O novo núcleo duro
Possível chegada de Boulos ao governo Lula completa o time focado no projeto da reeleição

A provável nomeação de Guilherme Boulos como novo secretário-geral da Presidência nos próximos dias encerra a reforma ministerial onde ela mais importa, o time que trabalha no Palácio do Planalto a menos de 5 minutos do gabinete do presidente. Desde janeiro, Lula da Silva mudou três dos ministros palacianos, trazendo Gleisi Hoffmann, Sidônio Palmeira e, agora, Guilherme Boulos. Da escalação original, só Rui Costa permanece.
São todos de esquerda, mas é reducionismo diferenciar o quarteto pela sua coloração ideológica. Mais que de esquerda, eles são lulistas. Uma comparação simples: se alguém perguntar aos ministros Fernando Haddad, Simone Tebet, Renan Filho, Carlos Fávaro ou Mauro Vieira qual sua avaliação do governo, eles possivelmente responderão que há pontos bons e ruins. Se a mesma pergunta for feita a Rui Costa, Gleisi Hoffmann, Sidônio Palmeira ou Guilherme Boulos, a resposta será um discurso sem fim de defesa de Lula. Com este quarteto não existe meio-termo.
É isso que Lula procura. Ele quer se cercar de gente 100% empenhada na sua reeleição sem titubeio. Este é parte do motivo de o presidente ter afastado Fernando Haddad do seu convívio diário.
Além do quarteto, o novo núcleo duro inclui o favorito a assumir a presidência do PT, Edinho Silva. Outros ministros devem ter participação coadjuvante no comitê de reeleição: Fernando Haddad, Alexandre Padilha, Alexandre Silveira e Camilo Santana.
A decisão de montar um Palácio do Planalto absolutamente vermelho vem da avaliação de Lula sobre a derrota da esquerda na eleição municipal. Enquanto a maior parte do mundo político (incluindo este analista) considerou que o resultado das urnas sugeria que o governo deveria se abrir mais para outros partidos e ter uma postura mais centrista, Lula concluiu o exato oposto.
O presidente considera que com a independência adquirida com as emendas parlamentares e o fundo eleitoral, políticos como o MDB e o PSD não serão cooptados apenas com ministérios. Eles só estarão com Lula em 2026 se tiverem perspectiva de poder. Como resumiu Arthur Lira numa entrevista em janeiro, “ninguém embarca num navio que está afundando”.
Por essa avaliação, são as pesquisas e não os cargos no governo que vão atrair apoios. Não adianta o governo oferecer um ministério importante como o das Comunicações para o Centrão se os políticos acharem que Lula vai perder em 2026. E hoje é exatamente isso que acontece.
Só quando Lula se recuperar nas pesquisas é que a força gravitacional do poder vai atrair MDB, PSD e parte do Centrão. E para se recuperar nas pesquisas, Lula precisa de um time coeso como o que está formando no Planalto.