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Thomas Traumann

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Thomas Traumann é jornalista e consultor de risco político. Foi ministro de Comunicação Social e autor dos livros 'O Pior Emprego do Mundo' (sobre ministros da Fazenda) e 'Biografia do Abismo' (sobre polarização política, em parceria com Felipe Nunes)
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O estilo Penélope

Lula adiou reforma ministerial até onde pôde, mas Centrão vai levar sua máquina de emendas

Por Thomas Traumann Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 13 Maio 2024, 21h20 - Publicado em 6 set 2023, 11h09

No poema épico da Odisseia, a rainha Penélope é a fiel mulher de Ulisses que, para adiar a escolha sobre com quem irá se casar depois de 20 anos de desaparecimento do marido, anuncia que o fará assim que terminar de tecer um sudário (ou tapete, dependendo da tradução). Todo dia ela aparecia em frente aos candidatos tecendo a peça, mas à noite desmanchava o trabalho. Assim, nunca termina e ganhava tempo. Finalmente, uma criada denunciou o estratagema aos impacientes postulantes, mas pelas graças da trama isso ocorreu justamente quando Ulisses havia retornado à ilha de Ítaca.

Nesta reforma ministerial, Lula tem feito como Penélope. De dia, se reúne com o Centrão e diz que tudo está pronto e só alguns detalhes o afastam de se incorporarem ao governo. De noite, recua e a reforma ministerial volta à estaca zero. A reforma ministerial começou em junho, com a promessa de ser resolvida até o fim do recesso parlamentar. Chegou agosto e, sem saber para quais cargos estavam convidados, os deputados Silvio Costa Filho (Republicanos) e André Fufuca (Progressistas) foram nomeados como futuros ministros.

Nas semanas que se passaram, Costa Filho e Fufuca já foram sondados para os ministérios dos Esportes, da Indústria e Comércio, dos Portos e Aeroportos, da Ciência e Tecnologia, do Desenvolvimento Social, de um novo ministério que teria as funções do Desenvolvimento Social sem o programa Bolsa Família e de um novo ministério da Micro e Pequenas Empresas. Como é humanamente impossível alguém ser versátil a ponto de conduzir políticas públicas de tantas áreas diferentes, a questão é “para que Fufuca e Costa Filho querem tanto ser ministros?” e “o que Lula ganha adiando a reforma para outra semana”?.

A primeira resposta é mais fácil do que a segunda. O Centrão não quer o ministério dos Esportes porque tem grandes especialistas na área ou uma fantástica nova política pública para ressuscitar a indústria nacional. O Centrão quer ministérios de onde os seus indicados possam apressar a liberação de emendas parlamentares para as prefeituras das suas bases eleitorais. Pela lógica eleitoral, quanto mais cedo as emendas forem distribuídas e quanto maior for o valor repassado, maiores as chances de os prefeitos agraciados conseguirem sua reeleição. Se o Centrão ganhar o Ministério dos Esportes, portanto, vão chover emendas de quadras esportivas pelo país. Se for o de Desenvolvimento Social, nunca se verá tanta instalação de cisternas como agora. E assim sucessivamente. Não importa o tamanho do ministério, mas o efeito eleitoral que ele proporciona.

Lula sabe disso e sabe que o calendário eleitoral está apertado. O presidente acredita que, quanto mais adia as indicações, maior o desespero do Centrão para aceitar um cargo menor. É um jogo de poker. O problema é que o líder máximo do Centrão e presidente da Câmara, Arthur Lira, também sabe jogar.

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Lula adiou a reforma ministerial até onde pôde, mas o Centrão vai receber do governo a sua máquina de emendas parlamentares.

Na semana passada, Lira ajudou a aprovar uma emenda absurda que concede às prefeituras redução no pagamento da previdência dos servidores municipais. A emenda não diz de onde o governo federal vai tirar os recursos para essa benesse, o que obriga o presidente Lula a vetar a lei. Lira sabe disso. Sabe também que o desgaste de vetar e ficar mal com os prefeitos será de Lula.

Lira já havia impedido a aprovação de uma brecha no Arcabouço Fiscal que daria ao governo R$ 32 bilhões a mais para gastar, mudando para sempre as datas de cálculo da inflação. Lira obrigou ainda o governo a retirar a taxação sobre fundos offshore. Nos dois casos, o presidente da Câmara deixou um conserto: o governo Lula poderá pedir a brecha de R$ 32 bilhões no relatório do orçamento e a taxação sobre offshore foi reapresentada como projeto de lei. A mensagem é que, com o apoio de Lira, os dois problemas podem ser resolvidos. Só vão custar mais caro. Isso nem o herói Ulisses resolve.

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