganhadora do Pulitzer
Tracy Smith, vencedora do prêmio na categoria Poesia, lança primeiro livro no Brasil

Tracy Smith, 53 anos, veio ao Brasil pela primeira vez para lançar Vida em Marte (2011, Ed. Relicário Edições), livro de estreia em território nacional. A obra, considerada uma das mais notáveis segundo o New York Times Book Review e vencedora do Prêmio Pulitzer de Poesia, explora os sentimentos de luto após a morte de seu pai. Tracy constrói essas emoções em uma metáfora marciana, onde o espaço exterior é sinônimo daquilo que não pode ser completamente conhecido. “Lembro de especular com minha professora e colegas, mais de 40 anos atrás, sobre se havia água no planeta, e debater se nós, humanos, um dia colonizaríamos o espaço sideral. Na época, não percebia o quão terrível era esse verbo, mas hoje me assusta pensar nesse impulso de repetir padrões históricos que tiveram um custo tão violento para a vida humana e para a própria Terra”, diz à coluna GENTE.
Tracy explica que essa pegada futurística de um dia colonizar o planeta inspirou-a a juntar a tristeza com a morte de algo com o universo. “Parte do luto em Vida em Marte é tristeza pela devastação que acompanha tantas das escolhas de nossa espécie neste planeta”. Caso essa colonização ocorra, os danos seriam irreversíveis, assim como a morte de seu pai, que também a ajudou no processo de escrita. “Quando meu pai morreu, no início parecia que um erro havia acontecido, como se logo alguém fosse aparecer dizendo que tudo não passava de um engano, e que tudo voltaria ao normal. Foi por isso que comecei a escrever poemas sobre ele — porque o ato de lembrar me trazia de volta a sensação crível de sua presença”.
Para se consolar, Tracy buscou respostas em diferentes áreas como ciência, religião e arte – para ela, as três ajudavam-na a criar uma imaginação criativa. No entanto, a crença no religioso também pode trazer diversos perigos para a sociedade. “A maioria das fés prioriza o amor, a humildade e a compaixão. Acho que esses valores estão longe de ser perigosos. O que torna algo perigoso é o desejo de usar o dogma — que muitas vezes é uma distorção da doutrina religiosa — como meio de exercer controle sobre os outros. Isso também move as engrenagens pelas quais algumas facções políticas buscam dominar outras e retirar direitos dos mais vulneráveis. O apetite pelo poder é o que representa o verdadeiro perigo”, completa.