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Thomas Traumann

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Thomas Traumann é jornalista e consultor de risco político. Foi ministro de Comunicação Social e autor dos livros 'O Pior Emprego do Mundo' (sobre ministros da Fazenda) e 'Biografia do Abismo' (sobre polarização política, em parceria com Felipe Nunes)
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Guedes e voo da galinha

O crescimento de 2021 vem acompanhado de inflação e sem emprego

Por Thomas Traumann Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 1 jun 2021, 15h03

A economia teve um resultado muito melhor que o esperado no primeiro trimestre, o índice da Bolsa de Valores de São Paulo bateu recorde, o dólar caiu, houve recorde de entrada de recursos estrangeiro e tem gente na Faria Lima e na Esplanada dos Ministérios cantando o clássico “Juízo Final”, de Nelson Cavaquinho: “O sol há de brilhar mais uma vez…”. Há motivos reais para a comemoração porque todos os setores cresceram, incluindo o de serviços. Liderada pela China e EUA, a economia mundial está vivendo um boom pós-pandemia e o Brasil, ao contrário do que todo o mercado supunha no início do ano, vai crescer também. Mas como evitar que este crescimento não seja apenas um voo de galinha, aquele espasmo de alta que se sustenta por alguns meses e depois cai?

Para começar é precisar separar o que desse crescimento do PIB é apenas efeito estatístico, porque ano passado foi um desastre, e o que é sustentável. A parte do copo meio cheio é a que depende da exportação de commodities, como ferro, carne, soja e milho. O copo meio vazio é que este crescimento do PIB vem sem geração de emprego e com inflação. O País tem 14,5 milhões de desempregados e mesmo os otimistas não enxergam melhora daqui para frente.

A tendência da inflação não é boa. Como tem demanda externa, os produtores aumentaram os preços dos alimentos em mais de 30% em média no último ano. Isso significa que o Brasil deve fechar esse ano com uma inflação entre 7% e 8%, a maior desde 2015.

De todos os erros que o ministro Paulo Guedes cometeu, e não foram poucos, nenhum é tão danoso para a economia quanto o de não ter interferido para encomendar vacinas o mais cedo possível. Se o Brasil estivesse vacinando num ritmo razoável, era possível confiar na recuperação do comércio e da indústria. Sem a vacinação em massa, seguimos alvos de novas variantes e ondas da Covid-19 que podem jogar por terra o crescimento previsto.

Entre o copo meio cheio da turma do agro e da Bovespa e do copo meio vazio dos mais pobres há as chuvas. Os reservatórios estão em níveis críticos e se não houver chuvas acima da média neste inverno, poderá faltar água. No viés mais otimista, as chuvas vão chegar e o pior que vai acontecer é um aumento na energia elétrica _ o que vai aumentar a inflação. No cenário pessimista, pode haver racionamento de energia e de água para indústrias e fazendas de irrigação.

Porque existem tantas variáveis, o otimismo com o PIB desde ano deve ser cauteloso. Como a base de 2020 é baixa, o resultado deve ficar acima de 4%, mas nada assegura que esse ritmo se sustente. Para o ano que vem, a previsão do mercado é de 2,25%, ante uma expectativa de 2,31% feita no mês passado. A diferença entre um voo de galinha e um voo sustentável vai estar nas chuvas e na vacinação.

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