A vantagem do deputado Guilherme Boulos, do PSOL, na primeira pesquisa para prefeito de São Paulo pressiona o governador Tarcísio de Freitas a apressar a privatização da Sabesp, a companhia estadual de água e esgoto. Segundo a pesquisa, Boulos tem 32% contra 24% do prefeito Ricardo Nunes. A diferença é curta, mas outros números mostram espaço para Boulos crescer.
79% dos paulistanos dizem querer um prefeito que mude as políticas atuais, ante apenas 17% desejando a continuidade. Apenas 23% consideram a gestão de Nunes ótima ou boa.
O mesmo Datafolha, mostrou que o principal cabo-eleitoral de Boulos, o presidente Lula, tem o seu governo considerado ótimo e bom por 45% dos eleitores da cidade de São Paulo. 25% acham o governo Lula ruim ou péssimo. Já o maior defensor de Nunes, o governador Tarcísio de Freitas é aprovado por 30%, com 27% de ruim e péssimo.
Esse quadro antecipa o que o mercado financeiro batizou de “risco Boulos” na privatização da Sabesp. Pelo novo marco do saneamento, a desestatização só pode ocorrer com a anuência das prefeituras, algo que nunca ocorrerá se Boulos vencer. Por isso, a única chance de certeza de o governo Tarcísio privatizar é fazer o leilão antes da eleição.
Sabendo dessa pressa de Tarcísio, Nunes negociou o seu apoio à privatização da Sabesp junto com a aliança do Republicanos de Tarcísio e o PSD do secretário Gilberto Kassab. Nunes assinou a adesão da prefeitura a um mecanismo chamado Unidades Regionais de Serviços de Saneamento (URAEs), que torna oficial a intenção da cidade em apoiar a privatização. Como a cidade de São Paulo representa metade do faturamento da Sabesp, o ato ajuda Tarcísio. Partidos de esquerda devem recorrer à Justiça para obrigar Nunes a votar a adesão às URAEs na Câmara de Vereadores. Eles sabem que vão perder, mas querem atrasar o processo. Numa vitória de Boulos, a adesão da cidade de São Paulo à privatização será revertida,
Com a força eleitoral de Boulos, o governador precisa aprovar o projeto na Assembleia Legislativa por maioria simples de votos até o final de outubro. É pouco tempo. O ex-governador João Dória passou quatro anos prometendo fazer o mesmo e sofreu resistências entre os deputados estaduais, muitos com apadrinhados nos escritórios da estatal paulista.
O governo de São Paulo precisa organizar o leilão antes de junho de 2024, quando começa a campanha eleitoral, para impedir que o caso vire tema eleitoral e transformar a privatização em um fato consumado para os prefeitos eleitos. Se perder essa janela e Boulos for eleito, a privatização da Sabesp não vai ocorrer.