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Thomas Traumann é jornalista e consultor de risco político. Foi ministro de Comunicação Social e autor dos livros 'O Pior Emprego do Mundo' (sobre ministros da Fazenda) e 'Biografia do Abismo' (sobre polarização política, em parceria com Felipe Nunes)
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Jogar dinheiro de helicóptero não resolve

Sem a política tradicional, presidente não força um segundo turno

Por Thomas Traumann Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 27 jun 2022, 10h00

Se nada for feito, Bolsonaro perde. Mas o que Jair Bolsonaro pode fazer? A ideia inicial dos seus assessores é jogar dinheiro do helicóptero, na clássica definição de Milton Friedman para os benefícios diretos ao cidadão. Nesta semana, o senador Fernando Bezerra, relator da chamada PEC dos Combustíveis, incorpora uma emenda que aumenta de R$ 400 para R$ 600 o valor do Auxílio Brasil oara R$ 18,1 milhões de famílias, aumenta o valor do vale-gás de R$ 53 para R$106 para 5,5 milhões de pessoas e cria um auxílio de 1 mil reais por mês para cerca de 900 mil caminhoneiros.

As bondades com dinheiro público teriam validade até dezembro, embora até as emas do Palácio Jaburu sabem que esses valores serão incorporados para sempre. O valor inicial previsto é de R$ 35 bilhões, equivalente ao que a União arrecadou com a venda do controle da Eletrobras.

É uma das mais claras manobras eleitoreiras com dinheiro público que o Brasil já viveu – apesar de seu longo e rico histórico neste campo, desde o Cruzado de Sarney (1986), o câmbio de FHC (1998) e o tarifaço de Dilma (2015). De acordo com a Lei das Eleições (Lei 9504/1997), é proibido em ano eleitoral a distribuição gratuita de bens, valores ou benefícios por parte da administração pública, o que contempla auxílios como o do governo federal ao não ser que o governo considere que há um “estado de emergência”. Mesmo que a pressão popular leve a Justiça a autorizar o reajuste, o trâmite pode fazer a decisão demorar mais de um mês, reduzindo o benefício eleitoral para Bolsonaro.

Essa relação de causa e efeito, no entanto, não é garantida. Quando as pesquisas repartem os eleitores entre os que recebem e os que não recebem o Auxílio Brasil, a vantagem de Lula sobre Bolsonaro cresce. Na pesquisa PoderData, Lula tem 17 pontos percentuais de vantagem entre os beneficiários do Auxílio, ante 10 pontos percentuais entre toda a sociedade. A diferença pró-Lula entre os mais pobres é a nêmesis de Bolsonaro.

Se não são os pobres, quem?

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Bolsonaro já consolidou uma maioria entre os eleitores evangélicos, militares e no agro. Ele pode aumentar a vantagem com os vídeos acusado Lula de “promover o aborto” ou “preparar para soltar presos do PCC”, mas esse discurso que ganhou tantos brasileiros em 2018 não tem mais o mesmo vigor. Mesmo as ameaças de golpe, que ganharam mais substância com a escolha do general Braga Neto como candidato a vice, tem apoio limitado aos fanáticos de sempre. Evangélicos, agro, golpistas e antipetistas formam um contingente grande do eleitorado, mas não os 51% necessários para ganhar as eleições no voto.

A solução para Bolsonaro, ironicamente, está na política. Bolsonaro tem candidatos a governador liberando no Sul e no Centro-Oeste e, não por coincidência, ele empata ou supera Lula nesses estados. Ao mesmo tempo, ele é massacrado no Nordeste, onde o único candidato bolsonarista com chances é o Capitão Wagner, no Ceará. O jogo vai ser decidido em São Paulo, Minas e Rio, onde estão 45% dos eleitores.

A melhor alternativa para Bolsonaro tentar virar a tendência pró-Lula é ajudar no crescimento das suas candidaturas nos estados mais populosos. Só que a articulação política de Bolsonaro é tão caótica, que ele vai precisar trabalhar para fazer essa guinada.

Em São Paulo, o candidato bolsonarista é ex-ministro Tarcísio Freitas, que varia entre o segundo e o terceiro lugar nas pesquisas e sofre com a impopularidade do presidente no Estado. Em entrevista ao jornal Estado de São Paulo, o ex-ministro Tarcísio Freitas foi cauteloso ao falar do padrinho político. “Bolsonaro ajuda, mas somos pessoas diferentes, com perfis diferentes. Eu tenho uma cultura muito voltada para o resultado. Não mantive uma postura ideológica na condução do Ministério da Infraestrutura. Sempre tive uma postura muito pragmática”, disse.

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No Rio de Janeiro, o líder nas pesquisas é o governador bolsonarista Claudio Castro, mas ele tem mantido uma distância regulamentar do presidente. “Sou apoiador do Bolsonaro, nunca neguei o alinhamento a ele, mas não vou criticar o Lula porque estou preocupado com o estado. Enxergo com pragmatismo. Meu papel é falar do Rio e não quero nacionalizar a eleição estadual”, disse o governador.

Em Minas, Bolsonaro lançou um candidato sem chances, o senador Carlos Vianna. O líder nas pesquisas, o governador Romeu Zema, do partido Novo, tenta mineiramente se equilibrar. “Nós temos um candidato a presidente, que é o Luiz Felipe d’Avila, e o meu apoio é ao partido, é ao candidato do partido. Eu tenho essa lealdade do partido e estarei me relacionando muito bem, tendo o melhor contato possível com o futuro presidente do Brasil, possa ser ele o Bolsonaro, possa ser ele o Lula”, disse Zema.

Bolsonaro venceu em 2018 sem apoios de candidatos a governador, mas essa realidade não existe mais. Ele só conseguiu chegar ao quarto ano de mandato porque trouxe o PP, o PL e o Republicanos para dentro do comando do governo. Agora, para recuperar suas chances eleitorais vai precisar dividir o poder e os palanques com os candidatos a governo. Isso é mais difícil do que jogar dinheiro de helicóptero, mas pode ter resultados melhores.

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