Como escreveria o vereador Carlos Bolsonaro, existe um método. A crise do dia pode ser a dos pastores cobrando propina para liberar verbas do Ministério da Educação para as prefeituras, ou um aumento de preços dos combustíveis, ou novos recordes de desmatamento ilegal na Amazônia. O tema não importa. O método, sim.
No manual de gerenciamento de crises do governo Bolsonaro, o primeiro capítulo é sempre minimizar o fato. Incêndios na Amazônia acontecem todos os anos, aumentos da gasolina ocorrem no mundo todo, vários países demoraram a aprovar as vacinas contra Covid.
Não deu certo? Então, é hora de atacar quem acusa. Se for um jornalista, é lógico que ele é um petista produtor de fakenews. Se for um ministro do Supremo, é alguém que quer conspirar contra o governo. Se for um delegado da PF, esse será transferido de cargo.
As acusações passam a ser parte de um complô. “Estão fazendo uma sacanagem com o Milton”, ele disse na semana passada se referindo ao então ministro da Educação, Milton Ribeiro, aquele permitiu que pastores negociassem a liberação de verbas do Ministério da Educação por propinas pagas até em barras de ouro.
Se a crise permanece, Bolsonaro se desvincula de qualquer responsabilidade sobre o fato. “Eu tenho uma política de não interferir. Sabemos das obrigações legais da Petrobras e, para mim, particularmente falando, é um lucro absurdo que a Petrobras tem num momento atípico no mundo”, disse.
Ficou mais grave? o presidente tenta trocar de assunto. No domingo, no lançamento da sua pré-campanha, ele voltou a homenagear o coronel Carlos Ustra, um dos raros militares condenados por sequestro e tortura no regime militar.
Mas o que difere um ministro que é demitido, como aconteceu com Milton Miranda e o general Luna da Silva da Petrobras, e outros que tão enrolados quanto? A reação nas redes sociais. Ribeiro se mantinha firme no cargo até que o jornal O Estado de S. Paulo divulgou que ele autorizou a impressão de bíblias com fotos suas, um uso pecaminoso do livro sob qualquer perspectiva. A reação nas redes dos evangélicos às fotos do ministro foram decisivas na sua queda.
O general Luna e Silva foi demitida da presidência da Petrobras não porque deu entrevistas arrogantes, mas por ter deixado a culpa dos aumentos cair no colo do presidente. Monitoramento comais de 1 milhão de posts coletados pela Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getúlio Vargas (FGV DAPP) mostra que o presidente foi responsabilizado pessoalmente pelo reajuste e que sua justificativa sobre a alta dos preços no mercado internacional em função da guerra na Ucrânia foi desprezada. O levantamento da FGV-DAPP mostrou que, pela primeira vez em muitas crises envolvendo o governo, os perfis do presidente ficaram de fora entre os mais influentes do twitter.
Resultado similar foi obtido em pesquisas recentes. No Datafolha, 39% disseram que o presidente Bolsonaro tem muita responsabilidade pelo aumento da gasolina, do diesel e do gás de cozinha. Outros 29% consideram que o governo tem ao menos um pouco de responsabilidade. No Ipespe, 45% dos entrevistados concordaram que o presidente Bolsonaro tem muita responsabilidade nos aumentos _ o mesmo índice da guerra na Ucrânia.
Existe um método. Ele se resume em tirar a crise do colo do presidente.