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Thomas Traumann

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Thomas Traumann é jornalista e consultor de risco político. Foi ministro de Comunicação Social e autor dos livros 'O Pior Emprego do Mundo' (sobre ministros da Fazenda) e 'Biografia do Abismo' (sobre polarização política, em parceria com Felipe Nunes)
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O Rubicão de Bolsonaro

Manifestações de 7 de Setembro podem dar o impulso para a campanha da reeleição ou aumentar ainda a rejeição

Por Thomas Traumann Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 5 set 2022, 10h04

As manifestações desta quarta-feira (07/09), Dia da Independência, são o Rubicão da campanha de Jair Bolsonaro. Se o presidente conseguir, como se espera, atrair centenas de milhares de eleitores às ruas, poderá dar a demonstração de força que não conseguiu nas pesquisas com o corte do preço da gasolina, a distribuição do Auxílio Brasil de R$ 600 e nem com as primeiras semanas de campanha. Se a mobilização for um fracasso, o que parece improvável, ou radicalize ainda mais o discurso bolsonaristas, o que é muito possível, o efeito pode ser o contrário, aumentando a rejeição ao presidente.

É uma aposta de risco. No 7 de Setembro do ano passado, militantes bolsonaristas por pouco não invadiram a sede do Supremo Tribunal Federal, em Brasília. Discursando para milhares de seguidores na Avenida Paulista, em São Paulo, Bolsonaro xingou os ministros do STF Alexandre de Moraes e Roberto Barroso e ameaçou descumprir decisões judiciais. As bravatas foram um fracasso político. Isolado e temendo um impeachment, Bolsonaro recuou e repartiu seu poder com o presidente da Câmara, Arthur Lira, e o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira.

A diferença é que agora, o mandato presidencial está perto do fim. As pesquisas Ipec, Genial/Quaest, PoderData, Datafolha e Ipespe divulgadas na semana passada mostraram que mesmo depois de 20 milhões de famílias receberem o Auxílio Brasil, os números de Bolsonaro não melhoraram. Ele segue entre 32% e 36% das intenções de voto, atrás de Lula da Silva com 42% a 44%. O presidente perde em todas as simulações de segundo turno. A rejeição do presidente está acima dos 50%. É fato que a aprovação ao governo está melhorando gradualmente, mas a lentidão da evolução é desanimadora para a campanha. Faltam apenas 27 dias para 2 de outubro.

No cenário otimista para o governo, o feriado do 7 de Setembro será a oportunidade para demonstrar uma força popular maior que a captada pelas pesquisas. Isso daria aos bolsonaristas um impulso fundamental na reta final da campanha, impedindo a fuga de candidatos a deputado e governador reticentes em ligar seus nomes a um presidente que pode ser perdedor. A falta de empenho dos candidatos da aliança é hoje um dos maiores problemas da campanha.

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Existe um cenário pessimista, no entanto. Se o ímpeto golpista do Dia da Independência for ainda maior que o do ano passado, isso pode gerar uma reação do eleitorado a favor de Lula da Silva para encerrar a eleição no primeiro turno. Seria ironicamente uma versão com sinais trocados do #EleNão, o movimento de mulheres que levou dezenas de milhares de pessoas às ruas às vésperas do primeiro turno de 2018, e que – graças à percepção passada pela guerrilha bolsonaristas nas redes sociais acabou ajudando Bolsonaro a subir nas pesquisas.

Nos últimos dias, a guerrilha bolsonaristas ampliou as mensagens bélicas nas correntes no Telegram e WhatsApp. A eleição se tornou a “guerra pela nossa liberdade” e as manifestações do 7 de Setembro são tratadas como a “segunda independência”. A lógica de muitas das mensagens é que, como existe uma conspiração do STF e da TV Globo para fraudar as eleições, a intervenção militar é apenas uma reação a um golpe da esquerda para retomar o poder. Nos canais bolsonaristas do Youtube, além de frases evocando a participação das Forças Armadas para assegurar “eleições limpas”, são divulgadas as chaves Pix para financiar ônibus e outdoors para os protestos.

Bolsonaro vai acompanhar o desfile cívico-militar em Brasília pela manhã, com os chefes de Estado convidados e os presidentes da Câmara, Senado, STF, STJ e TSE. Além dos tradicionais tanques militares na praça dos Três Poderes, o desfile terá tratores cedidos por agricultores bolsonaristas de Goiás e Mato Grosso. Como não se tem registro de tratores usados em ações bélicas, a junção serve para simbolizar a união dos segmentos em torno da reeleição do presidente.

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Bolsonaro convidou para o camarote presidencial os oito empresários alvos de operação policial depois de trocarem mensagens golpistas em um grupo de WhatsApp. No sábado (03/09), Bolsonaro chamou de “vagabundo” quem deu “canetada” autorizando operação da Polícia Federal contra empresários numa alusão ao ministro Alexandre de Moraes, presidente do TSE.

Além dos empresários, o líder pentecostal Silas Malafaia deve participar dos atos em Brasília e no Rio. Como contabilizou o jornal digital Poder360, desde março Bolsonaro participou de nove marchas públicas e 21 cultos evangélicos. Em quase todos, ele convocou os fiéis a participarem do Sete de Setembro “dizendo a quem pertence essa nação”. Lideranças evangélicas bolsonaristas, como o pastor Cláudio Duarte e JB Carvalho, iniciaram uma campanha de jejum e oração até a data da eleição. Igrejas pentecostais vão levar caminhões de trios elétricos para Copacabana para transmitir o discurso de Bolsonaro. É provável que o presidente discurse no caminhão ao lado de Malafaia.

Nos últimos dias, assessores do presidente se esmeraram em divulgar que ele será formal no evento em Brasília e fará um discurso “pela liberdade” no Rio, sem ameaças institucionais. Tratando-se de Bolsonaro, toda previsão revela mais o desejo do interlocutor do que uma informação confiável.

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Este 7 de Setembro tira os últimos disfarces da postura eleitoral das Forças Armadas. Por ordem de Bolsonaro, o Ministério da Defesa cancelou o desfile na avenida Presidente Vargas, que ocorria desde 1944, para transformar a solenidade de 200 anos da independência num esquenta para o comício bolsonaristas.

Confira as atividades militares para atrair público para Copacabana ao longo do feriado:

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As ações militares começam às 8h, com uma salva de canhões executada pelo 31º Grupo de Artilharia de Campanha, no Forte de Copacabana. Haverá disparos de hora em hora até às 16h.

Às 9h, 20 navios de guerra e duas aeronaves das Marinhas do Brasil, Argentina, Uruguai, Inglaterra, EUA, Portugal, Namíbia, Chile, México e Camarões que participam de uma operação de treinamento no Rio, sairão do Recreio dos Bandeirantes, na Zona Oeste, navegando até o Forte de Copacabana. Os navios ficarão fundeados em Copacabana e Flamengo até o dia 10.

A partir das 13h está prevista a apresentação de bandas de música dos Fuzileiros Navais, do Exército, da Aeronáutica e da Polícia Militar do Rio. Logo depois, paraquedistas farão uma demonstração de salto com aterragem na Praia de Copacabana.

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No mesmo horário, haverá centenas de motociclistas partindo do Aterro do Flamengo em direção ao Leblon. As motociatas se tornaram marca política do bolsonarismo. Existe a possibilidade de o presidente participar do ato.

O evento que deve chamar mais público é o show aéreo da Esquadrilha da Fumaça sobre a orla da avenida Atlântica que deve ocorrer entre 14h e 15h.

Às 16h, horário que se convencionou como o momento da declaração da independência, o navio veleiro brasileiro Cisne Branco e a Artilharia do Forte de Copacabana farão uma salva de 21 tiros de canhão. Bolsonaro já deve estar no Forte neste horário.

O festejo militar termina com as acrobacias aéreas e logo depois Bolsonaro vai até o caminhão do trio elétrico de Malafaia e inicia o seu comício.

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