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Thomas Traumann é jornalista e consultor de risco político. Foi ministro de Comunicação Social e autor dos livros 'O Pior Emprego do Mundo' (sobre ministros da Fazenda) e 'Biografia do Abismo' (sobre polarização política, em parceria com Felipe Nunes)
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Pressionado, o PT muda o rumo

Campanha Lula muda estratégia na reta final

Por Thomas Traumann Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 24 out 2022, 15h18

O PT piscou. Depois de uma série de pesquisas mostrando a redução consistente da vantagem do ex-presidente Lula da Silva sobre o presidente Jair Bolsonaro, pela primeira vez o comando da campanha entendeu que pode perder a eleição de domingo. A mudança de rumo está em andamento e revela o quanto o PT está preocupado.

A agenda de Lula foi reduzida e o candidato vai passar a semana em São Paulo. Na semana passada, o ex-presidente cancelou uma desgastante viagem para Manaus e fez em Teófilo Otoni, no nordeste mineiro, o seu primeiro comício ao lado da candidata derrotada Simone Tebet, do MDB. Em Juiz de Fora, Lula pela primeira vez disse em discurso que “essa vitória (sobre Bolsonaro) não é minha, mas dos brasileiros”. A frase é uma correção da declaração messiânica do debate na Band, quando Lula disse que a eleição seria um “presente de aniversário” dos brasileiros a ele. O candidato completa 77 anos na quinta-feira, 27.

O choque de realismo chegou ao PT como numa avalanche. Na semana passada, a distância nos votos totais no IPEC variou de 9 para 7 pontos percentuais. No Ipespe/Abrapel, a vantagem foi de 8 para 7, na Genial/Quaest de 8 para 5, e no Datafolha de 6 para 4 pontos. Embora as pesquisas não sejam metodologicamente comparáveis, elas retratam a mesma curva de aproximação dos dois candidatos.

O símbolo desse novo espírito é o vídeo divulgado pela presidente do PT, Gleisi Hoffmann, no qual ela admite que “a eleição está apertada. É uma disputa dura. Eles querem virar o placar e estão se aproximando e nós não podemos deixar isso acontecer pelo bem do Brasil, do povo brasileiro e da nossa democracia. Mas Lula só vai ganhar se você for votar. Esse deve ser nosso lema nessa reta final porque muitos não foram votar (no primeiro turno) porque achavam que Lula já estava eleito”.

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O vídeo é uma mudança significativa no oba-oba petista. É contrafactual supor que 2 milhões de eleitores de Lula não foram às urnas em 2 de outubro por excesso de otimismo, mas o fato é que o clima de ‘já ganhou’ havia sido incentivado pelos discursos do próprio candidato e pela decisão da campanha de reservar trecho da avenida Paulista para o ato da vitória.

Com o resultado incerto, a agenda de Lula passou a priorizar o debate da Globo, marcado para sexta-feira (28). Depois dos desempenhos ruins, ele passará três dias treinando. Na segunda-feira (34), ele vai para um ato suprapartidário na PUC, de São Paulo, com a presença do ex-presidente do STF Joaquim Barbosa e do ex-ministro Henrique Meirelles.

Barbosa e Meirelles são dois nomes estranhos ao petismo, mas que podem ajudar nos calcanhares de Aquiles da campanha Lula, a corrupção e a instabilidade econômica. Relator do processo do Mensalão, o primeiro a levar petistas a cadeia por corrupção, Barbosa é um símbolo de correção. Presidente do BC na pior crise financeiro do mundo, Meirelles tem mais credenciais de responsabilidade fiscal que qualquer economista das fileiras petistas.

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O medo da derrota mudou o tom da propaganda de TV do PT. As peças que insinuavam que Bolsonaro era satanista, canibal e pedófilo, foram substituídas por uma crítica concreta, sobre como a liberação de armas patrocinada pelo atual governo aumentou a morte de crianças por acidentes domésticos e ampliou o poder de artilharia das quadrilhas. Novos programas de TV atacarão Bolsonaro com mais objetividade, criticando a proposta de Paulo Guedes de acabar com a correção do salário mínimo pela inflação, e usando mais as imagens de não-petistas, como Tebet, Meirelles e Barbosa.

No domingo (23), o comando da campanha do PT decidiu divulgar um documento econômico, mas nada com o detalhamento sugerido pelo mercado financeiro. A intenção era colocar pontos que podem conseguir votos da maioria mais pobre.

· o Auxílio Emergencial com R$ 150 extra por filho em idade escolar;

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· Aumento do salário mínimo acima da inflação;

· O reajuste do valor de isenção do imposto de renda para R$ 5.000 (hoje é de R$ 1.903);

· Garantia de governo para renegociação das dívidas das famílias (hoje 8 de cada 10 famílias tem alguma conta atrasada);

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A intenção é retomar a pauta da economia popular, que o PT abandonou nas últimas semanas ao descambar para o pântano do debate sobre valores bolsonaristas.

Lula está movendo o transatlântico da campanha nesses dias finais porque, de fato, nunca se preparou para um segundo turno. O ex-presidente supunha que 2022 seria similar às disputas de 2002 e 2006, quando a sua candidatura foi incorporada e ampliou a vantagem sobre o adversário. Ele imaginava que os 3 milhões de eleitores de Ciro Gomes desaguariam para o PT por gravidade, assim como a maioria dos 5 milhões de Simone Tebet seguiriam o conselho da candidata. Mesmo depois de quase dez anos das marchas de 2013, o PT ainda não entendeu as raízes do antipetismo.

Uma pergunta na pesquisa Genial/Quaest mostra como o antipetismo hoje está no mesmo tamanho do antibolsonarismo. Os entrevistados foram perguntados “do que você tem mais medo?”. Compare o que ocorreu nessas quatro semanas:

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Medo da volta do PT

29/Set – 39%
19/Out – 43%

Medo da continuação de Bolsonaro

29/Set – 47%
19/Out – 43%

O PT acordou para o tamanho do antipetismo faltando dias para a eleição, mas ainda há tempo de corrigir erros. A questão é se o eleitor terá a paciência de ouvir.

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