O que as pesquisas ainda não contam
Últimas semanas serão definidas por avaliação de governo, voto feminino, renda, rejeição e sudeste
Faltando três semanas para o segundo turno, as últimas pesquisas divergem apenas na superfície. No geral, elas mostram um cenário estável, com Lula liderando no teto das intenções de voto e Jair Bolsonaro oscilando gradualmente para encurtar a distância. Compare:
IPEC (5/9) cenário estável – Lula 44% x 31% Bolsonaro
PoderData cenário (7/9) estável, com diferença caindo – Lula 43% x 37% Bolsonaro
Genial/Quaest (7/9) cenário estável, com diferença caindo – Lula 44% x 34% Bolsonaro
Datafolha (9/9) cenário estável, com diferença caindo – Lula 45% x 34% Bolsonaro
Ipespe (10/9) cenário estável, com diferença caindo = Lula 44% x 36% Bolsonaro
FSB/BTG (12/9), cenário estável, com diferença caindo = Lula 41% x 31% Bolsonaro
Com Ciro Gomes, Simone Tebet e outros somando entre 12 e 15 pontos percentuais, o segundo turno entra no terreno do inevitável.
Para entender essa estabilidade é preciso notar que todas as pesquisas concordam que entre 70% e 80% dos eleitores já decidiram seu voto. Entre os eleitores de Lula e Bolsonaro, o índice de decisão está perto do 90%.
No geral, os que se dizem indecisos giram em torno de 5%. Isso significa que o mercado de votos a ser disputado é pequeno e para Lula e Bolsonaro se resume em tomar os votos de Ciro e Tebet.
As variações importantes das próximas pesquisas para projetar como será o final da campanha são os seguintes:
1) Avaliação de governo
Existe uma forte correlação entre a aprovação de um governante e seu desempenho nas pesquisas e todos os momentos ruins do governo Bolsonaro foram acompanhados de queda nas pesquisas. Desde julho, com o corte dos impostos sobre combustíveis, é notável que a avaliação do eleitor sobre o governo começou a melhorar e a desaprovação a cair. A questão é quanto tempo vai demorar para este eleitor decidir por votar pela reeleição e se ele realmente vai fazer isso.
Na Genial/Quaest, em julho o saldo entre desaprovação e aprovação do governo Bolsonaro era de 21 pontos percentuais negativos em julho. Agora é de 7 pontos. Em tese, isso implicaria em uma melhora nos índices do próprio Bolsonaro, mas essa transferência está lenta. Na comparação dos dois momentos, Bolsonaro tinha 30% e agora 34%. É uma melhora? É, mas é muito lenta.
2) Mulheres
Nunca um candidato foi tão rejeitado por mulheres como Bolsonaro, independente de renda, cor, região ou religião. Veja essa comparação do colunista Bruno Boghossian, da Folha de S.Paulo, sobre o comportamento feminino e masculino sobre Lula e Bolsonaro na simulação de primeiro turno do Datafolha:
Eleitores até 2 salários mínimos:
Homens: Lula 55% x Bolsonaro 27%
Mulheres: Lula 54% x Bolsonaro 23%
Eleitores de 2 a 5 salários mínimos:
Homens: Lula 34% x Bolsonaro 46%
Mulheres: Lula 39% x Bolsonaro 34%
Eleitores mais de 5 salários mínimos:
Homens: Lula 32% x Bolsonaro 47%
Mulheres: Lula 41% x Bolsonaro 34%
Embora entre os eleitores homens exista uma correlação entre voto em Bolsonaro e crescimento de renda, entre as mulheres a rejeição ao presidente supera essa barreira social.
3) Renda
Existe uma correlação de renda e decisão de voto em Lula da Silva. Quanto mais pobre, maior a probabilidade de o petista ser o escolhido. O problema é que, em função da falta de Censo, ninguém sabe ao certo quantos pobres existem. As empresas de pesquisa fazem estimativas, mas elas divergem. Compare:
Eleitores até 2 SM x Eleitores 2-5 SM:
Datafolha: 51% x 33%
IPEC: 55% x 25%
Quaest: 38% x 40%
Ipespe: 47% x 37%
Ideia: 39% x 40%
PoderData 46% x 33%
FSB. 44% x 38%
4) Sudeste
No Datafolha, Lula tem 41% e Bolsonaro 36% na região Sudeste, um cenário estável. De acordo com pesquisas Genial/Quaest, Bolsonaro está avançando gradualmente em São Paulo e Minas Gerais, onde estão 32,5% do eleitorado nacional. Segundo a Genial/Quaest, o presidente ultrapassou numericamente Lula da Silva em São Paulo: 37% contra 36%. Na pesquisa de agosto, Lula vencia também na margem de erro por 37% a 35%. Em Minas Gerais, Bolsonaro oscilou de 33% para 36% em um mês. Lula segue ganhando e oscilou de 42% para 43%.
O mesmo movimento foi percebido pelas pesquisas internas dos dois candidatos, especialmente entre eleitores com renda entre 2 e 5 salários mínimos.
O crescimento de Bolsonaro em São Paulo está ajudando seu candidato Tarcísio de Freitas, que se consolidou como mais provável adversário do petista Fernando Haddad no segundo turno. A nacionalização da campanha em São Paulo é ruim para Lula e o PT, que perderam no Estado em sete das oito eleições presidenciais. Se houver um segundo turno tanto no Brasil quanto em São Paulo, o antipetismo atávico dos paulistas pode ser um bônus importante para Bolsonaro.
Esse avanço de Bolsonaro, no entanto, precisa ser colocado em perspectiva. Em 2018, ele teve 44,5% dos votos no primeiro turno em São Paulo e 48,3% em Minas Gerais. Quatro anos depois ter menos de 40%, como indica a Genial/Quaest, não evita uma derrota diante da avalanche de votos que Lula terá de vantagem no Nordeste. Bolsonaro precisa crescer mais e mais rápido.
5) Rejeição
Cada empresa tem seu jeito de questionar em quem o eleitor se recusa a votar, por isso prefiro usar uma pergunta da Genial/Quaest que resume a dicotomia:
Bolsonaro merece um segundo mandato?
Sim 44%
Não 54%
Lula merece voltar a ser presidente?
Sim 52%
Não 46%
Enquanto esses números não se mexerem, Lula vence Bolsonaro no segundo turno.