Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana
Imagem Blog

Thomas Traumann

Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Thomas Traumann é jornalista e consultor de risco político. Foi ministro de Comunicação Social e autor dos livros 'O Pior Emprego do Mundo' (sobre ministros da Fazenda) e 'Biografia do Abismo' (sobre polarização política, em parceria com Felipe Nunes)
Continua após publicidade

Marçal, Aristófanes e o vendedor de salsichas

Pesquisa Genial/Quaest mostra coach com 18% de intenções de votos à frente de Tarcísio, com 15%, e atrás de Lula, com 32%

Por Thomas Traumann
Atualizado em 13 out 2024, 10h48 - Publicado em 13 out 2024, 10h44

Na comédia “Os Cavaleiros”, o dramaturgo grego Aristófanes (cerca de 447 a.C. – 385 a.C.) faz um retrato colorido de um demagogo, representado na peça como um vendedor de salsichas: “Misture e amasse todos os negócios do estado como faz com suas salsichas. Para conquistar as pessoas, cozinhe sempre o que elas querem comer. Afinal de contas, você possui todos os atributos de um demagogo: uma voz estridente e desagradável, uma natureza perversa e a linguagem do populacho. Você tem tudo o que é necessário para governar”.

O vendedor de salsichas de Aristófanes é uma versão primordial de Pablo Marçal, o guru de autoajuda que por pouco não foi ao segundo turno das eleições de São Paulo.

Pablo Marçal perdeu, mas ganhou. Virou uma figura nacional, mostrou que Bolsonaro não é o único líder da extrema direita e provou que existe a demanda em uma grande parcela do eleitorado por candidatos com discurso antissistema e que não se sentem representados pela direita tradicional dos governadores Tarcísio de Freitas, Romeu Zema, Ratinho Junior e Ronaldo Caiado.

Pesquisa nacional Genial/Quaest divulgada neste domingo pelo jornal O Globo mostra que Marçal hoje é mais popular do que o pré-candidato favorito da direita tradicional, Tarcísio de Freitas. Numa simulação para a eleição de 2026, Lula teria 32%, Marçal 18 e Tarcísio ficaria em terceiro com 15%. A pesquisa, feita na semana final do primeiro turno, revelou que Marçal supera Tarcísio em todas as regiões, exceto o Sudeste e é considerado o sucessor ideal de Jair Bolsonaro por 15% dos que votaram no ex-presidente, resultado similar ao de Michelle Bolsonaro e o próprio Tarcísio.

Esta direita radical populista rachou o antipetismo em São Paulo, Curitiba, Goiânia, Belo Horizonte, Fortaleza e provavelmente terá um candidato a presidente em 2026. Pode ser o próprio Marçal ou, se ele for julgado inelegível, “um Marçal”. Onde existe demanda, sempre haverá um produto.

Continua após a publicidade

Analisando a ambiguidade de Jair Bolsonaro em relação a Marçal, o professor Pablo Ortellado escreveu em O Globo, no sábado: “Desde 2018, foi a primeira vez em que ele (Bolsonaro) enfrentou uma ameaça real à sua hegemonia na direita. Isso o levou a um movimento de vaivém com Marçal. Quando Nunes resistia a abraçar o bolsonarismo na campanha, Bolsonaro dizia que Marçal era capaz e bem-intencionado. Depois, reafirmou o apoio a Nunes, mas de maneira discreta, sem correr o risco de alienar os eleitores conservadores que já haviam consolidado posição a favor do empresário (Marçal). (…) Houve, assim, duas ambiguidades estratégicas. De um lado, a de Bolsonaro, que apoiava oficialmente Nunes, mas não deixava de expressar simpatia por Marçal. De outro, a de Marçal, que desobedecia a Bolsonaro, mas em tese apenas para melhor realizar a missão bolsonarista. No cruzamento das duas ambiguidades estão os eleitores de Bolsonaro que votaram em Marçal. São eles que poderão definir o futuro do movimento conservador”.

A peça de Aristófanes conclui com um debate entre o populista radical (o vendedor de salsinhas) e o populista tradicional (o rei Cleon, personagem verdadeiro desafeto do autor da peça). Eles trocam ataques mútuos que lembram muito os confrontos da eleição paulistana. “Vou esfolá-lo e fazer uma bolsa de ladrão com a pele”, diz um, “Vou arrancar seus cílios”, responde o outro. Ao final, o vendedor de salsinhas vence o debate ao se gabar de que é capaz de “fazer uma promessa falsa sem sorrir, mesmo depois de um roubo”, um símbolo do suprassumo da hipocrisia.

O populismo mudou pouco nos últimos 2.500 anos.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (menos de R$10 por revista)

a partir de 39,96/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.