No ritmo da salsa: a decisiva batalha de Kamala e Trump pelos latinos
Com parcela de 18 milhões de pessoas, hispânicos vão às urnas em número recorde e podem decidir a disputadíssima eleição americana
Comitês responsáveis pela campanha da vice-presidente, Kamala Harris, e do ex-presidente Donald Trump iniciaram nas últimas semanas uma guerra midiática pelos corações e mentes do eleitorado latino.
A ofensiva alcançou novos patamares com o recente anúncio republicano em que Trump dança ao som de salsa, enquanto se ouve a letra de “Que mala és Kamala”.
Com 33 segundos de duração, o vídeo traz Trump usando seu boné habitual Make America Great Again (Faça a América Grande de Novo), em um carrinho de golfe.
Em seguida, entra a música “Juliana”, do grupo de salsa Dark Latin Groove, de ascendência porto-riquenha, um hit dos anos 1990. Imagens de Trump movendo seus braços e pés em vários eventos de campanha são colocadas durante a música, dando a aparência de que ele está dançando salsa.
Uma imagem mostra Kamala Harris rindo alto, a mesma risada que Trump descreveu no passado como “a gargalhada de uma pessoa louca”.
O vídeo foi lançado como parte das comemorações do início do Mês da Herança Hispânica.
Trata-se de um aceno aos quase 18 milhões de eleitores latinos que devem ir às urnas nas eleições de 5 de novembro, um número recorde.
Isso representa 6,5% a mais de latinos na comparação com o último pleito, em 2020, de acordo com projeções da Associação Nacional de Autoridades Eleitas e Nomeadas (Naleo). Em outras palavras, um em cada 10 eleitores será latino.
A disputa mostra que o cenário de hoje é diferente daquele encontrado por Trump em sua primeira eleição, em 2016.
Isso porque a comunidade hispânica está cada vez mais influente na sociedade.
Assim, se há oito anos Trump não hesitava em dizer que nos Estados Unidos “falamos inglês, não espanhol”, ele agora aposta na coalizão Latino-americanos por Trump, que desde junho reúne latinos conservadores em áreas como educação, esportes, comunicações.
Também é muito mais cuidadoso ao falar sobre deportações, restringindo a medida drástica aos desvalidos que chegam ilegalmente pela fronteira com o México.
Os eleitores hispânicos serão essenciais também nos swing-states de Arizona e Nevada E podem desempenhar papel fundamental na Pensilvânia, outro estado indeciso, onde a campanha de Harris iniciou nesta semana uma ofensiva de relações públicas no chamado “Cinturão Latino”.
O Partido Democrata tem plena consciência da importância dos latinos. Em 2020, eles fizeram parte da coalizão de eleitores que catapultou Joe Biden à Casa Branca.
E sabe que a situação de Kamala não é fácil.
Na comparação com a eleição de 2020, os democratas sofreram uma queda de 10 pontos percentuais entre latinos, aponta uma pesquisa feita pelo jornal New York Times e o instituto Siena.
Hoje, Kamala tem 55% dos votos hispânicos contra 41% de Trump. Quatro anos atrás, Biden ganhou 65% dos eleitores hispânicos contra 32% de Trump.
Não por coincidência, sua equipe de campanha acaba de contratar quatro consultores hispânicos, e vem despachando representantes para os estados-chave com o objetivo de mobilizar apoio latino.
Até o marido de Kamala, o segundo cavalheiro Doug Emhoff, entrou no esforço de guerra, discursando em um evento para latinos.
Kamala tem pouco mais de seis semanas para virar a maré a seu favor em estados-pêndulo, onde nenhum partido tem maioria, como Pensilvânia, Nevada e Arizona.
Analistas advertem que sua vantagem sobre Trump ainda é insuficiente para garantir os delegados que faltam, e que portanto ela precisará de mais votos latinos do que está recebendo atualmente.
Um de seus principais desafios é a Pensilvânia, onde a população latina experimenta rápido crescimento demográfico, somando 600.000 pessoas, no momento em que a tradicional classe média branca vem minguando em redutos democratas como acontece na cidade de Allentown, a terceira maior do estado.
A batalha, por sinal, seguira a pleno vapor nos próximos dias.
Os dois já concordaram em aparecer em canais de TV voltados para o público hispânico nas próximas semanas. Um deles será um programa de perguntas e respostas com eleitores indecisos organizados pela Univision, o maior provedor de conteúdo de língua espanhola dos Estados Unidos.
Na disputadíssima eleição americana, nunca o voto latino foi tão disputado.