Os dois Bolsonaros
O dilema da campanha do presidente está entre seguir as opiniões de Carlos ou de Flávio
Um é o Bolsonaro radical. Ele acredita que a eleição de 2018 foi vencida nas redes sociais e tem traços de paranoia em relação à mídia, aos militares e ao STF. Para ele, o Sete de Setembro deve juntar milhões de pessoas nas ruas para intimidar a Justiça e os empresários que assinaram a Carta pela Democracia. Um segundo governo deve começar com o aumento no número de ministros do STF, transformando a Corte no que a Procuradoria-Geral da República se tornou, um puxadinho da Presidência.
Para ele, não existe a possibilidade de derrota e se o TSE disser o contrário, é a hora de brasileiros armados intervirem, sejam eles do Exército, das Polícias Militares ou dos clubes de tiro.
O outro é o Bolsonaro pragmático. O crescimento recente nas pesquisas é decorrência do corte no preço dos combustíveis e do reajuste do Auxílio Brasil. A campanha eleitoral deve ser usada para mostrar o que o governo fez, privilegiando a TV e os apoios dos quase 300 deputados federais candidatos à reeleição da base do governo. Para ele, o embate permanente com a Justiça traz má vontade dos juízes e prejudica a doação de empresários.
Ele não acredita na derrota, mas se ocorrer o importante é o bolsonarismo liderar a oposição a Lula, que na sua opinião fatalmente fará um governo ruim.
O primeiro Bolsonaro é Carlos, o filho de 39 anos que comanda com extraordinária eficiência as redes sociais do pai. O segundo é Flávio, de 41 anos, senador e representante do pai na coordenação de campanha junto aos líderes do PL e do PP. Carlos despreza o Centrão e é retribuído com o mesmo sentimento.
Carlos e Flavio concordam em um ponto, são contra a participação excessiva da madrasta, Michelle. Evangélica, a primeira-dama tem sido um dos eixos da recuperação de Bolsonaro nas últimas pesquisas qualitativas com seus vídeos de orações no Planalto e acusações de que Lula da Silva tem “pacto com o diabo”.
As diferenças entre Flávio e Carlos vêm desde a campanha do primeiro a prefeito do Rio em 2016. Pioraram logo depois da vitória do pai, quando a Polícia Federal descobriu o esquema de corrupção no gabinete de Flávio. Ambos disputam a atenção do pai, que se equilibra entre os dois estilos contraditórios. O terceiro filho político, o deputado federal Eduardo, de 38 anos, se aproximou de Flávio nos últimos meses.
Carlos fez críticas públicas aos spots de propaganda na TV do Partido Liberal mostrando o presidente menos agressivo, conversando com jovens e falando de ações do governo. “Dane-se esse papo de profissionais de marketing”, escreveu no twitter. Ao jornal O Globo, Flávio respondeu: “as inserções do partido foram perfeitas. Isso foi fruto de muito trabalho, de muito estudo. Não foi um achismo”.
Em uma entrevista no início do governo, Flávio comparou: ” O meu estilo, quando tenho alguma desavença, não é fazer nenhuma discussão pública. Prefiro conversar, ouvir as pessoas para formar um juízo de valor. O Carlos é mais explosivo”.
É normal que campanhas presidenciais tenham ações paralelas, uma para os eleitores já convertidos e outra para conquistar novas adesões, mas isso exige uma coordenação de trabalho que Flávio e Carlos nunca demonstraram. É possível ter uma campanha de rádio e TV padronizada e uma disseminação de redes sociais mais radicais, mas existe um limite, as manifestações do Sete de Setembro. Um protesto radicalizado, que produza tumultos de rua e intimidação como parece ser o plano de Carlos, não tem como funcionar com uma política de costuras políticas de Flávio. Em breve, Jair de Bolsonaro terá de escolher entre uma abordagem ou outra. Será a decisão mais importante da campanha.