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Thomas Traumann

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Thomas Traumann é jornalista e consultor de risco político. Foi ministro de Comunicação Social e autor dos livros 'O Pior Emprego do Mundo' (sobre ministros da Fazenda) e 'Biografia do Abismo' (sobre polarização política, em parceria com Felipe Nunes)
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O voto do Largo da Batata decide a eleição

Lula lidera porque por enquanto apenas ele fala aos pobres

Por Thomas Traumann Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 19 dez 2021, 10h00

Duas pesquisas divulgadas nesta semana dão Lula da Silva com mais votos que todos os seus adversários somados. No IPEC (antigo Ibope), Lula tem 49%, Jair Bolsonaro 22%, Sergio Moro 8%, Ciro Gomes 5% e João Dória 3%. No Datafolha, a variação é na margem de erro: Lula tem 48%, Jair Bolsonaro 22%, Sergio Moro 9%, Ciro Gomes 7% e João Dória 4%. Se as eleições fossem hoje, dizem as duas empresas, Lula venceria no primeiro turno.

O PT nunca venceu no primeiro turno nem quando estava no governo, mas a vantagem detectada nas pesquisas responde ao empobrecimento dos brasileiros depois da pandemia de Covid-19 e da ação dos governos Lula contra a miséria. Nenhum outro político viveu a miséria como Lula, mas é sintomático que nenhum outro está falando aos mais pobres como Lula.

O Brasil é um país pobre. Pouco mais da metade dos 147,9 milhões de eleitores recebe menos de R$ 2.200,00 por mês, dois salários mínimos. É a faixa da população mais afetada pelo medo da miséria, inflação, desemprego e subemprego e a desestrutura do sistema de saúde. Num país com 615 mil mortes por Covid, inflação de 10% e desemprego de 13%, qualquer candidato que não enxerga para além dos analistas do centro financeiro da Faria Lima e dos aquários dos editores de jornais está fadado ao fracasso.

Entre os que recebem até dois salários mínimos, Lula tem 56%, 40 pontos percentuais de vantagem sobre Bolsonaro. Entre quem procura emprego, o petista tem 62% das intenções de voto no primeiro turno, contra 16% de Bolsonaro. No Nordeste (67% dos eleitores com renda de até dois salários), Lula aparece com 61%, contra 17% do atual presidente (todos números da pesquisa Datafolha). O Ipec mostrou que reprovação ao governo Bolsonaro é de 71% entre os mais pobres. Perguntados quais são suas maiores preocupações, 21% dos entrevistados disseram que é a fome e a miséria (para comparar, a corrupção foi citada por 17%). É a primeira vez desde 2002 que a miséria se torna uma das cinco maiores preocupações dos brasileiros no histórico do Ipec/Ibope.

Bolsonaro tem como crescer entre os mais pobres com o Auxílio Brasil de R$ 400, embora o número de beneficiados seja menos da metade dos auxílios emergenciais lançados ao longo da pandemia. O salário mínimo vai subir e a Caixa Econômica prepara um gigantesco projeto de crédito subsidiado para pobres. Esse pacote só vai funcionar se a inflação parar de corroer os ganhos, mas ao menos Bolsonaro está usando o poder público para chegar aos mais pobres.

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Ciro Gomes que poderia falar sobre combate a miséria pelos números impressionantes de melhoras sociais nos governos do Ceará caiu na esparrela de chamar a política de Lula de “política da picanha e cerveja”, na prática trazendo ao eleitor uma memória boa do governo petista. Chega a ser amador.

Pior são os dois candidatos da chamada Terceira Via. Sergio Moro apareceu com a ideia espetaculosa de uma Força Nacional de Erradicação da Pobreza, coisa de marqueteiro que não sabe que existe um ministério exclusivo de políticas sociais, o da Cidadania. Moro fala sobre os pobres como a intimidade de quem só viu uma favela no trajeto do aeroporto de São José Pinhais até sua casa, em Curitiba.

Mais grave é João Doria, responsável pelo início da vacinação contra Covid que salvou milhares, pobres e ricos. Mas Doria não fala sobre ou para os mais pobres.

Um aforisma conhecido na política diz que governar é tocar violino, você pega com a esquerda e toca com a direita. É impossível governar no Brasil sem falar para a Faria Lima, os Jardins, o Leblon e o Lago Sul. Mas ninguém ganha se não convencer o Largo da Batata, a Rocinha, Jardim Ângela e Cabrobó.

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