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Thomas Traumann

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Thomas Traumann é jornalista e consultor de risco político. Foi ministro de Comunicação Social e autor dos livros 'O Pior Emprego do Mundo' (sobre ministros da Fazenda) e 'Biografia do Abismo' (sobre polarização política, em parceria com Felipe Nunes)
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O elefante que o PT não quer ver

Campanha de Lula evita falar sobre risco de ruptura institucional se Bolsonaro não aceitar derrota

Por Thomas Traumann Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 23 Maio 2022, 13h29 - Publicado em 23 Maio 2022, 10h27

Há um consenso dentro da campanha Lula de que o candidato não deve falar sobre a possibilidade de contestação do sistema eleitoral e ameaças de ruptura institucional na hipótese de derrota de Bolsonaro. Na avaliação do núcleo duro do PT, Lula falar sobre o tema seria “entrar no jogo” de Bolsonaro e partidarizar a defesa da urna eletrônica. A agenda de discursos de Lula vai tratar dos pontos fracos de Bolsonaro – inflação, desemprego e miséria – e deixar que a defesa das instituições seja feita pelos dirigentes do partido.

Na avaliação da direção da campanha do PT, Lula deve se manter olímpico, acima das provocações de Bolsonaro. Isso inclui deixar para os advogados, e não para a comunicação, o combate às fake news bolsonaristas.

São decisões arriscadas. Elas colocam Lula num mundo paralelo, como se as seguidas ameaças de Bolsonaro incentivando uma versão tropical do 6 de janeiro de Donald Trump deixassem de existir apenas porque não foram comentadas. É como se um político experiente como Lula acreditasse que as eleições de 2022 serão com todas as outras.

Existe um elefante na sala e não falar dele não o fará desaparecer.

Cria-se uma ironia histórica: hoje o Grupo Globo, o Departamento de Estado americano e os ministros do Supremo Tribunal Federal –todos acusados pelos petistas de suposto envolvido em uma conspiração pelo impeachment em 2016 – estão publicamente mais preocupados com a existência de eleições livres do que o candidato que mais precisa de um pleito justo.

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Bolsonaro tem feito ameaças cada semana mais evidentes. “Poderemos ter eleições conturbadas. Imagine acabarmos as eleições e pairar para um lado, ou para o outro, a suspeição de que elas não foram limpas? Não queremos isso”, disse a empresários dez dias atrás. No fim de semana, disse que “só Deus”o tira da cadeira de presidente. Na semana passada, em entrevista ao SBT, o líder do Centrão, Ricardo Barros, ecoou o confronto com o TSE: “O problema é que o TSE virou quase um partido político. Eles estão engajados numa ação antibolsonaro, o que é muito ruim”.

É ingênuo achar que os eleitores deixariam de acreditar em uma fake news porque os advogados do PT recorreram à Justiça. Em 2016, o partido Democrata ignorou como lixo a teoria trumpista de que Hillary Clinton faria parte de uma organização pedófila numa pizzaria em Washington. Em 2018, o PT foi igualmente lento na reação à eficiente comunicação bolsonarista nas correntes de WhatsApp que Fernando Haddad iria distribuir nas creches chupetas com formatos de pênis aos bebês. As duas teorias de conspiração deram certo e colaboram no desgaste que levou à vitória de Trump e Bolsonaro. Em 2020, a campanha de Joe Biden aprendeu com os erros e estava com os dentes cerrados para combater as teorias do Q-Anon. O time de Lula não acordou para o elefante na sala.

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