2023 foi especial. As ideias, que alguns chamavam de quixotescas, ganharam corpo e trouxeram vitórias antes dadas como impossíveis. Mesmo antigos adversários reconheceram as suas qualidades, suas capacidades de tirar o melhor de uma equipe desconhecida e liderarem projetos de longo prazo.
2004, no entanto, está dando tudo errado. Os estilos que meses atrás eram chamados de inovadores, agora são previsíveis. O tom professoral passou a ser considerado arrogante. Os times, antes imbatíveis, agora batem cabeça. Parte da torcida perdeu a paciência e, embora minoritário, já existe um movimento para tirá-los dos cargos.
Os dois são Fernandos. Diniz, o técnico que levou o Fluminense à conquista da Taça Libertadores em 2023, agora patina para não entrar na zona de rebaixamento do Campeonato Brasileiro. Haddad, o ministro da Fazenda, conseguiu no ano passado aprovar no Congresso um novo arcabouço fiscal e a complexa reforma tributária. O Brasil cresceu acima do esperado, com inflação e desemprego baixos e renda em alta. Neste ano, contudo, a sua política fiscal é atacada pelos empresários, sofre resistência no Congresso e boicote entre colegas ministros.
Tanto Fernando Diniz quanto Fernando Haddad são conhecidos pela teimosia. Quando acham que suas ideias estão certas, insistem nelas mesmo quando as circunstâncias são adversas. Essa obstinação, que às vezes parece capricho, foi o que levou os dois Fernandos às grandes vitórias de 2023, mas também marcou a derrota de Haddad na reeleição a prefeito em 2016 e a perda do Campeonato Brasileiro de 2020 por Diniz. As lições dessas derrotas precisam ser lembradas para que ambos corrijam os seus rumos.
Talvez eles precisem se inspirar em um terceiro Fernando, o Pessoa. O poeta português que ao mesmo tempo era um e era tantos, escreveu:
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu