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Thomas Traumann

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Thomas Traumann é jornalista e consultor de risco político. Foi ministro de Comunicação Social e autor dos livros 'O Pior Emprego do Mundo' (sobre ministros da Fazenda) e 'Biografia do Abismo' (sobre polarização política, em parceria com Felipe Nunes)
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O presidente da necropolítica

Ao comemorar morte de voluntário de vacina, Bolsonaro mostra que só quer saber de política

Por Thomas Traumann Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 10 nov 2020, 15h17

O presidente Jair Bolsonaro comemorou o suicídio de um brasileiro voluntário nas pesquisas em São Paulo por uma vacina contra a Covid-19. Em sua conta no Twitter, sem apresentar qualquer prova, Bolsonaro relacionou o suicídio do voluntário a efeitos da vacina e disse que o caso era mais uma vitória sua. Escreveu Bolsonaro:

“Morte, invalidez, anomalia. Esta é a vacina que o Doria queria obrigar a todos os paulistanos [a tomar]. O presidente disse que a vacina jamais poderia ser obrigatória. Mais uma que Jair Bolsonaro ganha.”

Para o presidente, mais importante que a vida do voluntário era mostrar que havia ganho mais uma contra seu adversário político governador João Doria. Em função da morte, as pesquisas conduzidas pelo Instituto Butatan, do governo de São Paulo, com matéria prima e tecnologia da farmacêutica chinesa Sinovac, foram suspensas pela Anvisa. A influência política na decisão é óbvia. O diretor da Anvisa é um almirante que entende tanto de vacina quanto Bolsonaro de empatia.

Faz parte do jogo político que Bolsonaro tenha medo que o eventual sucesso da vacina produzida pela Sinovac ajude as pretensões presidenciais de João Doria em 2022. Daí a comemorar a morte de um brasileiro vai um longo caminho. Mas a surpresa é nula.

Desde o início da pandemia de coronavírus, Bolsonaro tem dado seguidas demonstrações da sua falta de compaixão com as vítimas e os familiares dos contaminados pela Covid-19. Quando o Brasil chegou a 5 mil mortos, ele disse: “E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê?”. Não foi a um enterro. Não visitou um hospital. Não prestou condolências a uma família.

Bolsonaro boicotou os esforços por quarentenas rígidas, demitiu ministros da Saúde que tentavam colocar a ciência antes da política, gerou aglomerações inúteis e fez do Brasil o segundo país em número de mortos (162 mil, atrás apenas dos Estados Unidos) e o terceiro em número de casos (5,67 milhões, atrás dos Estados Unidos e Índia). A política de Bolsonaro no combate ao coronavírus causou o dobro de mortos do que todos os acidentes de trânsito (40 mil), homicídios (41 mil), no país. Mais uma que Jair Bolsonaro ganha.

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