Como Obama teve papel ativo para turbinar trajetória política de Kamala
Apoio de ex-presidente já gera lucros para Partido Democrata
Então promotora distrital em San Francisco, Kamala Harris foi uma das primeiras pessoas a chegar à escadaria do antigo Capitólio de Illinois, em fevereiro de 2007, quando o pouco conhecido senador Barack Obama lançava sua improvável candidatura à Casa Branca. A decisão era um risco político e tanto, visto que ela era uma das poucas promotoras eleitas na Califórnia e parte de um número ainda menor, dentro do Partido Democrata, que ainda não havia demonstrado apoio a Hillary Clinton.
A aposta de Kamala deu certo e Obama nunca se esqueceu disso. “Ela era apenas uma firme apoiadora do presidente em uma época em que todo o establishment político não estava com ele”, resumiu Buffy Wicks, um dos primeiros contratado para a campanha presidencial de Obama. “Ela reservou tempo e energia significativos para ajudar a elegê-lo, e isso foi muito apreciado por ele”.
Ambos são americanos não brancos, uma experiência compartilhada que, possivelmente, aproximou os dois. Durante a primeira campanha presidencial de Obama, Kamala, filha de uma cientista indiana e de um professor de economia jamaicano, ia de porta em porta explicar as complexidades da identidade de Obama a eleitores e pedir doações.
Já presidente, em 2010, quando Kamala concorreu ao cargo de procuradora-geral da Califórnia contra um popular adversário republicano, Obama tirou um tempo para participar de um comício, no qual discursou sobre sua “querida amiga”. Kamala venceu por menos de um ponto percentual aquela disputa.
Quando ela decidiu se lançar ao Senado, em 2016, ele esteve lá novamente, no fim do seu segundo mandato como presidente.
“Kamala é uma promotora com apenas um cliente: o povo do estado da Califórnia. Essa é a abordagem que ela adotará para o Senado dos Estados Unidos”, disse o então presidente. Ela venceu facilmente a eleição, se tornando a segunda mulher negra a entrar no Senado americano.
Kamala lançou-se como pré-candidata à Presidência em sua cidade natal, Oakland, diante de uma multidão de 20.000 pessoas em 2019. Como todos os outros candidatos disputando a nomeação democrata, ela encontrou-se, claro, com Obama para defender sua candidatura.
Obama, cujo próprio vice-presidente estava montando uma candidatura eleitoral, queria ficar fora da briga política e esperar até que o partido selecionasse seu indicado antes de oferecer seu cobiçado endosso. A campanha dela fracassou em menos de um ano, mas Joe Biden a convidaria para ser sua vice, uma opção supostamente apoiada pelo amigo de longa data.
Com a desistência de Biden na corrida deste ano, a vice-presidente recebeu a missão de tentar ser a primeira mulher presidente dos Estados Unidos. E quem estava lá, no palco, para endossá-la? O ex-presidente, claro. Na Convenção Nacional Democrata, trocou seu “Yes, we can” (Sim, nós podemos), por “Sim, ela pode”.
Desde então, ele virou uma espécie de conselheiro político, chegando a ajudar na escolha do companheiro de chapa e “emprestando” alguns veteranos que já provaram seu valor para dar mais peso à campanha em assuntos como arrecadação de fundos e esforços para mobilizar eleitores.